terça-feira, 8 de novembro de 2011

«Boa noite, Carminha»


Ontem chegava a minha casa, ou melhor, à casa da mãe, ali para os lados do Cavadas, quando me cruzei com uma vizinha, que logo disparou um «Boa noite, Carminha».
Sorri e respondi à saudação.
Mas este breve momento fez-me pensar nestes tempos tão agitados, onde a maior parte das pessoas caminha de olhos postos no chão, quase no receio de que o seu olhar se cruze com alguém conhecido e tenha de parar e perder dois ou três minutos com a tal «conversa de conveniência».
Mais do que isso, perdeu-se este sentimento de quase pertença, de ouvirmos os vizinhos tratar-nos pelo nome de criança, a Carminha, a Luzinha, a Aninhas, o Carlitos.
Perdeu-se mas ainda se mantém em locais como o «meu» Cavadas.
Tive um colega de trabalho que morava para os lados de Telheiras e me dizia que nem os vizinhos do mesmo andar conhecia.
Acho isto de uma frieza brutal. 
Será a vida de hoje assim tão febril que nem tempo há para vermos, ao menos no elevador, quem são os que habitam debaixo do mesmo telhado?

E lembrei-me também de como ainda continuam diferentes as ligações entre as pessoas. Recentemente voltei ao Pedrógão de S. Pedro, Penamacor, passar um fim-de-semana na casinha que lá temos e apanhar azeitonas no pequeno «chão» herdado dos avós.
Agora já não me incomoda, mas há uns bons vinte anos, quando comecei a ir até lá com frequência, estranhava que as pessoas parassem no meio da rua e sem mais delongas me viessem perguntar «a quem pertenceis?».
Tenho levado lá amigos a passar uns dias, e já os avisei disso, e expliquei que quando assim interpelados, devem responder que estão com a filha da Angélica, irmã da Ana Mocas. E os transeuntes ficam assim com a sua curiosidade satisfeita, porque têm necessidade de ligar uma cara desconhecida a alguém familiar.
È este sentimento de pertença que se perde a cada dia que passa, e que creio, nunca irá ser recuperado num tempo em que parece ser mais importante o tamanho do carro que se conduz do que a família ou aldeia de onde se provém.
Quanto a mim, de cada vez que me saudarem com um «Olá Carminha», vou ficar extremamente feliz, porque sei que estou em «casa».

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