Não sei se já falei nestas crónicas sobre a falta de memória. É que isto com a idade…
Mas a questão da memória, ou melhor, de certas amnésias, é um tema que tem vindo muito a lume recentemente na comunicação social.
E se há temas que toda a gente da comunicação social adora agarrar, explorar e esmiuçar até ao mais ínfimo pormenor, (por vezes até chamamos a essas notícias um «rebuçadinho»), são estas questões, e melhor ainda se for com alguém que nesse momento está no pico do desagrado do público.
Recordo um dos casos mais recentes, o da alegada falta de memória de Pedro Passos Coelho sobre os seus serviços à Tecnoforma.
Capas, paragonas, litros e litros de tinta sobre o assunto, informações mais ou menos secretas, testemunhos de colegas, e até ameaças por parte dos responsáveis da empresa sobre quem se pronunciasse acerca desta.
Para muita comunicação social isto foi mais do que um «rebuçadinho», foi um autêntico saco de caramelos, daqueles Logroño que antigamente se compravam nas excursões a Badajoz.
A falta de memória parece ser a melhor desculpa para muitas pessoas, sobretudo políticos. Lembram-se de Aníbal Cavaco Silva afirmar que não se recordava de como foi feita a permuta da sua casa no Algarve?
Ou de José Sócrates não se recordar do tema do seu trabalho final na Universidade Independente?
Ou de o antigo ministro da Educação, Roberto Carneiro, não se recordar se, enquanto exerceu funções entre 1987 e 1991, contratou algum grupo de trabalho remunerado com profissionais exteriores à Função Pública, no julgamento de Maria de Lurdes Rodrigues, antiga ministra da Educação?
E são essas recordações que a comunicação social se empenha em trazer à luz do dia. Em apontar e recordar a quem de direito que não estão a salvo das luzes inquisidoras da opinião pública e do rebuscamento de arquivos poeirentos por parte dos jornalistas.
São as recordações que muito agradam aos leitores e, sobretudo, à oposição política do visado.
Este problema de amnésia parece ser mais incisivo numa determinada classe da sociedade, a dos políticos. De presidentes a ministros, de deputados a autarcas, quase estaríamos tentados a falar em pandemia (outro tema agora na moda).
Além disso, é uma amnésia muito selectiva. Se não se recordam nomeações, empregos, remunerações, emails enviados ou promessas eleitorais (se bem que esse seja o esquecimento a que todos já estamos habituados), já se recordam muito bem quando algum assunto é focado publicamente que não seja do seu agrado.
É que se todos os políticos gostam de aparecer numa fotografia ou nuns segundos televisivos, a inaugurar um equipamento, a discursar sobre o bem que vai o país ou vice-versa, a falar mal do Governo que estiver na altura no Parlamento, já não gostam quando o tema lhes relembra o que gostariam de deixar bem arrumado no fundo da gaveta da memória.
E gostariam imenso de que a tal comunicação social se esquecesse, ou melhor, deixasse tudo isso cair no esquecimento…
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