terça-feira, 1 de maio de 2012

1.º de Maio, Dia do Trabalhador?

O 1.º de Maio sempre foi uma data com alguma importância para mim. Lembro-me que o meu pai se levantava sempre de madrugada, e por vezes ia-nos chamar à cama, em jeito de brincadeira, para nos levantarmos e não deixarmos «entrar o Maio pelo cu acima». Ainda hoje não sei o que isso significa, mas até falecer, o meu pai nunca deixou de cumprir este ritual. E depois era a ida até ao desfile, pela Avenida acima, a acompanhar as palavras de ordem gritadas pelos altifalantes. Também nunca me esqueci de um ano em que se gritava: «O Soares é um camelo, tem duas bossas e muito pelo»…  no ano seguinte, o nome mudava, mas a letra era sempre a mesma…Chegados à Fonte Luminosa, cumpria-se outro ritual: a bela da sardinha assada, a primeira da época, e depois, lá mesmo em cima, num local um bocado recôndito, uma gelataria com gelados caseiros, que faziam as delícias da malta. Depois era a descida da Avenida, por vezes com pessoas ainda a completarem o desfile, até aos barcos no Terreiro do Paço, e a viagem até Cacilhas, e mais tarde, já até ao Seixal.
Agora, há vários anos que não vou. Não tenho paciência para desfiles, e fiquei desiludida por terem tornado a chegada à Fonte Luminosa numa autêntica feira. Também acho que não é com manifestações e desfiles que se luta pelos direitos, cada vez menores.
E em especial quando hoje, quando acedi ao meu facebook, vejo pessoas a postarem fotos do seu «pesadelo» em compras nas grande superfícies, onde hoje, e só hoje (vá-se lá perceber porquê…) fazem as promoçõezinhas do «pague um e leve cinco».
E depois são os mesmos que, freneticamente, vêm dizer que é preciso lutar pelos direitos, que cada vez estamos piores, que isto assim não pode continuar. Só me dá vontade de mandar um daqueles palavrões bem cabeludos. Afinal querem a luta só clicando em Gostos e Partilhas, sentados no sofá???
Ou melhor, indo a correr à babugem das promoçõezinhas e dos pontinhos, esquecendo que aqueles que estão ali a pesar-lhes o fiambre e a passar as compras na máquina também são trabalhadores e que ainda têm os seus direitos mais desbaratados por este tipo de atitudes?
Pois claro, gritar pela mudança sim, clicar pela revolta sim, mas a luta, a lutazinha que custa, que a façam os outros.

1 comentário:

Maria do Carmo disse...

Sinal do miserabilismo a que chegámos quando vejo pessoas com algum perfil a dizerem no facebook que aqueles que estão a falar contra esta situação no Pingo Doce é só porque têm inveja de não ter lá ido...
Não admira que estejamos como estamos.