quarta-feira, 21 de julho de 2010

Poder e homenzinhos



Ontem passaram na RTP Memória os últimos episódios da série «Holocausto».
Foi uma série que, aquando da sua primeira transmissão em Portugal, me deixou profundas marcas.
Não me recordo do ano em que a série passou pela primeira vez, mas lembro-me de uma cena em que uma menina era agredida (ou morta) porque trabalhava numa das fábricas alemãs a fazer canecas e colocou mal uma das pegas.
Para uma criança como também eu era na altura, que as únicas coisas que via era o Vicky e a Abelha Maia, aquilo foi brutal.
Agora, muitos anos e muita vivência depois, muitas coisas mudaram, mas ver a série ainda me deixa um enorme amargo de boca.

Pensar que um pouco de Poder nas mãos dos fracos pode causar algo como... o Holocausto. E como dizia uma das personagens que fazia a resistência no Gueto de Varsóvia «se querem destruir-nos é porque devemos mesmo valer a pena».
Porque é de Poder que se trata.
O Poder de um Partido, mas acima de tudo de uma farda e de umas insígnias, que colocam homenzinhos acima de outros homens, dando-lhes o poder de vida ou de morte sobre outros, em nome de um exército.
homenzinhos que se desculpavam dizendo que «o que fazemos é por necessidade» ou «só cumpro ordens».
homenzinhos que diziam combater os inimigos do Reich.

Portugal também teve os seus homenzinhos, também escondidos por detrás de leis que lhes permitiam perseguir outros homens. Fardas e insígnias que também lhes deram o poder de perseguir e matar em nome de uma polícia.
homenzinhos que se desculpavam dizendo que «o que fazemos é por necessidade» ou «só cumpro ordens».
homenzinhos que diziam combater os inimigos da Pátria.

Hoje em dia as fardas e insígnias dos homenzinhos são outras.
Mas dão-lhes (algum) Poder. O Poder de tentarem (mas só tentar) destruir aquilo que não lhes agrada, ou que não agrada aqueles a quem servem.
É um Poder que se chama Internet, e a farda e as insígnias que usam agora é o Anonimato.
Mas não deixam nunca de ser homenzinhos. A quem foi dado algum Poder, uma farda e insígnias. Em nome sabe-se lá de que exército ou polícia.

Post Scriptum: Não falei aqui da Resistência que todos estes homenzinhos tiveram. Falarei, talvez, noutro dia. Porque essa está também na História. Alemã e Portuguesa. E porque essa está também no sangue de todos aqueles que não são homenzinhos.

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