Ele há coisas... durante toda a minha vida tenho lidado com crianças e adoro ter conversas com elas, porque se as escutarmos sem as conversas de bebé que muitas vezes somos tentados a fazer, aprendemos mais do que com muitos adultos.
Já me fizeram perguntas estranhas, e quando não sei a resposta digo isso mesmo.
Já me fizeram perguntas sobre sexo, que embora com algum «engolir em seco» lá vou tentando explicar, rementendo, em último caso, sempre a conversa para o papá ou a mamã.
Neste domingo, fui até à Beira Baixa, celebrar o aniversário da mãe na nossa casita, e levei o meu afilhado de 9 anos. Além de ter sido espectacular apresentar-lhe tudo aquilo, ainda fiquei de boca aberta quando ouvi a frase acima.
A minha mãe é religiosa e tem vários santos num pequeno oratório nessa casa. E o meu afilhado começou por apreciar as imagens, e de repente vira-se e pergunta-me se eu acredito em deus.
Fiquei embuchada... é que apesar de ser madrinha pela Igreja, não sou católica mas assumo o papel que esse "cargo" me atribui, não por um papel assinado e uma cerimónia, mas pelo carinho profundo que tenho por este rapaz.
Mas agora responder a isto?? E assim do nada? Além disso, para ele não basta uma resposta evasiva, porque ele sabe se não lhe estão a dizer a verdade, e merece apenas isso.
Como é que lhe podia dizer que não acredito num deus que promete castigos infernais para alguns e permite que esses mesmos andem cá pelo mundo a fazer sofrer os restantes? Num deus que permite que crianças sem pecado sofram enquanto os que exibem publicamente esses pecados condenados são beneficiados como Job? Num deus que permite que no seu próprio templo continuem os vendilhões? Num deus que permite que as doenças se perpetuem para as industrias farmaceuticas ganharem milhares com tratamentos em vez de fazerem a prevenção? Num deus que permite que alguns loucos continuem a maltratar e abandonar animais, aqueles que ele supostamente devia cuidar porque deles é o reino dos céus?
Como não suporto a mentira nem ele, disse que não, que não acreditava. Resposta pronta: Mas se não acreditas não estás protegida! E vi que ele ficou um pouco assustado.
Expliquei-lhe que deus tem muitos nomes e nem sempre temos de acreditar naquela imagem que a biblia dá. Que ao longo da vida nós vamos mudando de ideias e que por vezes é também a vida que nos leva a deixar de acreditar. Que ele podia acreditar (e aqui, confesso que menti), mas que como criança que era, como qualquer criança, estaria sempre protegido.
Fomos conversando ao longo do dia sobre o assunto, ele a perguntar-me coisas sobre Fátima (porque era 13 de Maio) e sobre Cristo e eu a responder-lhe com as versões biblícas que conheço.
Foi interessante ter uma conversa assim refrescante com uma criança, porque sinceramente nos dias que correm já me fartam as conversas de adultos.
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