quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Servos e vilões


Feudalismo: «Sociedade rural, de economia essencialmente agrária, onde a propriedade ou posse da terra determinava a posição do indivíduo na hierarquia social. A terra era a expressão da riqueza, que dividia a sociedade feudal em dois estratos: os senhores e o servos.
Os senhores feudais eram os possuidores ou proprietários de feudos.
Os dependentes eram servos e vilões. Os servos não tinham a propriedade ou posse da terra e estavam presos a ela. Eram trabalhadores semi-livres. Em número reduzido, havia um outro tipo de trabalhador medieval, o vilão.»


Lembro-me que dos meus dias de escola onde ouvi pela primeira vez falar deste tipo de sociedade. E isto era algo que me fazia uma enorme confusão. Como é que podia ter existido uma sociedade onde um único homem pudesse dispor da vida de centenas e todos estivessem sujeitos, sobrecarregados de impostos, sem se revoltarem e exigirem melhores condições de vida?
Na altura pensava, ufanamente, que era uma sorte já não viver naquela época de trevas.
Afinal, eu era uma das crianças de Abril, ouvia desde o primeiro dia de escola (e antes) falar de liberdade, de direitos, de uma nova sociedade.

Nesses «dias de hoje», eu era livre para poder ir para qualquer lado, os meus pais ganhavam o seu sustento e não tinham de obedecer cegamente a um senhor feudal e tinha um Governo que defenderia sempre os meus direitos.
E só pensava como era afortunada.
Hoje, quase quarenta anos volvidos, vejo-me a olhar para este tipo de sociedade feudal medieval, e a pensar que, afinal, vários séculos passados desde a idade das Trevas, voltámos a um novo estado feudal, onde os direitos básicos são ignorados, onde o trabalho não garante um ordenado ou a independência, onde há um «senhor» que manda e desmanda nos seus servos e vilões, onde uma vida inteira a trabalhar não dá garantias de ter uma casa própria ou de ter apoio na velhice.
Afinal, não aprendi apenas História do passado, estou a vivê-la.
Mas fica a pergunta: afinal, quando é que a História voltou à Idade Média?

4 comentários:

Anónimo disse...

Eu também não sei, mas vou divagando por aí
-Direito e justiça não são sinónimos, e talvez possamos invocar Hobbes,”O homem é o lobo do próprio homem”; tomemos por direito o que é legitimo, conceito que introduz uma preocupação normativa, reguladora, e assim, falamos do direito positivo, o conjunto de leis, usos e costumes que regulam as relações entre os homens em determinada comunidade; teremos de considerar também o direito natural, que se afirma pela subsistência de um conjunto de prerrogativas que cada homem tem direito de reivindicar, a todo o tempo e em qualquer condição, pois são parte da natureza humana, e pelos quais, no limite, devem iluminar a feitura das leis; consideremos por Justiça o principio evocado para dirrimir a disputa entre as partes que invocam-aquilo que é seu- ; a justiça processual , como a que é exercida pelo juiz com base na lei, estabelecendo a paridade entre o dano e o reparo, entre o crime e a pena aplicada; mas talvez seja relevante pensar na justiça como ideia, como a representação do estado de pleno equilibrio da vida social, como valor da ponderação atribuída aos bens, valoração que varia no tempo e no espaço, pois na verdade os valores sociais têm existência histórica, não são perpétuos, pelo que a ideia de justiça varia constantemente, e o que era justo para os antigos talvez não o seja para nós, embora possa voltar a sê-lo no futuro.

Maria do Carmo disse...

Boa tarde caro anónimo e obrigado pela sua participação.

Embora concorde com o que diz, sobre a ideia de justiça variar constantemente, o que é um facto, infelizmente, é que ela continua a ser um bocadinho menos cega do que devia ser.
E isto é algo que atravessa todos os séculos.

Cumprimentos!

Anónimo disse...

Ah! O Estado de Direito! Para os que considerem este direito adquirido, esta conquista como perpétua, reza a história que o seu instrumento, o poder judicial, cego por natureza, garante essencial da sociedade da confiança, nunca resistiu a uma desregulamentação e indisciplina generalizada.

Maria do Carmo disse...

Caro comentador,
Só posso dizer: nem mais, nem mais...

Cmps