sábado, 10 de setembro de 2011

Matar ou não matar


Quem me segue no facebook sabe que a maior parte dos meus posts partilhados são sobre animais abandonados, porque a cada dia que passa, quanto mais conheço as pessoas mais gosto dos patudos.
E por isso não foi sem espanto que há algum tempo atrás, mais propriamente, a 9 de Junho, ouvi com estes que a terra há-de comer (sou dadora de órgãos, mas com os problemas que tenho tido nas orelhas, acho que ninguém as vai aproveitar...) que o canil municipal do Seixal pode deixar de ser um canil de não abate, para começar a matar os animais.
Também no facebook e onde quer que a conversa surja, tenho sempre gabado o facto do canil do Seixal ter sido o primeiro do país a proibir o abate. Principalmente porque até tive oportunidade de entrevistar o Dr. Bruto da Costa, há umas décadas atrás, que era o responsável pelo espaço e o ouvir dizer que fazia “uns malabarismos” para evitar que na altura os animais fossem abatidos. Claro que quando tive conhecimento que deixara de ser assim, fiquei, tal como toda a gente com um grama de coração para com os animais, muito satisfeita.
E agora, zás.
Em declarações sobre as queixas de um munícipe acerca de uma matilha de cães abandonados em Casal do Marco, o vereador Joaquim Tavares, do pelouro do Ambiente e Serviços Urbanos, diz, preto no branco que: “devido à crise são o abandono dos animais é cada vez maior. Pode haver várias soluções, mas o não abate dos animais também tem o seu tempo. Primeiro há que preservar o ser humano, e tomar opções a cada momento. Perante a quantidade de animais abandonados, temos de resolver o problema e repensar a política de não abate.”
E prontos.
Em resumo, retrocede-se neste concelho anos em termos de civilização. Ou seja, há muitos animais, que aqui no Seixal até são acompanhados por um grupo muito activo de voluntários, que até já foram alvo de reportagens nacionais, mas como o executivo que mantém o canil se depara agora com problemas, a solução mais fácil é o abate dos animais.
Ainda fiquei com uma pequena esperança de que afinal tivesse sido eu que não tinha ouvido ou compreendido bem (apesar de ter confirmado com colegas presentes, claro, os que não estão limitados por ajustes a escrever à linha paga, mas dos que reproduzem o que realmente ouvem, e que me confirmaram o que tinha sido dito).
E por isso tentei ter acesso à acta da sessão, para confirmar, uma vez que este é o documento onde fica registado praticamente tudo o que é dito durante as sessões de Câmara.
E nesta lê-se então o seguinte: «Concretizando referiu-se (Joaquim Tavares) à situação das famílias, quando as pessoas cada vez mais não conseguiam resolver os problemas dos seres humanos quanto mais dos animais, pelo que o abandono dos animais era cada vez maior, sendo esse um problema efectivo. Acrescentou que podia existir várias soluções, sendo que agora a solução adoptada era a de não abate de animais, mas que sem a adopção não era possível, ainda que não existisse soluções milagrosas. Referiu ainda que hoje se estava a analisar esta situação em concreto, mas que era necessário pensar-se em termos do concelho.»
Perceberam? Eu não.

11 comentários:

Seixalense desiludido disse...

Maria do Carmo não posso acreditar naquilo que li. Dizerem que vão passar a matar os animais por falta de dinheiro? Uma câmara que pagam milhares de euros todos os meses para dois edificios, que durante décadas pagou outros milhares de euros em rendas para associações, uma câmara que pagou 100.000 euros por um tapete do Cargaleiro, vem agora dizer que não tem dinheiro para manter os animais?
É escandaloso! É uma vergonha para uma câmara que se diz comunista! Dá-me nojo ler algo assim!
Cmps

Anónimo disse...

"Quando a forma mais fácil de resolver os problemas é matando os inocentes." Se me permites a provocação, quando colocaste esta frase no fb estavas a referir-te à IVG?

Maria do Carmo disse...

Caro Seixalense desiludido, nem eu própria queria acreditar. Optar pelo abate puro e simples dos animais, porque falta dinheiro para manterem os animais numa das Câmaras com os maiores orçamentos do país, é de ficar sem palavras.

Caro comentador das 12h05, claro que aceito provocações desde que inteligentes. Mas não concordo muito em comparar um embrião com animal.
Não, não estava a falar do IGV, mas olha que se a política do Governo for para a frente com o fim da contribuição da pílula, vamos ter muito mais IGV.
Cumprimentos

Anónimo disse...

"Comparar um embrião com um animal"? peço desculpa mas acha que um merece mais proteção do que o outro? Qual é o mais indefeso? É óbvio que não pode existir qq tipo de comparação.
Quanto ao fim da contribuição da pilula, tem toda a razão... espero que não vá para frente. Seria um erro monumental para o tipo de vida que a nossa sociedade leva.
Mas, como não respondeu à provocação inicial, deixo-a aqui novamente: não será a IVG a forma mais fácil de resolver problemas, só que matando inocentes?

Maria do Carmo disse...

Ok, não comparemos.
Quando falei dos inocentes, falava dos animais que muitos descartam como latas velhas.
Não são seres inocentes que não merecem ser descartados?

Agora a IVG.
Tenho por opinião que nenhuma mulher a usa porque quer. Logo não é, ou não deveria ser a forma mais fácil de resolver um problema.
No entanto, já aqui me disseram o contrário, pessoas muito mais experientes do que eu sobre este assunto.

Sobre a matança de inocentes, um embrião com nove semanas é uma pessoa? Sente dor, frio, calor, fome ou sede? Pensa? Sofre?
Esta será uma questão muito profunda de debate.

Só mais um remoque (e não é nenhuma provocação).
"para o tipo de vida que a nossa sociedade leva"? Mas em toda a historia da Humanidade não se fez sexo?
S. Cipriano no tal livro negro, conta como foi abordado por uma mulher que lhe pedia para a ajudar a não conceber mais filhos. Ele apanhou uma pedra, redonda e do tamanho da palma da mão e mandou a mulher colocá-la na entrada da «gruta». O recado era que a única forma de não conceber seria a abstinência... ou mais terrivelmente recorrer às «fazedoras de anjos»...

Anónimo disse...

Parafraseando Saramago
"O cao e uma especie de plataforma onde os sentimentos humanos se encontram. O cao aproxima-se dos homens para os interrogar sobre o que e isso de ser humano"

Anónimo disse...

Ainda Saramago
"Não se percebeu ainda que o instinto sirve melhor aos animais do que a razao serve ao homem. O animal, para se alimentar, tem que matar outro animal. Mas nos não, nos matamos por prazer, por gostom"

Anónimo disse...

A decisão sobre qual o destino a dar aos animais abandonados, após 8 dias no canil/gatil, cabe, legalmente, ao médico veterinário municipal e não a um vereador. Foi só uma opinião, pessoal, que não reflete a vontade da administração da Câmara (penso).

Maria do Carmo disse...

Não posso deixar de concordar mais com as suas frases. Sempre tive cães e gatos, e tenho pena das crianças a quem hoje em dia tal relacionamento é proibido com a desculpa da falta de tempo ou de sujarem a carpete.

Quando à decisão, no caso, o canil do Seixal não é de abate, como tal não se coloca a questão dos oito dias.
O que está em causa é a decisão da Câmara de passar a realizar novamente abate dos animais por falta de verbas para manter os animais no canil. E esta caberá sempre à Câmara.

Cumprimentos

Anónimo disse...

A decisão de abate nunca, mas nunca, é da Câmara. As únicas entidades que podem obrigar o médico veterinário municipal a abater um animal, desde que fundamentado, e esta fundamentação não passa pelo excesso de animais abandonados ou recolhidos no canil, são um juíz e o Director Geral de Veterinária. Isto é o que está legislado. Uma coisa é o que eu quero, outra é o que eu posso.

Maria do Carmo disse...

Caro comentador de 16 de Setembro, as minhas desculpas por só agora publicar o seu comentário, mas estive longe do computador.

Agradeço o esclarecimento, se assim é, espero que o Juiz ou o Director Geral de Veterinária, tenham em conta a vida dos animais e não permitam que se retroceda na decisão de não abate.

Da minha parte, limitei-me a reproduzir o que ouvi, e que me chocou profundamente.

Cumprimentos