Celebra-se hoje, 17 de Junho, uma data importantíssima a
nível mundial, o Dia do Dador de Sangue, bem como os 25 anos da Associação de
Dadores Benévolos de Sangue do Concelho do Seixal.
Sendo dadora de sangue desde os meus 18 anos,
interruptamente, este é um dia que me toca de forma especial.
Um dador de
sangue não é um herói, não arrisca a vida, não é um ser super. É um cidadão
comum.
Mas um cidadão que sabe no seu íntimo que um pequeno gesto pode ajudar a mudar
a vida de muitos outros seres humanos. Um pequeno gesto do qual não se gaba, do
qual não espera obter quaisquer dividendos.
Um gesto que sente ser necessário realizar para nos
sentirmos de bem com a vida.
Dar um pouco de nós a todos os que nos rodeiam devia ser
algo inato, e não algo que necessite de ser celebrado e exaltado. Infelizmente não
é assim, e por isso uma homenagem, recordando todos os que fazem esse pequeno gesto,
é sempre bem vinda.
Nenhum dador pede nada em troca. Nada a não ser respeito.
Infelizmente, este ano a data marca a falta de respeito para
com os dadores. E de duas formas distintas.
Por um lado temos um Governo que retirou aos dadores aquela pequeníssima
«atenção» que nos fazia sentir que existia um reconhecimento pelo tal pequeno
gesto.
Retirar a isenção aos dadores nas taxas moderadoras, quando
milhares de outras pessoas ficam isentas «só porque»… é de uma enorme falta de
respeito. Os dadores são pessoas saudáveis, não andam todos os dias a usar o
Serviço Nacional de Saúde ou os Hospitais para pesarem assim tanto nas contas
como isentos.
Não será este o motivo para que deixemos de fazer esse
pequeno gesto, até porque os prejudicados não seriam quem toma estas decisões, porque
esses nem que tenham de importar sangue, estarão sempre servidos.
Mas acredito que nos corações de muitos dadores, num ponto
muito remoto, a vontade que temos, quando ouvimos os apelos histéricos que as
televisões passam, é de dizer «Agora chamem ao Hospital o senhor Passos Coelho
e CIA!».
Falando em televisões, esse é o segundo ponto desta falta de respeito.
Na Torre da Marinha teve lugar uma enorme festa com
associações de dadores de todo o país, e a formação de uma gota de sangue
humana. Uma ocasião que devia ter o destaque devido na comunicação social nacional, tal como referiu o
vice-presidente da Câmara Municipal do Seixal, Joaquim Santos durante o seu discurso.
No entanto, na altura dos discursos, não se via por ali
nenhuma televisão, não foi feito nenhum directo nem nenhum dos espectáculos com
animadores nacionais. Não, os olhares das televisões estão fixados noutros pontos do país, nas suas
«Maravilhas», no seu «Coração» ou no jogo de futebol, mas não na homenagem aos dadores que foi feita
no concelho.
Aqui não posso deixar de «mandar a minha boca».
Afinal,
temos uma autarquia que aposta forte em publicidade nos meios de comunicação
social nacionais, onde publicita eventos, festivais e festas. Mas depois, na
hora da divulgação, são os meios locais, pequeninos e até desprezados nas
contas e na atribuição de publicidade que lá estão, que transmitem os factos,
que os imortalizam.
No entanto, hoje o dia foi de festa, de festa para centenas
de pessoas que são lembradas uma vez por ano pelo tal pequeno gesto que fazem e
que na verdade, salva vidas.
Gesto que todos continuaremos a fazer, independentemente das barreiras que se levantem, porque em primeiro lugar estará sempre o bem estar do próximo.