O título deste artigo não tem a ver com a fábula de
Esopo. Antes tivesse.
Confesso que por vários motivos pessoais, esta semana
estive pouco atenta às notícias nacionais e estrangeiras. No entanto, algo me
tocou daquilo que foi sendo divulgado e, neste caso concreto, denunciado. Tratou-se da ‘Queima do Gato’, no caso uma gata, que foi queimada em nome de uma «tradição» em Vila Flor.
Quem me conhece, sabe que sou acérrima defensora dos direitos dos animais e me oponho de forma ferrenha a touradas e outros “espectáculos” que causem dor ou desconforto a animais. E são muitos os argumentos que tenho lido contra e a favor desses.
Mas não consigo encontrar nenhum argumento que sustente o horror que é manter um gato dentro de um pote, para depois lhe deitar fogo e divertirem-se meia dúzia de energúmenos com o sofrimento causado desta forma ao animal.
Em Ruivós, freguesia de Sabugal, a população juntou-se também para enterrar um galo e tentar acertar-lhe na cabeça, com uma enxada. Argumentam também a existência de uma «tradição» para este acto.
Podem alegar alguns que animais para consumo são mortos também.
É uma verdade, e por isso devemos todos exigir que o transporte e a matança seja efectuada sem causar danos aos animais.
Nas matanças de porco a que tenho assistido ao longo da vida, e quem a elas já assistiu sabe também que sempre se primou por evitar ao máximo o sofrimento do animal, até afastando do local pessoas que pudessem «ter pena do bicho, para que ele tivesse uma morte rápida».
Sempre vi familiares matarem coelhos e galinhas, e não encaro a carne que consumo como algo simplesmente saído dos frigoríficos de um supermercado.
Mas estes dois casos não são tradição nem cultura. É sadismo e barbarismo.
Pode ter sido assim no passado, mas as pessoas evoluem.
Veja-se o caso de Monsanto, onde atiravam um animal em
chamas pela encosta abaixo, numa antiquíssima tradição, que agora é substituída
por um pote a arder, ou o do enterro do galo do Entrudo em muitos pontos de
Portugal (noutros será o do chouriço ou do bacalhau), mas em que o animal vivo
foi substituído por figuras de papel. Tenho esperança que a nova legislação que pune crimes contra animais de estimação, puna severamente os autores do crime de Vila Flor (infelizmente o outro não o será, porque um galo não se enquadra na referida lei).
Sim, há outros crimes que podem ser mais graves, outros assuntos mais problemáticos, outros seres que sofrem.
Há, e por isso mesmo temos o dever de lutar por todos, por um mundo melhor para todos o que o partilham.
E embora tenha a certeza de que serão muito poucos os que podem criticar-me por esta defesa pública dos animais contra um acto que nada tem de tradição, peço a esses apenas um momento de reflexão sobre o assunto, e que se lembrem que quem pratica estes actos, também vota…
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