sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Há realmente limites?


Esta semana, um dos «casos» no meio da comunicação social foi o facto de a editora Condé Nast, que publica títulos como Vanity Fair, Vogue, GQ ou The New Yorker, anunciar que os seus jornalistas vão passar a produzir conteúdos para os anunciantes.
E isto parece ter chocado muita gente, a ver pelas reacções que despoletou.
No entanto, e na realidade portuguesa que conheço, o que fazem determinadas revistas de imprensa especializada senão a chamada «publicidade encapuçada»? Ao falar de um hotel, de uma marca de moda, de uma marca de pneus ou até de rebuçados, não estão a fazer publicidade? E as publireportagens? Acham sinceramente que as editoras têm um departamento para fazer unicamente a reportagem para determinado cliente sobre a abertura de um espaço ou lançamento de um produto?
E se não quisermos falar em marcas ou serviços, o que dizer das notícias ou reportagens de entidades estatais como ministérios ou câmaras municipais.
Há realmente uma linha que separa de forma clara a publicidade e o jornalismo? Então vejamos: quando um jornal publica uma noticia que uma entidade governamental ou autarquia lhe envia sobre, por exemplo, a abertura de um concurso para um espaço, não está a fazer também publicidade?
Mas e se essa entidade colocar a mesmíssima informação noutro jornal e pagar por ela ou o outro jornal exigir o pagamento pela sua publicação.
Em que ficamos então?
O que é e o que não é publicidade?
É uma linha ténue que por vezes da qual nem sempre sabemos de que lado estamos.
Por outro lado, depois de a direcção de um jornal ficar a saber que a entidade pagou para publicação de uma informação que este colocou graciosamente, terá legitimidade para daí em diante exigir à tal entidade o pagamento por cada informação que publicar?
Tenho a noção que hoje lhe deixo mais interrogações do que informações. Mas este é também o «pão-nosso-de-cada-dia» dos jornais locais e regionais.
E colocando estas mesmas interrogações a si próprio, poderá compreender melhor determinadas tomadas de posição das direcções de muitos jornais.
É que o Sol quando nasce deve de ser para todos. E todos temos de comer todos os dias, apesar de alguns senhores acharem que só eles é que têm direito à comida no prato e o que os outros andam por cá a viver da luz do Sol.
Esta foi mais uma das minhas crónicas no Diário do Distrito, inspirada na reunião de câmara que teve lugar ontem no Seixal, sempre uma fonte de "inspiração" quinzenal...

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

De Quem e Onde é a notícia?


E eis que entrámos em mais um ano, 2015. As esperanças renovam-se num mundo melhor.

Mas logo nos chegam imagens que "chocaram" o mundo.
Homens encapuzados entram numa revista e matam os seus trabalhadores. De seguida, mais pessoas são mortas num ataque a um supermercado. Tudo isto se passa em França.
A violência gera um movimento em massa, no mundo, nas redes sociais, no país. Milhares manifestam-se nas ruas.
Menos chocado ficou o mundo com a morte de perto de duas mil pessoas, número ainda não contabilizado, em Baza, na Nigéria.
Ficamos a saber da notícia quase e só no final de um noticiário, ou nas páginas de «Lá Fora» dos jornais.
Mesmo que as imagens que nos chegam sejam bem mais chocantes, o nosso coração estará mais perto de «Charlie»

Esta é uma regra do jornalismo: é mais importante e toca-nos mais aquilo que está mais perto de nós, quer fisicamente quer por afinidade.
Quem, ao passar os olhos por um jornal, não se deteve a ler uma notícia que fala da sua terra, da terra dos seus pais ou até numa localidade onde almoçou ou passou férias?
Chama-se a isto o princípio da proximidade.
Quanto mais próximo ocorrer um acontecimento, mais probabilidades tem de se tornar notícia. A proximidade pode ser uma escolha feita pela redacção ou pelos jornalistas, antes de editarem os jornais ou noticiários.
É por esse motivo que é muito mais visível nos meios de comunicação um atentado que ocorre num país da Europa, com alguns mortos, do que um atentado num país remoto de África.
Temos depois outro aspecto estudado nos manuais de jornalismo que também relativiza a notícia.
A proeminência das nações envolvidas nas notícias. Ou seja, quanto mais proeminentes forem as nações envolvidas num acontecimento internacional, mais probabilidades ele tem de se tornar notícia.
A França, país forte da Europa, tem uma relevância muito superior, em termos de noticia, que a Nigéria ou a Síria.
Não quer isto dizer que as notícias não sejam transmitidas. Mas quase de certeza não irão fazer primeiras páginas de jornais ou abrir um noticiário televisivo durante dias.
De seguida, existe outro factor que é ponderado no momento de transmitir a notícia ou de organizar o jornal. Trata-se do factor de proeminência social dos sujeitos envolvidos.
Quanto mais proeminentes forem as pessoas envolvidas num acontecimento, mais hipóteses este tem de se tornar notícia. Cartoonistas e trabalhadores de uma revista têm muito maior relevância social do que trabalhadores rurais.
Podem parecer cruéis estas minhas palavras, no entanto, basta pensar um pouco, olhar com olhos de ver as notícias que lhe chegam e não precisará de nenhum manual de jornalismo para comprovar o que aqui digo.

P.S. Mais uma das minhas crónicas no Diário do Distrito.