quinta-feira, 1 de março de 2012

Por uns pagam outros

Nestes últimos dias muito se tem dito sobre desemprego. Mas será esse desemprego real?
Se quem está no mercado de trabalho à procura sabe as dificuldades que enfrenta, algo que de constantemente se fala, há a outra parte que pouco se fala.
Na minha empresa tenho histórias mirabolantes para conseguir empregados.  
Como qualquer empresa que se preze, começámos por pedir pessoas ao Centro de Emprego. Foi uma autêntica saga. As listas vinham, telefonávamos, agendávamos reunião.
Claro que todas diziam que sim, que vinham, mas chegado o dia não apareciam. E nem uma justificação.
Outras chegavam e iam longo dizendo que não tinham interesse naquela área de trabalho, que só ali tinha ido para que lhes colocássemos o carimbo para apresentarem no Centro de Emprego, que o ordenado oferecido era abaixo do que recebiam ficando em casa, enfim, aquilo que toda a gente que tenha uma empresa, já ouviu.

Até tive uma pessoa que vinha da Impala e que teve a lata de dizer que não aceitava a proposta porque não estava habituada a trabalhar em empresas pequenas.
E houve mesmo pessoas que vinham para vendas e que não quiseram ficar porque não tinham computador para trabalhar.
E depois admiram-se por perderem os subsídios.
Claro que depois lá estão os outros para pagar por isso, aqueles cuja especialização não lhes dá muitas saídas, como professores ou técnicos especializados em determinada área. Para esses as propostas continuam, a meu ver, a não ter respostas.


Desistimos.
Passámos a colocar anúncios pelos sites de emprego.
Pior a emenda que o soneto.
Respondiam pessoas que se viam claramente que nem sequer se tinham dado ao trabalho de ler o anúncio ou o que era pedido. Limitavam-se a mandar emails, alguns só com o CV anexado, quando se davam ao trabalho de o fazer. Ou seja, se os queríamos como empregados, devíamos adivinhar onde moravam, o que faziam e o que queriam.
Outros respondiam, mas com questionando logo quanto era o ordenado, dando mesmo a entender que não tinham tempo nem paciência para perder se este não lhes «enchesse as medidas».
Tive o cúmulo de ter pessoas que vieram cá oferecer-se para prestar provas, mas depois percebiam que afinal isto não era uma brincadeira de crianças, e «iam beber um cafezinho» e zás.
E outros que diziam que sim na entrevista ou no contacto para virem trabalhar, que «segunda-feira de manhã estarei lá». Estiveram vocês?
O mais engraçado é que isto acontecia sobretudo com adultos, com pessoas que se diziam profissionais, com pessoas com experiência de trabalho. Nunca tive problemas do género com estagiários.

Estou a falar em quatro anos de empresa, quatro anos em que temos trabalhado duramente para manter esta empresa de pé.
Não exigimos mais do que aquilo que fazemos a quem connosco está, mas exigimos que façam igual.
Agora não me venham falar de aumento desemprego quando o que vejo todos os dias é um aumento da falta de profissionalismo. Ou melhor, chego à conclusão, e não só pela minha experiência como pela de muitos mais, que há muitas pessoas que não procuram trabalho, procuram emprego.
Será que se oferecessemos carro com motorista, computador portátil, ipod e mais umas regalias, além das do pacto social, teria mais sorte?
Acho que não...

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