Como cidadã, apetecia-me aplicar a ambas as mortes um único termo: ‘execução’.
Como jornalista, não o posso fazer.
Se no caso do piloto jordano Muath al-Kasaesbeh o termo foi utilizado pela maior parte dos órgãos de comunicação social, no caso de Maria Manuela Ferreira, nenhum jornalista se atreveria a tal.
Infelizmente, esta é a força das palavras.
Se no nosso íntimo todos sentimos que Maria Manuela Ferreira foi vítima de uma execução perpetrada por vários, usar um tal termo iria, no mínimo, levar a responder numa acção em tribunal, e disso ninguém duvide.
Mas se não se pode utilizar a palavra que pretendemos (e sim, pode falar-se o que se quiser de liberdade de expressão, mas existem regras e limites que não podem ser ultrapassados, pelo menos por alguns), podemos usar a força das outras palavras para denunciar.
Infelizmente nem sempre os que deviam sabem, ou querem, utilizar esse poder.
Dou apenas um exemplo: quantas pessoas já passaram horas infinitas num hospital na urgência? Quantas não terão apresentando queixas no local ou até enviado um simples email para um canal televisivo ou um jornal nacional?
No entanto, os canais televisivos e jornais apenas começaram a realmente abrir os seus noticiários e fazerem capas depois de ocorrer mais do que uma morte seguida em alguns desses hospitais.
Mais uma vez, é a morte que vende.
Há quem se pronuncie contra este tipo de jornalismo, mas o que é certo é este atrai os espectadores e os leitores. É o que sai do normal quotidiano que faz a notícia. Daí que as mortes nas urgências dos hospitais só foram notícia e quase viraram histeria em termos mediáticos, depois de morrerem várias pessoas. Incluindo no Hospital Garcia de Orta, sobre o qual há vários anos que autarquias e comissões de utentes têm vindo a alertar para a situação caótica. Quando ocorreram duas mortes seguidas, então alguém a nível nacional tomou nota e fez a “notícia”.
E a “notícia” fez o caso, correndo tinta e quase rolando cabeças. Se algo mudou?
A TVI fez uma reportagem sobre o assunto e detectou que nada ou praticamente nada mudou nas urgências hospitalares portuguesas. Nem sempre o poder das palavras tem a força suficiente para mudar mentalidades e valores monetários dos que nos governam.
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