sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Milagre de Natal

Há histórias que ainda me deixam com lágrimas nos olhos. E em especial quando têm um final feliz.
É caso de uma que soube esta noite e que se passou na última Consoada.
A história de hoje chegou-me por um vizinho com quem costumo conversar, sobretudo quando ele anda a passear a Estrela, uma cadela muito gira cá do bairro, conhecida por roubar tudo o são pedras da calçada que estejam fora do sitio.
A Estrela tem mais ou menos a mesma idade que o Belchior e foi ao passear os cães que nos conhecemos. (Ela não gosta muito do Bel, apesar dele tentar sempre brincar com ela, vá-se lá saber porquê).
- Sabe que a Estrela tem uma nova amiga?
- Sim, então? Comprou outra menina?
- Não, esta foi a minha prenda de Natal. Apareceu aqui na rua atropelada e a Estrela é que a viu e deu-me o aviso.
Eu vi-a deitada no chão, muito triste, mas deixei passar, só que ao ir para casa, nem consegui almoçar, olhei pela janela e vi que ela não saia do mesmo sitio, debaixo de um carro. Liguei então para a Dr.ª Cristina Perdigão e pedi-lhe se a podia levar ao Hospital Veterinário. Ela disse que sim, agarrei no carro e levei-a lá, para tratarem uma pata partida. E segundo a doutora, ela estava tão debilitada que já não passaria dessa noite, a de Natal.
Foi então que se me fez luz. Eu tinha visto esse mesmo cão, debaixo de um carro na manhã fria de 24 de Dezembro, quando me preparava para ir até à Beira Baixa. Vi-o e disse à minha mãe, que me tirou logo ideias de a socorrer. Não que não goste de animais, mas com quatro bichos cá em casa…
Mas a visão daquele cão com um ar tão triste debaixo de um carro, partiu-me o coração e amargou-me um bocado o Natal.
Levei metade do caminho a recriminar-me por ter arrancado com o carro e não ter feito nada, mais não fosse dizer algo ao dono do café aqui em baixo, que também gosta de animais. Recriminei-me pela minha cobardia de olhar para o lado no sofrimento de um animal, mas fui preenchendo esse vazio pensando que alguém, alguma alma caridosa, iria olhar por aquele cão.
E alguém a foi buscar, a levou para tratamento e a adoptou.
Um verdadeiro milagre de Natal, para reflectir numa noite tão fria quanto a de hoje...


Actualização: Hoje de manhã, depois de vir do passeio com o Belchior, a minah vizinha veio contar-me as últimas novidades da Merry Christmas, abreviada para Merry. Está a recuperar muito bem, já foi operada à anca e às costelas que tinha partidas, e já está livre dos bichos que quase a comiam viva. Pelos vistos, alguém a manteve quase toda a sua jovem vida amarrada, porque a coleira que trazia estava quase enterrada no pescoço, e o facto de estar bastante fraca por falta de alimento é que levou a que os ferimentos nos ossos fossem graves.
A Merry, segundo a minha vizinha, é uma cadelinha com um olhar doce e que é praticamente a sombra da actual dona, além de adorar crianças.

Realmente, ainda há milagres e anjos...

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