Esta semana, um dos «casos» no meio da comunicação social foi o facto de a editora Condé Nast, que publica títulos como Vanity Fair, Vogue, GQ ou The New Yorker, anunciar que os seus jornalistas vão passar a produzir conteúdos para os anunciantes.
E isto parece ter chocado muita gente, a ver pelas reacções que despoletou.
No entanto, e na realidade portuguesa que conheço, o que fazem determinadas revistas de imprensa especializada senão a chamada «publicidade encapuçada»? Ao falar de um hotel, de uma marca de moda, de uma marca de pneus ou até de rebuçados, não estão a fazer publicidade? E as publireportagens? Acham sinceramente que as editoras têm um departamento para fazer unicamente a reportagem para determinado cliente sobre a abertura de um espaço ou lançamento de um produto?
E se não quisermos falar em marcas ou serviços, o que dizer das notícias ou reportagens de entidades estatais como ministérios ou câmaras municipais.
Há realmente uma linha que separa de forma clara a publicidade e o jornalismo? Então vejamos: quando um jornal publica uma noticia que uma entidade governamental ou autarquia lhe envia sobre, por exemplo, a abertura de um concurso para um espaço, não está a fazer também publicidade?
Mas e se essa entidade colocar a mesmíssima informação noutro jornal e pagar por ela ou o outro jornal exigir o pagamento pela sua publicação.
Em que ficamos então?
O que é e o que não é publicidade?
É uma linha ténue que por vezes da qual nem sempre sabemos de que lado estamos.
Por outro lado, depois de a direcção de um jornal ficar a saber que a entidade pagou para publicação de uma informação que este colocou graciosamente, terá legitimidade para daí em diante exigir à tal entidade o pagamento por cada informação que publicar?
Tenho a noção que hoje lhe deixo mais interrogações do que informações. Mas este é também o «pão-nosso-de-cada-dia» dos jornais locais e regionais.
E colocando estas mesmas interrogações a si próprio, poderá compreender melhor determinadas tomadas de posição das direcções de muitos jornais.
É que o Sol quando nasce deve de ser para todos. E todos temos de comer todos os dias, apesar de alguns senhores acharem que só eles é que têm direito à comida no prato e o que os outros andam por cá a viver da luz do Sol.
Esta foi mais uma das minhas crónicas no Diário do Distrito, inspirada na reunião de câmara que teve lugar ontem no Seixal, sempre uma fonte de "inspiração" quinzenal...