quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Acordar Abril


As férias passadas, a praia já quase como uma recordação, é altura para voltar ao tempo real.
É altura para olharmos para o que nos rodeia e à porcaria que nos estão a fazer. Sem fazer mais comentários sobre o desgoverno e a falta de democracia que enfrentamos, deixo aqui um texto que hoje transcrevia para a nossa rúbrica «Crónicas de Guerra», e que nos lembra a importância de voltar a fazer um 25 de Abril.
«2 horas da tarde. Estou no quarto a escrever estas linhas. De entre as cartas recebidas sobressai a carta da Lucília, escrita propositadamente para me descrever os últimos acontecimentos e cuja primeira página era isto: «Caro Amigo Marquês. Não podia nem queira deixar passar nem mais um dia sem te dizer os meus cordiais parabéns por nesta altura de vitória e liberdade que o país atravessa, envergares uma farda verde.
Farda essa que foi símbolo da morte e da discórdia, é hoje finalmente o símbolo da vitória, da liberdade e do fim do fascismo.
Os bravos soldados portugueses que viram a sua farda desacreditada e que aliás tinham vergonha de a envergar, hoje mostram-na vaidosos e vitoriosos.
Lamento, Marquês, não poderes viver connosco na metrópole estas horas de alegria e liberdade, ainda hoje me parece tudo isto um sonho e estou convencida que a grande maioria das pessoas está ainda com medo de despertar e encontrar uma realidade já passada.
Como me dá prazer sair à rua e, no Rossio, onde era hábito encontrar-se os polícias quando o povo pretendia fazer uma manifestação, encontrar agora dois ou três carros de assalto, dois «jeeps» da tropa e uma infinidade de tropas de farda verde ou azul, ornamentada com um cravo vermelho.
No cano das suas armas, (instrumento que muitos odiaram), encontra-se igualmente um cravo vermelho, como que a dizer-nos que aquele foi o instrumento que nos restitui a Primavera.
Custa realmente acreditar que tudo isto não seja um sonho.»
Infelizmente foi mesmo um sonho. Um sonho que por culpa de todos nós, nestes anos de "democracia", deixámos destruir. Agora procuramos novamente os «soldados de farda verde ou azul, com cravos vermelhos nos canos das armas», mas estes já não existem.
Esfumaram-se como tudo o que acontece nos sonhos.

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