Uma das coisas que digo a todas as pessoas que trabalham comigo em jornalismo, é que esta é a melhor e a pior das profissões.
Lidamos com muitas pessoas, vimos muitas coisas, entramos em locais onde poucos entram, ouvimos e falamos sobre tudo.
E há a excitação da notícia.
Do sermos os primeiros a chegar a qualquer local, o arrepio que nos percorre o corpo quando ouvimos uma sirene, quando vemos fumo, quando sabemos que vamos fazer a reportagem de algo mas não sabemos bem o quê. E no meu caso também, o tentar sempre obter uma boa fotografia, seja em que condições for.
Mas por vezes há este reverso da medalha.
Quando a reportagem deixa de ser apenas algo frio sobre o que escrevemos e passa a ser algo quase pessoal.
Ontem foi um desses casos.
Seguia para Setúbal quando ouvi ambulâncias e vi fumo. Claro que foi logo accionado o «modo jornalista» e segui até ao fumo.
«Uma fábrica», pensei. Tentar saber tudo, se há feridos, o que arde, etc.
De repente olhei e vi afinal o que estava a arder.
Tocá Rufar.
Um nome que ninguém no Seixal e talvez no país desconhece.
A imagem de jovens ‘falando’ alegremente através dos bombos. Um projecto que conheço quase desde a sua génese, porque entrevistei Rui Júnior para o extinto «Repórter do Seixal» quando inauguraram a sua sede no Casal do Marco.
Quando o vi ali, impotente, a olhar o trabalho dos bombeiros, sabendo que nada podia salvar do trabalho de quase quinze anos, não fiquei com os olhos secos.
Falei com ele, fiz algumas perguntas, mas a voz embargava-se na garganta. Além da música, é uma parte da nossa história que ali estava e se perdeu.
Pelo que já li no site dos Tocá Rufar, não se vão calar os bombos.
E que o som destes cale da memória este momento.
5 comentários:
Caro comentador,
Agradeço o seu comentário, mas não o posso publicar, não seria correcto da minha parte.
Isto apesar de saber que é verdade o que diz.
Verdades inconvenientes?
Nenhuma verdade é inconveniente desde que devidamente provada.
Basta ser verdade...
Nem mais. E o que afirma comprava-se hoje mesmo.
No entanto, explico que se não publiquei o seu comentário não foi por duvidar do mesmo, apenas porque não seria (para mim) eticamente correcto neste texto específico.
Mas pode ser que em breve, mesmo muito em breve, fale de vários "apoios" muitissimo ajustados que por aí andam.
E nesse texto terei todo o prazer em publicar o que disse.
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