terça-feira, 5 de julho de 2011

Os monstros

Como mulheres, um dos nossos maiores receios é o medo da violação.
Como mães, acredito, é que essa violação aconteça aos nossos filhos.
Porque depois, além da dor, é o sabermos que lidamos com pessoas que disso só têm a designação, porque não passam de monstros.

«Seis anos para polícia pedófilo
O agente da PSP acusado de ter abusado sexualmente da enteada, na altura dos factos com sete anos de idade, foi condenado, ontem, no Tribunal do Seixal, a seis anos de prisão efectiva e ao pagamento de uma indemnização de 20 mil euros à família da menor.
Condenado por oito crimes de abuso sexual e um de peculato de uso, que ocorreram entre 2006 e 2007, ao longo do julgamento L.T. apresentou sempre um "discurso de desculpabilização" e "não interiorizou a gravidade dos factos", acusou a juíza que o aconselhou ontem a procurar "tratamento médico".
O advogado dos pais da menor, Paulo Edson Cunha, disse ao CM que a "família sente que foi feita justiça". No entanto, realçou o facto de que a menor, agora com 12 anos, irá "ficar garantidamente mal, com sequelas para toda a vida". A jovem tem problemas de socialização e baixa auto-estima, lê-se no acórdão.»

Primeiro que tudo, os meus parabéns para o advogado de acusação, Paulo Cunha, um dos nossos mais antigos colaboradores no «Comércio», e amigo pessoal.
Numa altura em que não se acredita na justiça portuguesa, em que vemos ladrões saírem das prisões mesmo antes dos policias conseguirem completar a papelada burocrática, em que figurões gozam com os juízes, ver assim aplicada uma pena, é quase a excepção do que deveria ser a regra.

Depois, uma análise mais fria da sentença, ainda deixa um amargo de boca: então só levou uma pena assim “pesada” porque a) idade da menor, b) era agente da PSP, c) não revelou arrependimento sincero.
Então se a menor tivesse mais de dez anos, ele não fosse agente da PSP e revelasse arrependimento, qual seria a sentença para alguém que arruinou a vida de uma criança???
Mas há uma coisa que, de certa forma, nos deixa agradados. É que este monstro, além do facto que o levou a esta sentença, é também polícia. Duas coisas muito “apreciadas” dentro das prisões.
Que estes seis anos lhe sejam muito, muito pesados.

2 comentários:

Wundmal disse...

Porque os monstros existem e porque também podem chegar a nós, não há como agir e prevenir! E devemos começar bem cedo esclarecendo os nossos filhos! Uma boa conversa pode fazer alguma diferença, pois infelizmente lamentações depois de factos consumados são inúteis. Sete aninhos, pobre menina, que agora com 12 tem que crescer com estas memórias. Espero que consiga rodear-se de pessoas que a amem verdadeiramente e a ajudem a cicatrizar a alma. E o facto de o condenado continuar a fazer a sua vidinha normal, também não ajuda.
O meu filho de 9, iniciou-se recentemente na arte marcial de defesa pessoal – Krav Maga e a minha filha de 11 e provavelmente eu também, iremos juntar-nos a ele a partir de Setembro. Nos tempos que correm considero isto cultura geral! Há que ter cuidado com as pessoas de aparente normalidade mas de cabeça doente, que andam por aí… e mais grave: sem consciência do seu desvio! A minha mãe em criança, foi testemunha num caso de exibicionismo e chegou mesmo a ir a tribunal depor. Provavelmente só porque o meu avô era polícia é que o caso chegou à barra dos tribunais, mas na sala de espera onde vitimas e testemunhas da defesa se encontravam, ainda foi pressionada para ‘não dar cabo da vida do homem’… Coitados dos agressores sexuais, que ficam com as suas vidas afectadas… E as vitimas? Se não tiverem alguém competente e que se interesse verdadeiramente e que se bata por elas, não irão perder esse estigma nunca...

Maria do Carmo disse...

Concordo plenamente, cara Susana. O pior é que por vezes tenho a sensação de que mesmo praticando artes marciais, por vezes o mal pode chegar de onde menos esperamos.
Não consigo sequer imaginar a dor desta criança, tendo em conta que tudo o que nos acontece na infância fica indelevelmente marcado na nossa memória.
E sabendo ainda a enorme «lata» deste monstro durante o julgamento, não sei se como mãe não tomaria a justiça nas próprias mãos. Continua e irá continuar a fazer a sua vidinha pelo menos durante mais um ano, segundo me disse o advogado de acusação.
Que justiça é esta para com uma vítima inocente como esta criança?