sábado, 31 de outubro de 2009

Branco, negro e rosa?

Via no outro dia um programa sobre racismo que me fez recordar uma história antiga passada comigo.
Sempre defendi que todos temos o direito de ser racistas. É verdade. Tenho esse direito, assim como um negro, um amarelo, um azul (sim, estou a falar dos portistas), ou de outra cor qualquer sejam também racistas.
Não me venham dizer que nunca olharam para uma pessoa de outra raça a conduzir um grande carro ou com uma mala de marca e não pensaram: lá vem este a exibir-se, deve ter ganho o dinheiro nisto ou naquilo. Também tenho o direito de reclamar sobre o número crescente de estrangeiros em Portugal, e o mal que podem trazer ao meu país, de esta ou aquela raça ser mais ladra/ameaçadora/desonesta/etc.
Assim como reconheço o direito aos outros de não gostarem de mim como gorda e como branca (escura) que sou.

O que não tenho, nem nunca terei, é o direito de com essa minha atitude prejudicar seja quem for. E também não dou o direito de me prejudicarem com ostracismo ou racismo. Sim, sou caucasiana mas já fui alvo de racismo por pessoas que acham que serem de uma cor diferente da minha lhes dá direito por serem minorias.
Se sempre defendi o meu direito de ser racista, também sempre defendi a igualdade entre todos. Parece uma parvoíce, mas eu cá me entendo e isso chega-me.
Mas não é disso que vou falar.
A história que conto é a seguinte: há vários anos trabalhava numa grande empresa automóvel no concelho, que já encerrou. Trabalhava, já agora, para pagar os meus estudos na universidade. E sempre tive um feitio que me permitiu dar bem com todas as pessoas que me rodeiam.
Na minha secção tinha algumas mulheres de África, uma das quais minha amiga de Cabo Verde. Um dia fomos almoçar ao refeitório e calhou sentarmo-nos todas juntas. Elas a falar de África e eu a ouvir avidamente.
Depois do almoço, uma colega de cargo superior veio ao meu posto de trabalho e sem preliminares disse-me: não tinhas mesas de gente branca para te sentares hoje ao almoço?
Como se diz na gíria, caíram-me os tintins ao chão. Ainda incrédula, perguntei-lhe:
- Mas há algum problema?
- Não, mas não vejo razão para não te sentares connosco e ires para uma mesa «escura».
Como felizmente raramente fico sem palavras, a minha resposta veio rápida:
- E para me sentar com lixo como tu?
Escusado será dizer que nunca mais me dirigiu a palavra, o que sinceramente me deixou bastante feliz.

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