sábado, 25 de outubro de 2014

Jornalismo ou publicidade


 
George Orwell dizia que «jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade».
Como é óbvio, dificilmente nos dias de hoje, um meio de comunicação social consegue manter as suas páginas ou o seu tempo de emissão, apenas com as tais reportagens que podem realmente vir a «beliscar» alguém.
É muito dispendioso manter equipas de reportagem apenas para o tal jornalismo de investigação, embora isso tenha sido algo que já fez parte das redacções de grandes títulos da imprensa nacional, mas que foi descartado devido à fome mercantilista.
É por isso que cada vez mais os chamados «fait-divers» saltam das últimas páginas para outras mais visíveis ou ocupam um espaço maior nos noticiários.
No entanto, por outro lado, tendo em conta todos os meios ao dispor de um jornalista actualmente, já não é necessário a uma redacção ter um piso inteiro com uma equipa de repórteres, aguardando expectantes junto da máquina de fax ou ao computador, prontos a sair para a rua e/ou a passarem horas atrás de um «furo».
O «jornalismo do cidadão» e a crescente consciência de cidadania e dos meios disponíveis para praticar essa cidadania, são muitas vezes tudo o que é preciso para um verdadeiro jornalista fazer o seu trabalho sem muito esforço.
E muito temos a agradecer ao fenómeno do século XXI, as redes sociais. Creio que já falei por aqui no papel positivo e negativo que estas apresentam na nossa sociedade, mas nunca é demais frisar que podem ser um perigo quando utilizadas por cobardes ou gente malformada. No entanto podem, e são-no na maioria das vezes, o meio mais directo e rápido para ajudar, para resolver situações, para alertar e para denunciar.
Vou dar um exemplo prático, muito recente e do qual se calhar a maioria das pessoas que lê estas linhas hoje, já se deram conta.
O aumento da quantidade de lixo nas ruas que tem vindo a ser sentida um pouco por todo o distrito. Como é óbvio, antes de ser jornalista, sou cidadã e munícipe e por isso também reparo nessa acumulação.
Mas também me chama a atenção os alertas nos grupos a que pertenço, dos amigos da minha área de residência, que denunciam sobretudo com fotografias.
A mim, enquanto jornalista, cabe-me então inquirir quem de direito sobre o assunto, sobretudo se os outros cidadãos não obtêm resposta através dos mesmos meios que usam para denunciar.
Essa é a notícia que alguns podem não querer que se publique, uma vez que não ficam tão bem na fotografia. Mas esse é o papel do jornalista.
O resto, a reportagem da inauguração, da conferência, do aniversário, não passam de publicidade, que embora necessária, é o único tipo de jornalismo com que alguns poderes instituídos conseguem conviver.
O jornalismo que não belisca, que não aprofunda, que apresenta tudo à luz cor-de-rosa de um universo perfeito, é acarinhado por esses poderes instituídos. O outro, o verdadeiro, o que investiva, que interroga, que não deixa cair no esquecimento, é visto com maus olhos, sendo imenso o esforço feito para o denegrir, mais não seja convencendo os fiéis seguidores dos poderes instituídos de que nem para esse meio devem olhar, ler ou ouvir.
Por isso, e por hoje, termino com mais uma frase de George Orwell «Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir».

P.S. - Mais uma das minhas crónicas para o Diário do Distrito.

Sem comentários: