terça-feira, 11 de novembro de 2014

Amargos de boca



Já há algum tempo que não escrevia neste espaço sobre comida. Não que não seja um dos meus temas favoritos, mas com esta história da crise, limitei em muito as saídas gastronómicas.

No entanto, volta e meia, é preciso ir até um restaurante, local perfeito para uma reunião ou conversa. Foi o que aconteceu esta segunda-feira.
Confesso que até fiquei animada com a escolha, porque se tratava de um espaço novo, na Aldeia de Paio Pires, que bem precisa de restaurantes que atraiam pessoas. De fora um aspecto impecável, um menu atraente e com preços que pareciam em conta.
No interior, uma decoração sóbria mas bonita, e muita simpatia. À espera na mesa já estavam algumas entradas (um dia destes algum destes restaurantes vai ter problemas, porque segundo a lei, as mesmas colocadas em cima da mesa sem serem pedidas são consideradas como ofertas...).
Pedimos então o que pensávamos ser uma dose, tendo-nos sido explicado que no cardápio o preço era referente a 1/2 dose apenas. Ok, algo um pouco menos simpático, tendo em conta o tipo de informação prestada no exterior.
Avançámos então para uns «miminhos assados com bacon e migas de broa».
Primeiro que tudo, o nome do prato era maior do que a dose servida. Uns bocaditos de carne, embora bem temperados e grelhados, cobertos por duas fatias de bacon que nem sequer tinham sido apresentadas à chapa quente e que na sua extensão, cobriam completamente os tais «miminhos».
As migas, sem sequer terem levado um bocadito de poejo que lhes dá o gosto característico, eram de tudo menos de broa. Vinham sim muito bem enformadas.
Verduras ou algo semelhante, nem vê-las.
Ao lado, o terceiro comensal deste almoço, pedira umas iscas com batata frita.
Talvez por se tratar de um corte de carne mais barato, as ditas vinham servidas com maior abundância.
Foi muito triste constatar que, numa altura de crise profunda no sector da restauração, ainda há quem brinque com estas coisas. Sim, porque aquilo que ontem me foi servido mais não era do que uma brincadeira.
Sinceramente, fiquei extremamente desiludida. Não voltarei lá nem recomendarei, porque fiquei literalmente com um «amargo de boca»...

sábado, 8 de novembro de 2014

Princípios, meios e fins

A conjectura de crise em que Portugal está mergulhado leva a que a cada dia que passa encerrem empresas de todas as dimensões.
E as que vão resistindo enfrentam um autêntico muro de adversidades levantado por um Estado que devia ser o primeiro a incentivar a iniciativa privada, a verdadeira alavanca do desenvolvimento económico.
A comunicação social não é alheia a esta situação, e neste meio tanto soçobram os pequenos meios ao nível regional e local, como as grandes multinacionais.
Ainda esta semana foi feito o anúncio de que a revista GQ Portugal, editada pela Cofina, iria sair das bancas. Outras já foram descontinuadas e mais serão.
Falta de qualidade? Na maior parte dos casos, não. Apenas uma descida acentuada nas vendas de publicidade, principal meio de subsistência dos meios de comunicação social.
Vem isto a propósito do anúncio que um vereador fez ontem na reunião camarária do Seixal, onde informou que o outro título que é distribuído neste concelho está suspenso por tempo indeterminado.  
Em termos jornalísticos, isso traduz-se por uma perda para a população deste concelho, tendo em conta que por muito que tentemos, raramente um jornal local consegue abarcar todos os eventos locais, sobretudo num concelho com uma actividade cultural e desportiva como o Seixal.
A existência de mais do que um jornal local permite uma maior abrangência, que se traduz num leque muito mais alargado de informação para a população.
Frisei a questão jornalística porque se nesta lamento a suspensão do referido título (também por uma questão de respeito para com os jornalistas), já em termos concorrenciais no que respeita ao mercado publicitário não posso dizer o mesmo.
A concorrência quando é saudável e leal, faz-nos tentar fazer melhor e conseguir chegar mais longe. E, acima de tudo, há algo que nunca se pode desrespeitar: os anunciantes.
Infelizmente neste mercado há quem considere que essa é a única forma de conseguir, não sobreviver porque sendo inteligente saberá que isso é algo que ditará a sua morte a médio ou até a curto prazo, mas aniquilar os outros meios.
Não me vou alongar sobre este assunto, que já foquei aqui, apenas dizer que ninguém pode enganar todos durante todo o tempo.
Da minha parte, só posso olhar com tristeza esta “suspensão”, sobretudo porque sei dar o valor do que é lutar diariamente por trazer a público a melhor informação, dando o melhor de nós em nome de algo que se acredita.
Sobretudo quando dentro de dias o meu jornal irá completar sete anos de existência, de uma longa mas também muito frutuosa luta, de um longo caminho que, queremos acreditar, ainda vai no seu início.

P.S. - Mais uma crónica minha no Diário do Distrito.