Estamos a poucos dias de celebrar quarenta anos sobre a revolução que, supostamente, mudaria Portugal para melhor. Que traria paz, pão e habitação para um país que vivera, precisamente durante cerca de quarenta décadas, sob uma ditadura.
E um dos temas que mais marcou a época ditatorial foi a falta de liberdade de imprensa.
Como jornalista, esse sempre foi um tema caro para mim. Um tema que me fez comprar livros sobre o famoso lápis azul e, sobretudo durante os meus tempos de estudante, me fazia pensar: “felizmente vivemos numa democracia, onde os jornalistas não são perseguidos”.
Quão inocentes podem ser esses nossos “sonhos” de juventude.
Chegada ao mercado de trabalho, deparo-me com políticas de silêncio impostas pela entidade patronal. «Se fulano não faz publicidade, não é referido nesta revista» ou uma frase que ainda conto em jeito de anedota: «Tem de fazer um texto sobre o sexo, mas sem focar o tema directamente»… se uns até percebo hoje, enquanto empresária, outros ainda me deixam boquiaberta por tudo o que um jornalista tem de vivenciar.
No entanto, anos passados sobre isto, deparo-me agora com um novo muro de silêncio.
Daqueles praticamente inexpugnáveis.
Durante os meus anos de jornalista, sempre que visitava um site de determinado ministério, habituei-me a ir a uma página específica e ali encontrar os dados necessários para contactar o departamento de imprensa, de comunicação, até de marketing. Conhecia os assessores pelos nomes, tínhamos os números de telemóvel, despedíamo-nos com saudade quando mudavam de emprego ou mudava o executivo do ministério, e sabia sempre a quem me dirigir.
Agora, quase quarenta anos depois do fim da tal ditadura, os jornalistas voltaram a encontrar um muro de silêncio em relação ao Governo e seus ministérios.
Se quero obter informação de um qualquer ministério, ou tenho a sorte de conhecer alguém que conhece alguém que até sabe quem é o assessor (e note-se que isto não é garantia de que obterei a informação ou o depoimento), ou então tenho de «submeter o questionário», sem saber a quem, se foi recebido e lido.
De uma coisa tenho a certeza, esta não é nem nunca será a forma correcta de um governo lidar com a comunicação social.
Se querem silêncio, assumam isso. Digam preto no branco que não falam, que não comentam, que não querem que os chatos dos jornalistas se metam nesses assuntos. Mas não gozem com o trabalho dos outros. Até porque não será muito difícil descobrir o número de assessores de imprensa e de membros dos respectivos gabinetes e quanto recebem. Por quase nada.
Gostaria de terminar o meu texto por aqui, mas infelizmente este muro de silêncio não se limita ao Governo.
Sentimos também isso, e falo no plural porque este é um tema recorrente que nós jornalistas, costumamos falar, com as Câmaras Municipais. Ou melhor, com alguns assuntos nas Câmaras Municipais.
Eventos e declarações políticas? «Com certeza, caros senhores, terão as declarações que desejarem.»
Explicações ou esclarecimentos sobre outros aspectos menos positivos? Silêncio.
Apenas uma última nota: neste ponto final, não incluo os departamentos de comunicação das autarquias, que sempre compreendem as nossas necessidades e tudo fazem para «romper» esse muro de silêncio.
P.S. - Esta foi mais uma das minhas crónicas no Diário do Distrito.
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