quarta-feira, 16 de abril de 2014

Celebrar o quê?




Confesso que tenho andado um bocado cansada de tudo o que me rodeia. 
Da hipocrisia dos políticos, que fazem tudo o que lhes apetece; das medidas que são tomadas; de um povo que grita por Liberdade mas perde mais tempo a discutir futebol do que a pensar, e ainda de uma vida de luta por tudo o que acreditamos mas que não nos leva a nada.
Em breve se vão celebrar, com pompa e muita circunstância, os quarenta anos do 25 de Abril. E ouvimos uma perua enxuflada a dizer que se os capitães de Abril não querem estar presentes nas comemorações, o problema é deles.
Mas aposto que, há semelhança do ano passado, na manhã de 25 de Abril, serão apenas uma meia dúzia de pessoas que se irá levantar e apresentar algum protesto à porta da Assembleia da República, porque se o ano passado estava quente o suficiente para ir para a praia, este ano será o frio a ditar que se fique no aconchego da cama.
E ouvimos também outra perua a dizer que os desempregados deviam era passar mais tempo a fazer voluntariado em vez de andarem a brincar na Internet. A mesma perua que há uns meses dizia que os portugueses não podiam comer bifes todos os dias.
A mesma perua que recebe em casa o melhor que o povinho lhe dá, devidamente ensacado em sacos do Banco Alimentar, e levado até à sua casinha, alimentando os seus filhinhos, por esses mesmos voluntários que a perua queria que fossem mais.
E depois ouvimos ou lemos algures que o RSI foi tirado a milhares de pessoas porque elas, pasme-se, tinham contas com milhares de euros. E claro que as assistentes da Acção Social local ou da Segurança Social, nem se deram ao trabalho de investigar alguma coisinha sobre as pessoas que ali se dirigem a pedir os RSI. Ah, não, os pedidos de papelada e as burocracias estão unicamente reservados para os desempregados portugueses, os que descontaram durante anos, os que pagaram os seus impostos, os que ao fim de uma vida de trabalho, se vêm obrigados a recorrer ao Estado, a quem pagam as mordomias, para poderem sobreviver. Sim, porque esses é que são os bandidos, não os que vivem em casas pagas pelas autarquias, recebem abonos e rendimentos, não pagam impostos sobre vendas e conduzem Mercedes.
E ouvimos ou lemos que as crianças deficientes viram-lhes ser retirados apoios, aulas especiais e até abonos, porque é preciso que os senhores deputados e quadrilha afilhada não percam os seus benefícios de deslocação nem deixe de receber os subsídios de representação
E ouvimos ou lemos que cada vez mais idosos deixam de comprar medicamentos, ou bens de primeira necessidade, para que os ex-deputados e os ex-administradores da RTP ou outras empresas estatais não deixem de receber as suas reformas.
E ouvimos ou lemos que cada vez mais crianças vão com fome para as escolas, para que os partidos políticos não deixem de ter os seus financiamentos durante as campanhas eleitorais, e que tudo isso não passa de má gestão do tempo dos pais, como disse a perua de que já falei antes.
Ando cansada de ouvir e de ler tudo isto. Ando cansada de ver um país de gente que agora se vai engalanar de cravos vermelhos, mas que prefere discutir com a vizinha de cima sobre o cheiro a sardinha assada nas escadas ou sobre o árbitro no jogo de domingo, no café, do que tomar alguma acção concreta.
Ando cansada.

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