Já o disse aqui que a minha paixão são os animais. Desde pequena que a casa dos meus pais sempre recebeu bichos de toda a espécie e feitio, desde os gatos aos cães, aos peixes e pássaros até a um lagostim, o Gustávio, que cresceu aqui quase até ao tamanho de uma lagosta.
Também já tenho dito várias vezes que quanto mais conheço as pessoas, em especial alguns burros (de novo com perdão para os ditos, que não têm culpa de serem assim usados), mais gosto dos animais.
E hoje tive mais uma prova de que somos nós os humanos que desvalorizamos os sentimentos e a inteligência dos animais.
Durante a manhã, ao fazer a distribuição do jornal em Fernão Ferro, vou sempre ao mercado local (um excelente exemplo de comércio tradicional conjugado com a tradicional praça), e num dos talhos costumo comprar ossos para o Belchior.
Hoje voltei a comprar, mas ao sair do mercado com um enorme saco, um cachorro que já lá vi algumas vezes segui-me alegremente até ao carro. Claro que não lhe pude recusar a «guloseima», e saquei de um bocado com muita carne e vários ossos.
Mas alguma coisa me levou a tomar atenção ao que se seguiu, e que foi o seguinte: em vez de se regalar com o osso, o cão acastanhado foi até ao local onde estava um outro, branco, a dormitar e pousou o bocado junto dele. O outro viu, levantou-se e entre os dois partiram a carne, indo depois comê-la.
Os meus olhos encheram-se de lágrimas.
Não me parece que aqueles animais estejam maltratados, antes pelo contrário, ou até com fome, porque se calhar a reacção tinha sido outra. Mas ver este gesto de partilha entre dois animais que muitos chamariam de irracionais, tocou-me profundamente.
E deixa-me uma pergunta: afinal quem de nós é «animal»?
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