No seguimento da minha crónica da passada semana, sobre o jornalismo e publicidade, vem a propósito o seguinte caso que me relataram.
Um jornalista meu conhecido aqui no distrito de Setúbal, estando presente num evento, foi abordado por um edil que lhe EXIGIU a realização de uma peça sobre determinado assunto. Um assunto que “metia” questões políticas.
Perante a recusa de acatar tal “ordem”, eis que das palavras se passaram às ameaças directas. Conhecendo o profissional em questão, tenho a certeza que o “valentão” terá levado que contar.
No entanto, se este tipo de atitude espanta o leitor, tenho a dizer-lhe que embora não sejam frequentes, este tipo de atitudes é algo perante o qual qualquer jornalista, sobretudo os que trabalham ao nível do jornalismo regional, já se viu confrontado.
Há quem não tenha o discernimento suficiente para separar algum tipo de familiaridade que se vai criando ao longo dos tempos e no decurso de muitas iniciativas onde se repetem as mesmas caras. Consideram que um cumprimento, um sorriso ou até alguma conversa mais informal durante o tempo que se espera o início de algo ou num intervalo de uma iniciativa, são suficiente incentivo para passarem a pôr e dispor do jornalista e do meio que este representa.
É óbvio que existe algum tipo de simbiose entre jornalistas e representantes de entidades ou partidos políticos. São as tais «fontes» de que já falei.
São a elas que recorremos para obter determinada informação, esclarecimento ou até o «furo noticioso». E é claro que muitas das vezes, quem presta essa informação, quer algo em troca.
Claro que é também perfeitamente natural que os eleitos políticos enviem determinado tipo de informação para um órgão de comunicação social e esperem que o mesmo tenha o tratamento jornalístico apropriado e a respectiva divulgação.
Ou que numa conversa, se lance um tópico que pode (ou não) vir a ser abordado jornalisticamente.
O que não se espera nem se pode admitir, são as atitudes de ameaça perante os jornalistas e órgãos de comunicação que se recusam a tratar a notícia da tal forma publicitária como desejariam.
Infelizmente, se por um lado o jornalista enfrenta na maior parte dos seus dias aqueles que tentam a todo o custo calar quem transmite à população assuntos que preferiram ver fechados a sete chaves, por outro tem de lidar com os tiranetes, que julgando-se acima de qualquer moralidade, se acham no direito de exigir aquilo a que nunca tiveram ou terão direito.
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