É verdade, é uma realidade que calha a todos e todos os
anos.
O que vai mudando é a nossa vontade e capacidade de
festejar.
Quando tinha menos de dez anos este dia era sempre especialíssimo,
com os lacinhos folhados comprados na pastelaria Signos, onde mais tarde viria
a trabalhar também, com o jantar de frango assado no forno, que enchia a casa
de um cheiro saborosíssimo e o inevitável bolo de aniversário, sempre de doce
de ovos porque nunca gostei de chocolate, e com a família em redor da mesa e a
tarde passada com os amiguinhos da escola.
Foi também na escola primária, mais propriamente no
primeiro dia de aulas com a Professora Amélia Lopes, a quem estimo imenso e que
nas voltas da vida voltei a encontrar há uns tempos atrás, que fiquei a saber
que este dia «era muito feio».
Criança ainda, não fazia ideia das implicações políticas
que o «meu» dia de anos tinha para o país. Mais tarde, e porque sempre gostei
de saber um pouco de tudo, investiguei e fiquei a saber o significado do 28 de
Maio para Portugal.
Os anos foram passando e as celebrações sucederam-se. Umas
mais alegres que outras, a maior parte sempre com colegas de trabalho, porque nunca
tirei dia de férias pelo aniversário.
O primeiro que recordo a trabalhar foi precisamente na
pastelaria Signos de que já falei, ao completar 17 anos. A timidez natural
aliada à da idade, quase nem conseguia encarar as minhas colegas quando me
ofereceram um conjunto de chávenas de café, que ainda hoje guardo religiosamente
na minha casa.
Depois outros, que se apagaram na memória, outros que
ficaram, como quando trabalhava numa revista de ambiente e detestava de tal
forma as minhas colegas que nem disse nada. O pior foi à hora de almoço, quando
o telefone não parava de tocar e eu tentava disfarçar o assunto.
Outro que me recordo foi quando comprei a minha casa, e
os colegas e patrões da Comunicar me ofereceram um serviço completo de jantar.
Mais um do baú das recordações: um ano em que tinham-me
roubado o carro, que era da minha colega Lena, mas que eu levava para casa. Os nervos
que passei durante dez dias em que andei em busca do carro, até que o encontrei
na Quinta da Princesa. Durante esse tempo, o meu aniversário, celebrado com
festa mas com muita amargura. Ainda hoje, quando chega esta altura do ano, não deixo
de sentir um frio do estomago ao lembrar o que passei.
Nunca gostei de festejar em discotecas ou afins. Jantares
sim, em casa ou com amigos quando havia dinheiro para isso ou nos tempos mais
apertados, uma ida até à praia à noite para «partir» o bolo.
Agora sinceramente quase que deixo passar em branco a
data. Não fossem os votos de felicitações dos meus amigos no Facebook e o
Google e, à semelhança do que já me aconteceu algumas vezes, esquecia-me por
completo que era dia de aniversário.
O que importa mesmo é como nos sentimos por dentro e não a
idade que o BI, neste caso o cartão de cidadão, diz que temos. E essa, tenho a
certeza, ainda não passou dos vinte anos.
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