Um blogue de uma jornalista que já viu um pouco de tudo, usado para falar de qualquer coisa.
domingo, 18 de dezembro de 2016
Boas Festas!
E mais um Natal se aproxima, e um ano termina.
Um ano muito especial este, em que deixei uma 'coisa' que me prendia todos os movimentos, para integrar a cem por cento uma equipa fantástica, que já conseguiu levar o Diário do Distrito a ser o quinto jornal regional mais lido do país, segundo os dados da Marktest.
Uma equipa, que ao contrário do que certas... pessoas tentam dizer por aí, é constituída por profissionais reais, por jovens e menos jovens jornalistas que vestiram a camisola por aquilo que acreditam.
E regressei, de novo, a um jornal que não está vendido aos poderes instalados.
Fazemos o trabalho que temos de fazer, sem medos, sem constrangimentos e sem amarras.
Não somos boletins municipais (como alguns que já se esqueceram que no passado muito criticaram quem também se vendeu).
Não nos vendemos. Não nos calamos.
A foto que partilho é a da equipa do Diário do Distrito (e faltam ainda elementos) na sua festa de Natal.
Uma festa em que finalmente me diverti, em que me senti em família, ao contrário de outras, onde estava apenas para fazer número, sempre com receio de certas atitudes em público de gente descompensada, e em que não tive de aturar queixas embriagadas durante horas após a refeição.
Venha agora 2017 com tudo aquilo a que tenho direito!!!
quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
O fim ou o princípio de uma história
Já o disse inúmeras vezes que o trabalho de jornalista é a melhor e a pior das profissões.
De todas as histórias de que falamos, é necessário olhar tudo de alguma distância, de forma fria e lógica.
Sendo humanos, nem sempre isso é possível. Não conseguimos ficar indiferentes ao ouvir determinados discursos eivados de mentiras, nem impedir que o sangue ferva ao escrever sobre determinados temas.
No entanto, é nossa obrigação faze-lo. São os nossos olhos que vêm a história, é a nossa sensibilidade que escolhe as palavras, é a nossa razão que tece as ideias.
Mas e quando a história nos é próxima demais? Ou quando, ao contrário do que nos dizem todos os manuais e mestres professores, nos deixamos capturar pelos elementos dessa história?
Ao longo destes quase vinte anos de jornalismo, já me aconteceu isso.
Por várias vezes. E de todas elas me orgulho. Sim, há o profissionalismo, mas este nada é sem o lado humano com que também temos de olhar em nosso redor.
Como posso descrever um pôr-do-Sol, sem sentir o calor deste no rosto?
Por isso mesmo dizemos que todas as histórias que escrevemos, levam um pedacinho de nós.
E depois há aquelas histórias que realmente nos prendem, que não terminam quando desligamos o gravador ou guardamos a máquina fotográfica.
Ontem tive essa história.
Depois de ter conhecido um casal paquistanês, devido a uma avaria com o meu telemóvel, escrevi sobre o seu desespero por estarem há dois anos a aguardar vistos de residência e autorização para trazerem para Portugal os seus gémeos de 3 anos de idade.
O casal foi-me mantendo informada do processo e há uns dias, pediram-me que os acompanhasse ao SEF de Setúbal, para os ajudar como intérprete na reunião que lhes foi marcada (tendo em conta que o advogado a quem pagaram não quis ir).
Claro que acedi e confesso que ia muito nervosa, porque acreditava que podia ser o passo final que permitiria a reunião deste jovem casal com os filhos.
Durante uma manhã stressante, fomos conversando, brincando até para afastar o nervoso, com as horas a arrastarem-se.
A determinada altura, uma das funcionárias do SEF que se afadigava com o processo, vendo o nosso nervoso, disse-me: 'O processo dos meninos fica hoje concluído, e vão poder ir busca-los ao Paquistão'.
Virei-me para eles e naquele momento não encontrei palavras, eu que as uso todos os dias.
Como dizer a estes pais que o sofrimento de dois longos anos (em que aguardaram a conclusão do processo) iria terminar ali? Que daqui a dias podiam estar a abraçar os filhos e traze-los para Portugal?
Olhei para eles e creio que leram tudo isso na minha cara. Foi impossível não chorar. E rir de alívio.
À saída do SEF fizeram questão de abraçar as funcionárias, e o pai passou-me os papéis para as mãos. Quando lhe disse para os guardar, respondeu-me: 'Please, por favor, segura-os nas tuas mãos, porque foi a tua força que permitiu que isto estivesse agora a acontecer, e queremos que essa energia continue agora nestes papéis que vão para o Paquistão.'
Em Março estarei no aeroporto à espera dos dois pequenos gémeos, um menino e uma menina, que a mãe irá buscar.
Porque uma história nem sempre termina com a palavra 'FIM'.
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