Em dia de “Greve Geral”, tem havido algumas discussões interessantes pelo mundo da blogosfera e ainda mais pelo do facebook, que frequento.
Uma delas esteve em torno dos grevistas (alguns) não darem a outros o direito à não greve.
Lembro-me, quando o meu pai estava na Siderurgia Nacional e passou para a Lusosider, de ter ficado seis meses em greve pelos direitos que já tinha adquirido ao longo dos anos que trabalhou para a primeira, e que seriam perdidos com a passagem para a nova empresa.
Seis meses esses que incluíram Dezembro, sem que lá em casa houvesse praticamente dinheiro para comprar ovos para as filhoses, quanto mais para prendas. O que nos valeu foram os vizinhos. Nunca a minha mesa foi tão rica quanto nesse ano, com pratos de filhoses de todas as variedades, dados pelos vizinhos do meu prédio, que estavam a par da situação difícil que vivíamos.
Seis meses esses que incluíram Dezembro, sem que lá em casa houvesse praticamente dinheiro para comprar ovos para as filhoses, quanto mais para prendas. O que nos valeu foram os vizinhos. Nunca a minha mesa foi tão rica quanto nesse ano, com pratos de filhoses de todas as variedades, dados pelos vizinhos do meu prédio, que estavam a par da situação difícil que vivíamos.
E também não esqueço a prenda que a minha mãe lá nos conseguiu comprar: dois pequenos telefones de brincar verdes.
Mas vem isto a propósito das greves. Na altura, lembro-me que o meu pai dizia que uns quantos «fura-greves» não quiseram aderir e tudo faziam para impedir o protesto, mas depois da situação resolvida, foram os colegas que não os aceitaram de volta, tendo estes que pedir transferência para outros serviços.
Neste caso, ou porque os olhos que viam esta realidade fosse diferentes, tinha um ódio de morte aos «fura-greves», aos que não alinhavam com o protesto.
Mais tarde, como sindicalista, viria a sentir na pele o que é lutar pelos direitos de todos e sofrer as represálias como o despedimento, sem sequer um obrigado por parte daqueles que eu pensava estar a ajudar.
Tudo isto, e o facto de ter agora a minha própria empresa, me leva a encarar a greve como uma «palhaçada». E que me desculpem os de cravo vermelho ao peito (que a todos fica bem, como dizia o Zeca), mas ficar em casa a brincar no facebook ou ir passear para o Centro Comercial mais próximo não é protesto.
Protesto era irem todos até Lisboa, gritar bem alto à porta de S. Bento o que lhes vai na alma, entupirem os acessos à tal «Casa do Povo», e assustarem assim os senhores que ali ganham o seu sustento.
Isso era protesto.
Já agora, sou absolutamente contra os piquetes de greve. Se todos têm o direito de fazer greve, TODOS têm também o direito de não a fazer, mais não seja por não concordarem com os preceitos pela qual é feita.
E esses piquetes também estiveram ou vão estar hoje no Rio Sul Shopping e no Almada Fórum e no Barreiro Retail Park a insultar os empregados e os empregadores?
P.S. - Não fiz greve nem ninguém na minha empresa, porque as pessoas sabem que as coisas não estão fáceis e se não trabalharem não recebem, não porque eu não lhes pague, mas porque se não "produzirem" não haverá dinheiro para que eu lhes possa pagar os ordenados, já de si baixos.
Se calhar, este seria um bom tema de reflexão para quem tão alto grita sobre Direitos...
4 comentários:
Curioso este post, que demonstra a mudança de mentalidades, conforme a mudança de status...
Por mim tenho a dizer que, apesar de ser "patrão", aderi à greve, comunicando ao Tribunal que estava em greve e requerendo a desmarcação de um julgamento. Com orgulho digo que na minha sociedade de advogados todos fizeram greve e não foi preciso piquete de greve. A todos os que aderiram os meus parabens pois demonstraram ter consciência social. Os que não aderiram demonstraram ter responsabilidade na situação ao serem coniventes com a mesma.
Caro Paulo Silva, obrigado pelo seu comentário.
Primeiro que tudo, as minhas desculpas por só agora ter publicado.
Só um reparo, não se trata de mudança de mentalidade por mudança de status.
Mas é que ao contrário de si, como advogado, terá o seu salário ou remuneração certa, no meu caso, se não trabalhar não ganho, logo não posso pagar despesas da empresa ou ordenados do pessoal.
E isso para mim é que interessa, mais do que tomadas de posição que não levam a lado nenhum.
Em resumo, é fácil falar de barriga cheia.
Mas poderia ter também comentado sobre a falta de piquetes de greve à porta de Centros Comerciais como o Rio Sul Shopping ou o Almada Forum, onde muitos dos que demonstraram, nas suas palavras "consciência social", passaram grande parte do dia. Pelo menos, aqueles que não foram transportados em autocarros alugados para zonas de protestos.
Já agora, centros comerciais que estão para sempre abertos ao domingo, com a conivência das respectivas autarquias.
Não será muito mais grave e prejudicial para os pequenos negócios essa medida?
Se calhar, também eles poderiam organizar uma «greve geral» em protesto, mas não o farão, porque tal como eu e milhares de outros pequenos e médios empresários, sabem que um dia sem abrirem portas ou trabalharem, é um dia de prejuízos graves.
Claro que é muito fácil falar de consciência social e responsabilidades do alto das tamanquinhas...
Cara Maria do Carmo:
Não sei onde foi buscar a informação que os advogados têm salários e remunerações certas... Das duas uma, ou o advogado que conheceé uma excepção á regra, ou então não conhece a realidade da profissão de advogado. A verdade é que a generalidade dos advogados são profissionais liberais e por isso se não trabalham não ganham! Por isso, eu, tal como o seu pai quando fazia greve, por não ter trabalhado no dia da greve não recebi. Apesar disso tive de pagar despesas de empresa e ordenados do pessoal, por isso não falo "de barriga cheia"!!! E muito menos do "alto de tamanquinhas" que, como deve saber, não uso...
Caro Paulo Silva,
Não precisa de ficar tão chateado. É que eu também não sei onde terá ido buscar a informação que por eu ter mudado de estatuto profissional também mudei de mentalidade. Se calhar por causa de algum jornalista que também conhece...
Claro que não conheço a realidade da profissão de advogado, não o sou. Mas conheço sim vários, e que eu saiba nenhum fez greve. Se calhar porque para eles outros critérios se levantam.
Mas já que falamos do assunto, a sua opção de não ter ido ao julgamento que referiu (dentro claro, do seu direito à greve) não prejudicou terceiros, além da sua remuneração?
Sabendo como a justiça anda em Portugal, na certa que o tal julgamento que desmarcou não foi de imediato marcado para o dia seguinte.
Será que me dirá quem é que ficou beneficiado afinal com o seu "direito à greve"? Na certa, não os que aguardavam se calhar há vários meses pela marcação do julgamento...
Há outras formas de lutar.
Uma delas é, por exemplo, não pagar portagens.
Anarquia? Se calhar sim, mas não acha que seria muito mais prejudicial ao Governo ter de accionar judicialmente milhares de condutores para penhorar os carros?
Mas se calhar é mais fácil e cómodo fazer um aviso de greve ou apitar quando se passam nas portagens... Afinal isso é que passa nas notícias.
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