sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

De Quem e Onde é a notícia?


E eis que entrámos em mais um ano, 2015. As esperanças renovam-se num mundo melhor.

Mas logo nos chegam imagens que "chocaram" o mundo.
Homens encapuzados entram numa revista e matam os seus trabalhadores. De seguida, mais pessoas são mortas num ataque a um supermercado. Tudo isto se passa em França.
A violência gera um movimento em massa, no mundo, nas redes sociais, no país. Milhares manifestam-se nas ruas.
Menos chocado ficou o mundo com a morte de perto de duas mil pessoas, número ainda não contabilizado, em Baza, na Nigéria.
Ficamos a saber da notícia quase e só no final de um noticiário, ou nas páginas de «Lá Fora» dos jornais.
Mesmo que as imagens que nos chegam sejam bem mais chocantes, o nosso coração estará mais perto de «Charlie»

Esta é uma regra do jornalismo: é mais importante e toca-nos mais aquilo que está mais perto de nós, quer fisicamente quer por afinidade.
Quem, ao passar os olhos por um jornal, não se deteve a ler uma notícia que fala da sua terra, da terra dos seus pais ou até numa localidade onde almoçou ou passou férias?
Chama-se a isto o princípio da proximidade.
Quanto mais próximo ocorrer um acontecimento, mais probabilidades tem de se tornar notícia. A proximidade pode ser uma escolha feita pela redacção ou pelos jornalistas, antes de editarem os jornais ou noticiários.
É por esse motivo que é muito mais visível nos meios de comunicação um atentado que ocorre num país da Europa, com alguns mortos, do que um atentado num país remoto de África.
Temos depois outro aspecto estudado nos manuais de jornalismo que também relativiza a notícia.
A proeminência das nações envolvidas nas notícias. Ou seja, quanto mais proeminentes forem as nações envolvidas num acontecimento internacional, mais probabilidades ele tem de se tornar notícia.
A França, país forte da Europa, tem uma relevância muito superior, em termos de noticia, que a Nigéria ou a Síria.
Não quer isto dizer que as notícias não sejam transmitidas. Mas quase de certeza não irão fazer primeiras páginas de jornais ou abrir um noticiário televisivo durante dias.
De seguida, existe outro factor que é ponderado no momento de transmitir a notícia ou de organizar o jornal. Trata-se do factor de proeminência social dos sujeitos envolvidos.
Quanto mais proeminentes forem as pessoas envolvidas num acontecimento, mais hipóteses este tem de se tornar notícia. Cartoonistas e trabalhadores de uma revista têm muito maior relevância social do que trabalhadores rurais.
Podem parecer cruéis estas minhas palavras, no entanto, basta pensar um pouco, olhar com olhos de ver as notícias que lhe chegam e não precisará de nenhum manual de jornalismo para comprovar o que aqui digo.

P.S. Mais uma das minhas crónicas no Diário do Distrito.

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