quarta-feira, 28 de maio de 2014

Hoje faço anos




É verdade, é uma realidade que calha a todos e todos os anos.
O que vai mudando é a nossa vontade e capacidade de festejar.
Quando tinha menos de dez anos este dia era sempre especialíssimo, com os lacinhos folhados comprados na pastelaria Signos, onde mais tarde viria a trabalhar também, com o jantar de frango assado no forno, que enchia a casa de um cheiro saborosíssimo e o inevitável bolo de aniversário, sempre de doce de ovos porque nunca gostei de chocolate, e com a família em redor da mesa e a tarde passada com os amiguinhos da escola.
Foi também na escola primária, mais propriamente no primeiro dia de aulas com a Professora Amélia Lopes, a quem estimo imenso e que nas voltas da vida voltei a encontrar há uns tempos atrás, que fiquei a saber que este dia «era muito feio».
Criança ainda, não fazia ideia das implicações políticas que o «meu» dia de anos tinha para o país. Mais tarde, e porque sempre gostei de saber um pouco de tudo, investiguei e fiquei a saber o significado do 28 de Maio para Portugal.
Os anos foram passando e as celebrações sucederam-se. Umas mais alegres que outras, a maior parte sempre com colegas de trabalho, porque nunca tirei dia de férias pelo aniversário.
O primeiro que recordo a trabalhar foi precisamente na pastelaria Signos de que já falei, ao completar 17 anos. A timidez natural aliada à da idade, quase nem conseguia encarar as minhas colegas quando me ofereceram um conjunto de chávenas de café, que ainda hoje guardo religiosamente na minha casa.
Depois outros, que se apagaram na memória, outros que ficaram, como quando trabalhava numa revista de ambiente e detestava de tal forma as minhas colegas que nem disse nada. O pior foi à hora de almoço, quando o telefone não parava de tocar e eu tentava disfarçar o assunto.
Outro que me recordo foi quando comprei a minha casa, e os colegas e patrões da Comunicar me ofereceram um serviço completo de jantar.
Mais um do baú das recordações: um ano em que tinham-me roubado o carro, que era da minha colega Lena, mas que eu levava para casa. Os nervos que passei durante dez dias em que andei em busca do carro, até que o encontrei na Quinta da Princesa. Durante esse tempo, o meu aniversário, celebrado com festa mas com muita amargura. Ainda hoje, quando chega esta altura do ano, não deixo de sentir um frio do estomago ao lembrar o que passei.
Nunca gostei de festejar em discotecas ou afins. Jantares sim, em casa ou com amigos quando havia dinheiro para isso ou nos tempos mais apertados, uma ida até à praia à noite para «partir» o bolo.
Agora sinceramente quase que deixo passar em branco a data. Não fossem os votos de felicitações dos meus amigos no Facebook e o Google e, à semelhança do que já me aconteceu algumas vezes, esquecia-me por completo que era dia de aniversário.
O que importa mesmo é como nos sentimos por dentro e não a idade que o BI, neste caso o cartão de cidadão, diz que temos. E essa, tenho a certeza, ainda não passou dos vinte anos.

sábado, 24 de maio de 2014

A cavalo dado, olhar sempre o dente

Durante a minha carreira como jornalista, já passei por várias empresas em áreas tão diferentes como a medicina tradicional até ao sector automóvel, com várias variantes pelo meio.
A determinada altura deste meu percurso, dirigi duas revistas especializadas na área da informática, de que sinceramente ainda percebia menos do que de motores, mas a vida é assim e só temos de nos adaptar ao tipo de trabalho que nos dão. E aprender.
Foi o que fiz, sobretudo aprendendo espanhol para decifrar as novidades que chegam sempre primeiro àquele país. Nunca me esquecerei da luta que foi perceber o que era «un raton enchufado» num artigo do país vizinho…
Nessa área, e na altura, contávamos com várias agências de comunicação, que nos passavam tudo, como eu costumava dizer, «mastigadinho».Era a função destes meios para divulgarem os produtos dos seus clientes.
A tal ponto isso chegou que quando voltei a uma área diferente, como o é o jornalismo regional, praticamente tive de aprender a escrever novamente a notícia como ela deve ser feita.
Não estou, de modo nenhum, a criticar estes meios, porque cumprem com a sua função, a de divulgar para todos os meios possíveis as notícias dos seus clientes.
Essas mesmas agências convidavam os jornalistas para diversas iniciativas, fossem pequenos-almoços de trabalho, conferências de apresentação, briefings, enfim, o que lhe queiram chamar.
E no final, raramente eram os que não nos entregavam uma pequena lembrança, que nos tempos das «vacas gordas» chegavam mesmo a ser um modelo do telemóvel apresentado ou até um prato assinado por Paula Rêgo (acreditem, tive um mas como não é artista que aprecie, ofereci-o a um colega).
As «ofertas» eram de tal ordem, que alguns jornais nacionais obrigaram os seus jornalistas a assinarem um termo em que se recusavam a receber fosse que prenda fosse. (Um pouco à semelhança do que o ministério da Saúde quer obrigar os médicos a fazer, se bem que também já tendo trabalhado nessa área, não percebo se isso se limita aos possíveis ovos e galinhas com que os doentes passem a pagar a consulta ou também às prendas que são dadas aos participantes de congressos, mas este não é o tema do meu texto).
Como é óbvio, se um jornalista vai numa semana a três apresentações de três telemóveis de três empresas, e duas destas lhe dão um exemplar desses telemóveis, não acham evidente que mesmo, mesmo subliminarmente, os artigos vão sair um bocadinho diferentes?
Claro que o leitor não perceberia isso à primeira vista mas a marca (e as concorrentes) iriam de imediato perceber que algo se passava.
Código Deontológico e de ética? Sim, para aqueles que sabem o que isso é.
E isto pode aplicar-se a muitos aspectos da área do jornalismo.
Mas claro que, como diz o ditado português, «há muitas maneiras de matar moscas» e nem todas são tão directas como o spray insecticida. E essa mesma “pressão” pode ser exercida de muitos modos: palmadinhas nas costas, promessas de futuros apoios, homenagens, enfim, um manancial para quem saiba jogar as suas cartas.
Mas por vezes é preciso não esquecer uma das regras da vida muito importante: não há almoços grátis.

Ps: artigo de opinião publicado no Diário do Distrito.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Os “amigos” não são só para ocasiões

 
As eleições europeias aproximam-se a passos largos. Neste momento todos os partidos que concorrem andam num lufa-lufa de campanha, apresentando os seus programas, as suas linhas orientadoras, as suas promessas.
Caravanas, panfletos, cartazes, fotografias, brindes, jantares e convívios são alguns os meios escolhidos para essa campanha.
E claro, os sempre presentes emails para os meios de comunicação social, no intuito que todas as suas iniciativas sejam divulgadas e cobertas jornalisticamente, tal como define a Comissão Nacional de Eleições.
Da parte do meu jornal, já há alguns anos que optámos por não divulgar qualquer campanha eleitoral.
Entendemos que um órgão de comunicação não pode servir aos partidos políticos apenas quando há interesses de campanha.
Existem diversos problemas que os órgãos de comunicação social enfrentam, não sendo deles o menor a questão económica, mas são poucos ou nenhuns, os partidos políticos que se debruçam sobre o assunto.
E muitos deles até parecem querer entender que os órgãos de comunicação social existem unicamente para lhes servir como meio de campanha em qualquer altura, tendo de disponibilizar o seu espaço e jornalistas para seguirem iniciativas que realizam ou para textos que entendem que devem ser publicados.
Sim, há legislação sobre a divulgação da campanha, mas há também legislação para que os partidos políticos possam ajudar sob a forma de publicidade os jornais.
Refere a Comissão Nacional de Eleições que o Decreto-Lei n.º 85-D/75, de 26 de Fevereiro, que regula o tratamento jornalístico que deve ser dado às candidaturas, indica que durante o período da campanha «apenas serão permitidos, como publicidade, os anúncios, que perfeitamente se identifiquem como tal, de quaisquer realizações, não podendo cada um desses anúncios ultrapassar, nas publicações diárias de grande formato e nas não diárias que se editem em Lisboa e no Porto, de expansão nacional, e também de grande formato, um oitavo de página, e nas restantes publicações, um quarto de página».
Além disto, temos a discrepância entre o apoio estatal que é dado à comunicação social.
Refere o Correio da Manhã: «Os tempos de antena no âmbito da campanha para as eleições europeias do próximo dia 25 de Maio vão custar aos cofres do Estado 2,1 milhões de euros, segundo dados do Ministério da Administração Interna, onde se adianta que as televisões generalistas recebem 73% do montante atribuído com RTP, SIC e TVI a receberem um valor acumulado de 1,6 milhões, que serão depois divididos de acordo com as audiências registadas no período da campanha. As rádios nacionais irão receber 500 mil euros e as regionais 73 mil euros.»
Nisto tudo, onde ficam os jornais, sobretudo os regionais? Os que têm de pagar as deslocações dos seus jornalistas? Os que têm de pagar o papel, a impressão, a distribuição?
Pois. Por tudo isso, da parte do meu jornal, decidimos não fazer campanha.
Se calhar, se esta atitude fosse tomada por todos, os partidos políticos e o próprio Governo teriam de reformular a forma como encaram a imprensa na comunicação social. É que os «amigos» não servem apenas para as ocasiões, mas parece que poucos são os partidos políticos que em campanha eleitoral se lembram deste pressuposto.
Ou não se querem lembrar.
 
Ps: artigo de opinião desta semana no jornal Diário do Distrito

sexta-feira, 9 de maio de 2014

A mentira e a «perna curta»


Diz o nosso povo e muito bem, que «mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo».
Já aqui por várias vezes denunciei um mentiroso e agora vou fazê-lo novamente porque infelizmente,
a cada dia que passa, assistimos ao aumento dos mentirosos. E estes já não têm vergonha nenhuma em se apresentar, até orgulhosamente, como os mentirosos que são.
Seja publicamente, dando o dito por não dito, ou tentando descaradamente passar atestados de estupidez a quem neles confiou o destino de um país, quer seja mais sub-repticiamente, fazendo-se passar por aquilo que não são, ou criando a ilusão de que têm algo que nunca existiu.
Dos primeiros não é preciso falar muito mais. Independentemente da cor política de cada um daqueles que estão a ler estas linhas, poucos serão os que podem dizer que este ou aquele partido cumpriu, em todos os efeitos para os quais foi eleito, a totalidade das promessas feitas.
Todos os dias ouvimos alguém dizer que não se aumentam impostos, e eles a subir. Que não se vão deixar pessoas sem rendimento mínimo, e corta-se nas pensões, nos subsídios e nos ordenados. Que não se diminuirá o direito à educação e à saúde, e encerram-se escolas e Centro de Saúde. Creio não ser necessário continuar.
O que quero realmente falar é dos mestres de ilusionismo, daqueles que acham que podem enganar toda a gente, durante todo o tempo.
Tomemos como exemplo alguém de uma empresa que se faz passar por outra empresa similar, e assim vende um serviço. Oue então que preste o dito serviço sem autorização do cliente.
Parece impossível que se consiga vender «gato por lebre», mas garanto que é possível.
São os tais «ilusionistas» de que falo, com os quais me tenho deparado neste mundo da comunicação social local e regional.
Claro que arriscam a que o cliente, logo que se depare com a marosca, diga que afinal não paga o serviço que não solicitou.
E aí a resposta passa por duas formas de «atacar»: ou pedem desculpa, dizendo que afinal foi uma “manobra” de alguém que até já lá não está, ou avançam com o envio de facturas e ameaças para exigir o pagamento de algo que nunca foi acordado.
Mas no fundo o que estes ilusionistas pretendem é tão somente iludir potenciais clientes com a mentira de que «até temos mais clientes que os restantes» ou «eles eram clientes dos outros, mas agora são nossos», mesmo que as empresas que assim apresentam nem sequer façam a mínima ideia de que são “clientes” de tais ilusionistas. 

E há depois outro tipo de ilusionistas, os que sem nada ter, de tudo aparentam ser senhores.
É o caso de alguém que não tem um jornal mas finge que tem, iludindo alguns com uma mera imagem que para os incautos passa por ser uma capa de um jornal verdadeiro, isto porque usa a imagem de pessoas bem conhecidas da sociedade, na certa sem o seu conhecimento, para garantir que consegue passar por verdade.
Parece também impossível? Garanto que não o é, basta pesquisar um pouco muito perto da zona de onde vos escrevo.
Mas já nos vamos apercebendo que neste mundo, seja ele da comunicação social ou não, os espertos e ilusionistas vão sempre conseguindo safar-se.
Seja porque a mentira até é bem burilada ou seja porque há mais gente que embora se considere inteligente ainda consegue (ou quer) ser enganada, o certo é que os ilusionistas andam por aí.
Mas até o Houdini falhou um truque…
 
PS - Este foi o meu texto desta semana para o Diário do Distrito, que em poucas horas recebeu mais de 50.000 visitas.