Ouvir Zeca Afonso, para mim, quase mais do que simbolizar a Revolução dos Cravos (prefiro chamá-la assim, porque foi uma revolução de mais, muitos mais, dias do que apenas o 25 de Abril), traz-me à memória um parque infantil. O parque infantil das Cavaquinhas.
Corria o ano de 1975, mais propriamente o dia 25 de Abril desse ano, e tinham lugar as primeiras eleições legislativas livres com sufrágio universal realizadas no país.
Os meus pais, tal como milhares de pessoas, quiseram estar nos locais de voto logo cedo. E onde deixar as crianças pequenas, como eu na altura, senão no parque infantil, sem se preocuparem com desconhecidos, segurança ou afins.
Afinal, o país vivia os primeiros tempos de liberdade. Eram outros tempos.
E recordo as horas passadas nesse parque infantil, com outras crianças, enquanto os nossos pais esperavam pacientemente pela sua vez de votarem na escola secundária das Cavaquinhas, agora escola secundária Dr. José Afonso (e muito justamente, na minha opinião).
Mas a que propósito vem o cantor?
É que me recordo claramente de ouvir, durante essas horas de brincadeira e espera, a música de Zeca em enormes altifalantes que ecoavam por toda a zona.
Que digo eu? Por todo o concelho.
É por isso que, quando ouço Zeca Afonso, para além dos sentimentos ligados à Liberdade que me foram ensinados, felizmente desde a escola primária, desperta-me o sentimento da liberdade da infância, dos dias em que apenas o brilhar do Sol contava, para poder ir brincar para a rua, e de preferência no parque infantil das Cavaquinhas.
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