sábado, 25 de abril de 2015

De luto ou a forma como os ditos "democratas" querem calar a imprensa



Na semana em que por todo o país se agitam os esplendores do 25 de Abril e os partidos do Centrão ameaçam a imprensa com sanções e com censura no âmbito da cobertura das campanhas eleitorais, o jornal que dirijo viu um anúncio da Câmara Municipal do Seixal ser adjudicado e depois anulado.
Pelo meio, uma entrevista polémica, com acusações sérias à autarquia, que optou por não responder quando contactada para realizar o contraditório.
Não responder? Bem...

Na semana em que se celebra a passagem de 41 anos sobre a Revolução dos Cravos, alguns jornais estão de luto.
O Diário do Distrito e o Comércio do Seixal e Sesimbra apresentam as suas edições online e em papel com uma faixa negra e com uma edição a preto e branco, respectivamente.
Não é coincidência, embora o tenha sido a forma que ambos os jornais pensaram para mostrar a sua revolta.
E esta revolta dirige-se às autarquias do distrito que fazem questão de ignorar os órgãos de comunicação social locais e regionais (ou alguns), no que respeita à distribuição de publicidade.
Trabalhando de perto, é fácil sabermos o que se passa com a maior parte dos jornais.
E também o que as autarquias decidem fazer.
Esta não é uma questão de agora nem unicamente no distrito de Setúbal.
Mas não deixa de ser curioso que a maior parte das Câmaras Municipais do distrito, pertencentes a um partido político que historicamente sempre elevou a voz em prol dos trabalhadores e das micro e pequenas empresas, sejam as próprias a tentar assim cortar um dos meios de subsistência da comunicação social local e regional.
Todos sabemos que a economia está em crise, que as empresas locais evitam todo o tipo de despesas, logo, cortam com o supérfluo que no caso pode ser a publicidade em jornais ou rádios.
Por esse motivo, qualquer publicidade vinda de uma entidade estatal, é crucial para os órgãos de comunicação social.
Mesmo quando levam mais de cinco meses para efectuarem o pagamento.
Mas não é assim que acontece.
Nas alturas em que são contactados para inserirem um simples anúncio de saudação ao 25 de Abril, as respostas são: «não há dinheiro» (embora uma simples visita ao site BASE do Governo dê para vermos alguns investimentos em ajustes directos que bradam aos céus ou haja dinheiro para inserir esses anúncios em canais televisivos), «não queremos fazer» ou simplesmente nem se dignam a responder.
No entanto, todas essas Câmaras têm pessoas ou departamentos dedicados a enviar notícias e fotografias daquilo que querem que esses meios de comunicação divulguem.
E esperam sempre que os órgãos estejam presentes para fazer a cobertura das suas iniciativas, sejam elas reuniões com a população ou inaugurações em tempo de eleições.
Como é óbvio, a função principal de qualquer órgão de comunicação social é informar os seus leitores. E se for local ou regional, tem o dever de divulgar o que acontece no meio em que se insere.
Mas não tem qualquer obrigação de o fazer serviçalmente, como muitos desejariam.
Terá de apresentar essas inaugurações e os eventos desportivos e culturais, da mesma forma que relatará os erros de gestão autárquica, os problemas da população, os desejos e as promessas não cumpridas.
E é isto que muitos políticos detestam.
Que a população tenha acesso a informação que não controlam, que não mostra apenas o lado bonitinho que se esforçam por apresentar em boletins municipais.
E portanto, mostram o seu poder retirando por completo a publicidade a determinado meio, na maior parte das vezes passando-a para outro jornal, de forma descarada e obscena.
Poderá o leitor pensar que «mas afinal, se dizem mal da Câmara Municipal X ou Y, o que esperavam?»
O que o caro leitor pode não saber é que as Câmaras Municipais estão obrigadas pela Lei das Autarquias Locais (Lei n.º 169/99 revogada pela Lei 5-A/2002), no artigo 91.º, a publicar «as deliberações dos órgãos autárquicos bem como as decisões dos respectivos titulares (…) nos jornais regionais editados na área do respectivo município, nos 30 dias subsequentes à tomada de decisão».
Agora, procure nos jornais locais e veja se encontra nestes a publicação destes dados.
Deviam também as Câmaras Municipais publicar os dias em que decorrem as reuniões camarárias e as Assembleias Municipais. Mas não o fazem.
É que este é também um exercício de cidadania de que as autarquias, não cumprindo a lei, privam o caro leitor.

Crónica semanal no Diário do Distrito.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

«Ninguém vem levantá-lo do chão»

Já o disse neste espaço que a vida de jornalista nos leva a ter de lidar com todo o tipo de situações. E nenhuma, seja ela a mais simples ou a mais complexa, nos deixa indiferentes.
E o mais difícil é isso mesmo, criar uma separação entre o jornalista que relata e a pessoa que assiste ou escuta o que terá de relatar.
Como podemos ficar impávidos perante um acidente onde ouvimos gritos, aflição e até podemos assistir à morte? Essa será uma situação que nos perseguirá por anos, acordando-nos à noite entre pesadelos e suores frios.
Como ficar impassíveis se assistimos a uma cena em que a polícia carrega sobre manifestantes, quando sabemos que a luta dessas pessoas é justa?
Além dos factos, existe outro aspecto muito importante desta profissão: as entrevistas.
Fica-nos sempre algo de todas as pessoas com quem estamos, que perdem uns minutos ou umas horas da sua vida a falar connosco.
E quem afirmar o contrário não é um jornalista, é um jornaleiro.
Seja por uma frase, um gesto, ou até algo que nos desagradou profundamente em determinada pessoa, a marca fica lá, um pouco à semelhança dos autocolantes de hotéis que antigamente os viajantes faziam questão de exibir nas suas malas de viagem.
E se a maioria das pessoas só se abre quando fala directamente connosco, permitindo-nos conhecê-la aos poucos, outros há de quem já podemos ter uma ideia pré-concebida, o que por vezes nos dificulta o trabalho.
Como é óbvio, se entrevistar um confesso autor de um crime, sou humana, e não o poderei olhar compassivamente. Mas tentarei o meu melhor para que me diga o que o levou a fazer algo assim.
E depois há aquela entrevista para a qual vamos com determinada convicção, porque o entrevistado foi exposto e condenado em praça pública e porque durante anos ouvimos o mesmo refrão relativo a determinada pessoa, que durante esse tempo se recusou a falar publicamente.
De repente, ali a temos à nossa frente. Disposta a falar, a mostrar que aquilo em que durante anos nos quiseram fazer acreditar, afinal não é tão linear como isso.
Que há mais do que a simples história do «Era uma vez».
É verdade, estou a referir-me a uma entrevista que publiquei esta semana no meu jornal e que o Diário do Distrito irá também publicar.
Foi uma entrevista que aguardei durante seis anos.
E foi uma das entrevistas que mais me surpreendeu. Pela pessoa entrevistada, pelo que foi revelado e, sobretudo, pelas reações que provocou.
Isto porque se tratou de uma entrevista com uma pessoa que teve elevados cargos e, de um momento para o outro, a sua situação de poder deixou de existir.
Mas o que me levou a colocar este título tem a ver com os versos da minha canção favorita de José Afonso, «Vejam Bem», quando esta refere: ‘E se houver / uma praça de gente madura / ninguém vem levantá-lo do chão / ninguém vem levantá-lo do chão’.
Isto porque as tais reacções que li num grupo do facebook onde a entrevista foi partilhada foi precisamente a de quem vê alguém caído no chão e nada faz para o levantar, antes virando costas ou, pior ainda, atirando-lhe pedras.
Sei que como jornalista não posso, ou não devo pronunciar-me depois de ter publicado seja o que for. Mas «raios me partam» se um dia deixar passar por mim, como a água do chuveiro, aquilo que me revolta, sobretudo quando isso roça a cobardia.
A cobardia com que os fracos se revoltam contra o gigante que caiu, mas a de quem fugiam quando este estava de pé. A cobardia de quem usando impunemente um computador aproveita para insultar. Mas sobretudo a cobardia de manada, de quem prefere continuar a acreditar no «credo» que lhe foram incutindo, porque acha que pensar é um exercício demasiado difícil.

Mais um texto meu no Diário do Distrito.

domingo, 5 de abril de 2015

«Comentadores de sanita»

 
À primeira vista pode parecer ao meu leitor que este é um termo chocante e pouco educado.
No entanto, é o único termo que me ocorre quando ouço ou leio determinados senhores ou senhoras que, «do alto das suas tamanquinhas» se põem a debitar os mais diversos disparates nos órgãos de comunicação social.
É vê-los na televisão, nos jornais ou nas rádios a falarem, falarem e falarem, com tal vazio de ideias que nos leva a indagar se o farão apenas para ouvirem o som das suas próprias vozes ou verem a sua imagem no ecrã televisivo ou nas páginas dos jornais.
Claro que nestes não incluo os que realmente sabem aquilo sobre o que estão a falar, os verdadeiros comentadores, aqueles que com poucas palavras nos dão verdadeiras lições de vida, levando-nos a reflectir sobre o mundo que nos rodeia.
O tal «comentador de sanita» que refiro é aquele que, jactante da sua importância, não tem nada a dizer, mas nem se importa com isso, até porque, muitas das vezes, limita-se a colocar o nome por baixo do texto ou a dar a voz para ler alguma coisa que um assessor ou secretário lhe escreveu.
O que lhe importa é que a sua fotografia seja impressa ou a sua voz seja emitida numas quaisquer ondas de rádio ou televisão. O que importa é o «boneco».
E são tão vazios de ideias e tão cheios de vaidade que, quando os leitores do órgão de comunicação social para o qual “colaboram” se cansam de ler sempre o mesmo, acham sempre que a culpa não é sua, que os outros é que são ‘incultos’, que os outros é que não os mereciam.
Alguns deles, em desespero de causa, agarram-se então para um tema que sabem irá tocar uma larga camada da população. Os direitos dos animais.
Isto parece ter sido uma moda iniciada por um certo comentador com a situação do cão Zico. A partir daí, muitos mais aproveitaram acontecimentos ligados com animais para lançar considerações estapafúrdias que tocam de perto quem defende os animais, sabendo que as suas declarações serão partilhadas e comentadas, alcançando assim os quinze minutos de fama que tanto almeja.
Infelizmente, há meios de comunicação social nacionais que ainda dão espaço a certos destes «comentadores de sanita», sabendo também que este tipo de conflitos que são gerados são a única forma de retomarem alguma da popularidade que tiveram no passado.