sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Dura realidade

Muitas vezes, em tom de brincadeira, os jornalistas dizem entre si, sobretudo na silly season, «era tão bom que se desse para aí um crimezinho ou um incêndiozito para termos notícia». Funciona um pouco como ‘piada interna’, em alturas em que se repetem os temas possíveis para realizar reportagens, abrir noticiários ou fazer capas de jornais.
E eis senão quando a realidade nos bate de frente no rosto.
Uma informação, alguns telefonemas, e a notícia que ninguém queria dar: um triplo homicídio aqui mesmo na nossa área de abrangência noticiosa.
Depois de algumas informações dispersas, do primeiro impacto de uma notícia que nos horroriza, vem uma interrogação: ‘será alguém que conheço’?
E a ânsia de obter mais dados, de saber nomes, locais, com a noção de que, mesmo que não seja pessoa que conheçamos, será sempre o filho, o familiar, o amigo, o colega de alguém que vai sofrer com a notícia que nos apressamos a dar.
E ainda é pior quando o acontecimento se passa com alguém que conhecemos, mesmo que remotamente. Há que apelar a toda a frieza que sempre nos disseram ser absolutamente necessária para estar nesta profissão.
Após a notícia do acto, tresloucado e sem explicação, embora não nos caiba a nós fazer essas classificações, cabe obter mais informações, e se possível, como ensinam os manuais, dar uma versão diferente da notícia.
E no caso que refiro, houve um bom e um mau exemplo, do meu ponto de vista.
Um diário nacional, centenário, apresentou uma reportagem tocante, feita do ponto de vista dos jornalistas que chegaram ao posto territorial da GNR da Quinta do Conde, poucas horas depois do acontecimento.
O ponto de vista de quem, do lado de fora, assistia a uma dor profunda, às lágrimas contidas, à voz embargada dos que tentavam lidar com uma situação para a qual nenhum treino militar os prepara. A perda de um camarada em serviço.
Do outro lado do espectro, um outro diário nacional, que nos habitou já a uma visão «diferente» dos acontecimentos, a fazer ligando o homicida a um familiar que obteve alguns momentos de fama num reality show.
Pior do que o jornalismo do copy past, que se vê hoje muito por aí, é este debitar de dados, de uma grosseria a toda a prova.
Três pessoas assassinadas, quatro famílias destruídas, dor e revolta, e o que interessa para este jornal, é o parentesco do homicida com alguém remotamente famoso…

Não, isto não é, nem nunca será jornalismo.

domingo, 5 de julho de 2015

O gato e o galo


 
O título deste artigo não tem a ver com a fábula de Esopo. Antes tivesse.
Confesso que por vários motivos pessoais, esta semana estive pouco atenta às notícias nacionais e estrangeiras. No entanto, algo me tocou daquilo que foi sendo divulgado e, neste caso concreto, denunciado.
Tratou-se da ‘Queima do Gato’, no caso uma gata, que foi queimada em nome de uma «tradição» em Vila Flor.
Quem me conhece, sabe que sou acérrima defensora dos direitos dos animais e me oponho de forma ferrenha a touradas e outros “espectáculos” que causem dor ou desconforto a animais. E são muitos os argumentos que tenho lido contra e a favor desses.
Mas não consigo encontrar nenhum argumento que sustente o horror que é manter um gato dentro de um pote, para depois lhe deitar fogo e divertirem-se meia dúzia de energúmenos com o sofrimento causado desta forma ao animal.
Em Ruivós, freguesia de Sabugal, a população juntou-se também para enterrar um galo e tentar acertar-lhe na cabeça, com uma enxada. Argumentam também a existência de uma «tradição» para este acto.

Podem alegar alguns que animais para consumo são mortos também.
É uma verdade, e por isso devemos todos exigir que o transporte e a matança seja efectuada sem causar danos aos animais.
Nas matanças de porco a que tenho assistido ao longo da vida, e quem a elas já assistiu sabe também que sempre se primou por evitar ao máximo o sofrimento do animal, até afastando do local pessoas que pudessem «ter pena do bicho, para que ele tivesse uma morte rápida».
Sempre vi familiares matarem coelhos e galinhas, e não encaro a carne que consumo como algo simplesmente saído dos frigoríficos de um supermercado.

Mas estes dois casos não são tradição nem cultura. É sadismo e barbarismo.

Pode ter sido assim no passado, mas as pessoas evoluem.
Veja-se o caso de Monsanto, onde atiravam um animal em chamas pela encosta abaixo, numa antiquíssima tradição, que agora é substituída por um pote a arder, ou o do enterro do galo do Entrudo em muitos pontos de Portugal (noutros será o do chouriço ou do bacalhau), mas em que o animal vivo foi substituído por figuras de papel.
Tenho esperança que a nova legislação que pune crimes contra animais de estimação, puna severamente os autores do crime de Vila Flor (infelizmente o outro não o será, porque um galo não se enquadra na referida lei).
Sim, há outros crimes que podem ser mais graves, outros assuntos mais problemáticos, outros seres que sofrem.
Há, e por isso mesmo temos o dever de lutar por todos, por um mundo melhor para todos o que o partilham.
E embora tenha a certeza de que serão muito poucos os que podem criticar-me por esta defesa pública dos animais contra um acto que nada tem de tradição, peço a esses apenas um momento de reflexão sobre o assunto, e que se lembrem que quem pratica estes actos, também vota…

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Erros, enganos e idiotice

 
É bem velho o dito que afirma «só não erra quem não faz». Todos na vida já errámos, e se uns nem se preocuparam com isso, outros houve que pagaram pelos erros que cometeram, e falo aqui ao nível profissional.
No jornalismo, também ninguém está isento de erros.
Seja na precipitação de querer ser o primeiro a transmitir determinada notícia, seja porque a informação nos chegou deturpada, seja porque as fontes não souberam dar toda a informação ou seja ainda por preguiça mental de quem transcreve os factos, o que é certo é que se dão erros.
Como jornalista não estou isenta de os cometer, apesar dos meus anos nesta área.
No entanto, nem sempre o nosso sexto sentido nos alerta quando alguma coisa está mal, e daí por vezes cairmos no erro.
Há algum tempo, numa notícia que me chegou de forma oficial, sobre o número de médicos para a região do distrito de Setúbal, e transcrita por mim como sendo correcta e à prova de erro, fui simpaticamente corrigida por alguém que, conhecedor da realidade, contrapôs essa notícia oficial com os dados reais, atitude que só tive de agradecer.
Noutra ocasião mais recente, uma nota da PSP dava conta de um sequestro num stand na Quinta do Conde. Ora aí entrou o meu conhecimento pessoal, porque reconhecendo o nome do referido estabelecimento, soube de imediato que a informação não era a correcta. E nem, viemos depois a saber, o local concreto do sequestro.
Ainda mais um exemplo aconteceu com uma informação que me chegou, de uma fonte fidedigna, de que haveria feridos aquando da explosão que ocorreu na pedreira de Sesimbra.
Algo precipitadamente, tendo em conta a confiança na fonte, coloquei essa informação. Felizmente, tive depois de a desmentir, porque não houve feridos.
E foi uma notícia pela qual várias pessoas, como se diz na gíria, «me deram nas orelhas».
Como profissional só tenho a agradecer a atenção com que os meus leitores seguem tudo o que o «Comércio» publica e de certa forma se sentiram incomodados por uma notícia que não estava correcta, habituados que estão ao nível jornalístico deste jornal, ao contrário de outros, de renome e de tiragem nacional, onde lemos os maiores disparates, não por falta de informação, mas por puro laxismo de quem escreve.
Não devia custar muito verificar se uma acção policial decorreu na noite de quinta-feira ou na manhã de sexta-feira. Nem custaria muito averiguar se o Centro Comercial do Miratejo fica no concelho do Seixal ou no de Almada.
Mas adiante. Vamos então à terceira parte do título desta crónica, a «idiotice».
Esta entra quando alguém, aproveitando-se de um simples erro de um jornal que em oito anos nunca teve de repor a verdade de qualquer notícia, e raramente teve de fazer uma nota pedindo desculpa por alguma gralha, surge como paladino da verdade, tentando tirar dividendos dessa situação e fazer desse facto um grande acontecimento.
Felizmente, contam-se por metade dos dedos de uma mão o tipo de pessoas que têm essa mentalidade infantil.
Quanto a mim, tenciono ir aprendendo com todos os erros, evitando-os e tentando nunca os
repetir, porque é isso que nos faz crescer como pessoas e enquanto profissionais.
«Não me envergonho de corrigir os meus erros e mudar de opinião, porque não me envergonho de raciocinar e aprender.»
Alexandre Herculano
 
 

sábado, 25 de abril de 2015

De luto ou a forma como os ditos "democratas" querem calar a imprensa



Na semana em que por todo o país se agitam os esplendores do 25 de Abril e os partidos do Centrão ameaçam a imprensa com sanções e com censura no âmbito da cobertura das campanhas eleitorais, o jornal que dirijo viu um anúncio da Câmara Municipal do Seixal ser adjudicado e depois anulado.
Pelo meio, uma entrevista polémica, com acusações sérias à autarquia, que optou por não responder quando contactada para realizar o contraditório.
Não responder? Bem...

Na semana em que se celebra a passagem de 41 anos sobre a Revolução dos Cravos, alguns jornais estão de luto.
O Diário do Distrito e o Comércio do Seixal e Sesimbra apresentam as suas edições online e em papel com uma faixa negra e com uma edição a preto e branco, respectivamente.
Não é coincidência, embora o tenha sido a forma que ambos os jornais pensaram para mostrar a sua revolta.
E esta revolta dirige-se às autarquias do distrito que fazem questão de ignorar os órgãos de comunicação social locais e regionais (ou alguns), no que respeita à distribuição de publicidade.
Trabalhando de perto, é fácil sabermos o que se passa com a maior parte dos jornais.
E também o que as autarquias decidem fazer.
Esta não é uma questão de agora nem unicamente no distrito de Setúbal.
Mas não deixa de ser curioso que a maior parte das Câmaras Municipais do distrito, pertencentes a um partido político que historicamente sempre elevou a voz em prol dos trabalhadores e das micro e pequenas empresas, sejam as próprias a tentar assim cortar um dos meios de subsistência da comunicação social local e regional.
Todos sabemos que a economia está em crise, que as empresas locais evitam todo o tipo de despesas, logo, cortam com o supérfluo que no caso pode ser a publicidade em jornais ou rádios.
Por esse motivo, qualquer publicidade vinda de uma entidade estatal, é crucial para os órgãos de comunicação social.
Mesmo quando levam mais de cinco meses para efectuarem o pagamento.
Mas não é assim que acontece.
Nas alturas em que são contactados para inserirem um simples anúncio de saudação ao 25 de Abril, as respostas são: «não há dinheiro» (embora uma simples visita ao site BASE do Governo dê para vermos alguns investimentos em ajustes directos que bradam aos céus ou haja dinheiro para inserir esses anúncios em canais televisivos), «não queremos fazer» ou simplesmente nem se dignam a responder.
No entanto, todas essas Câmaras têm pessoas ou departamentos dedicados a enviar notícias e fotografias daquilo que querem que esses meios de comunicação divulguem.
E esperam sempre que os órgãos estejam presentes para fazer a cobertura das suas iniciativas, sejam elas reuniões com a população ou inaugurações em tempo de eleições.
Como é óbvio, a função principal de qualquer órgão de comunicação social é informar os seus leitores. E se for local ou regional, tem o dever de divulgar o que acontece no meio em que se insere.
Mas não tem qualquer obrigação de o fazer serviçalmente, como muitos desejariam.
Terá de apresentar essas inaugurações e os eventos desportivos e culturais, da mesma forma que relatará os erros de gestão autárquica, os problemas da população, os desejos e as promessas não cumpridas.
E é isto que muitos políticos detestam.
Que a população tenha acesso a informação que não controlam, que não mostra apenas o lado bonitinho que se esforçam por apresentar em boletins municipais.
E portanto, mostram o seu poder retirando por completo a publicidade a determinado meio, na maior parte das vezes passando-a para outro jornal, de forma descarada e obscena.
Poderá o leitor pensar que «mas afinal, se dizem mal da Câmara Municipal X ou Y, o que esperavam?»
O que o caro leitor pode não saber é que as Câmaras Municipais estão obrigadas pela Lei das Autarquias Locais (Lei n.º 169/99 revogada pela Lei 5-A/2002), no artigo 91.º, a publicar «as deliberações dos órgãos autárquicos bem como as decisões dos respectivos titulares (…) nos jornais regionais editados na área do respectivo município, nos 30 dias subsequentes à tomada de decisão».
Agora, procure nos jornais locais e veja se encontra nestes a publicação destes dados.
Deviam também as Câmaras Municipais publicar os dias em que decorrem as reuniões camarárias e as Assembleias Municipais. Mas não o fazem.
É que este é também um exercício de cidadania de que as autarquias, não cumprindo a lei, privam o caro leitor.

Crónica semanal no Diário do Distrito.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

«Ninguém vem levantá-lo do chão»

Já o disse neste espaço que a vida de jornalista nos leva a ter de lidar com todo o tipo de situações. E nenhuma, seja ela a mais simples ou a mais complexa, nos deixa indiferentes.
E o mais difícil é isso mesmo, criar uma separação entre o jornalista que relata e a pessoa que assiste ou escuta o que terá de relatar.
Como podemos ficar impávidos perante um acidente onde ouvimos gritos, aflição e até podemos assistir à morte? Essa será uma situação que nos perseguirá por anos, acordando-nos à noite entre pesadelos e suores frios.
Como ficar impassíveis se assistimos a uma cena em que a polícia carrega sobre manifestantes, quando sabemos que a luta dessas pessoas é justa?
Além dos factos, existe outro aspecto muito importante desta profissão: as entrevistas.
Fica-nos sempre algo de todas as pessoas com quem estamos, que perdem uns minutos ou umas horas da sua vida a falar connosco.
E quem afirmar o contrário não é um jornalista, é um jornaleiro.
Seja por uma frase, um gesto, ou até algo que nos desagradou profundamente em determinada pessoa, a marca fica lá, um pouco à semelhança dos autocolantes de hotéis que antigamente os viajantes faziam questão de exibir nas suas malas de viagem.
E se a maioria das pessoas só se abre quando fala directamente connosco, permitindo-nos conhecê-la aos poucos, outros há de quem já podemos ter uma ideia pré-concebida, o que por vezes nos dificulta o trabalho.
Como é óbvio, se entrevistar um confesso autor de um crime, sou humana, e não o poderei olhar compassivamente. Mas tentarei o meu melhor para que me diga o que o levou a fazer algo assim.
E depois há aquela entrevista para a qual vamos com determinada convicção, porque o entrevistado foi exposto e condenado em praça pública e porque durante anos ouvimos o mesmo refrão relativo a determinada pessoa, que durante esse tempo se recusou a falar publicamente.
De repente, ali a temos à nossa frente. Disposta a falar, a mostrar que aquilo em que durante anos nos quiseram fazer acreditar, afinal não é tão linear como isso.
Que há mais do que a simples história do «Era uma vez».
É verdade, estou a referir-me a uma entrevista que publiquei esta semana no meu jornal e que o Diário do Distrito irá também publicar.
Foi uma entrevista que aguardei durante seis anos.
E foi uma das entrevistas que mais me surpreendeu. Pela pessoa entrevistada, pelo que foi revelado e, sobretudo, pelas reações que provocou.
Isto porque se tratou de uma entrevista com uma pessoa que teve elevados cargos e, de um momento para o outro, a sua situação de poder deixou de existir.
Mas o que me levou a colocar este título tem a ver com os versos da minha canção favorita de José Afonso, «Vejam Bem», quando esta refere: ‘E se houver / uma praça de gente madura / ninguém vem levantá-lo do chão / ninguém vem levantá-lo do chão’.
Isto porque as tais reacções que li num grupo do facebook onde a entrevista foi partilhada foi precisamente a de quem vê alguém caído no chão e nada faz para o levantar, antes virando costas ou, pior ainda, atirando-lhe pedras.
Sei que como jornalista não posso, ou não devo pronunciar-me depois de ter publicado seja o que for. Mas «raios me partam» se um dia deixar passar por mim, como a água do chuveiro, aquilo que me revolta, sobretudo quando isso roça a cobardia.
A cobardia com que os fracos se revoltam contra o gigante que caiu, mas a de quem fugiam quando este estava de pé. A cobardia de quem usando impunemente um computador aproveita para insultar. Mas sobretudo a cobardia de manada, de quem prefere continuar a acreditar no «credo» que lhe foram incutindo, porque acha que pensar é um exercício demasiado difícil.

Mais um texto meu no Diário do Distrito.

domingo, 5 de abril de 2015

«Comentadores de sanita»

 
À primeira vista pode parecer ao meu leitor que este é um termo chocante e pouco educado.
No entanto, é o único termo que me ocorre quando ouço ou leio determinados senhores ou senhoras que, «do alto das suas tamanquinhas» se põem a debitar os mais diversos disparates nos órgãos de comunicação social.
É vê-los na televisão, nos jornais ou nas rádios a falarem, falarem e falarem, com tal vazio de ideias que nos leva a indagar se o farão apenas para ouvirem o som das suas próprias vozes ou verem a sua imagem no ecrã televisivo ou nas páginas dos jornais.
Claro que nestes não incluo os que realmente sabem aquilo sobre o que estão a falar, os verdadeiros comentadores, aqueles que com poucas palavras nos dão verdadeiras lições de vida, levando-nos a reflectir sobre o mundo que nos rodeia.
O tal «comentador de sanita» que refiro é aquele que, jactante da sua importância, não tem nada a dizer, mas nem se importa com isso, até porque, muitas das vezes, limita-se a colocar o nome por baixo do texto ou a dar a voz para ler alguma coisa que um assessor ou secretário lhe escreveu.
O que lhe importa é que a sua fotografia seja impressa ou a sua voz seja emitida numas quaisquer ondas de rádio ou televisão. O que importa é o «boneco».
E são tão vazios de ideias e tão cheios de vaidade que, quando os leitores do órgão de comunicação social para o qual “colaboram” se cansam de ler sempre o mesmo, acham sempre que a culpa não é sua, que os outros é que são ‘incultos’, que os outros é que não os mereciam.
Alguns deles, em desespero de causa, agarram-se então para um tema que sabem irá tocar uma larga camada da população. Os direitos dos animais.
Isto parece ter sido uma moda iniciada por um certo comentador com a situação do cão Zico. A partir daí, muitos mais aproveitaram acontecimentos ligados com animais para lançar considerações estapafúrdias que tocam de perto quem defende os animais, sabendo que as suas declarações serão partilhadas e comentadas, alcançando assim os quinze minutos de fama que tanto almeja.
Infelizmente, há meios de comunicação social nacionais que ainda dão espaço a certos destes «comentadores de sanita», sabendo também que este tipo de conflitos que são gerados são a única forma de retomarem alguma da popularidade que tiveram no passado.
 

segunda-feira, 30 de março de 2015

Ilusões e verdades


Numa das últimas reuniões camarárias da Câmara Municipal do Seixal, veio à baila pelos vereadores da oposição do BE e do PSD, a situação actual da comunicação social local.
Não é um assunto que normalmente seja abordado por estes eleitos. Normalmente quando se fala de jornais em reuniões camarárias ou eventos oficiais, das duas uma: ou é para pedir/exigir que se faça maior cobertura de determinadas iniciativas, ou então para «dar nas orelhas» ao jornalista/jornal que se atreveu a dizer algo que os poderes instituídos prefeririam manter em segredo.
No entanto, é preciso dizê-lo que no caso do Seixal, os vereadores e eleitos dos partidos da oposição, normalmente, têm tido uma posição de defesa dos órgãos de comunicação social locais. O mesmo não posso dizer do executivo.
Foram também os eleitos da oposição que têm discutido o custo de um boletim quinzenal da autarquia, que custa vários milhares de euros entre produção, impressão e distribuição e de que forma esse custo não poderia ser aplicado na comunicação social local.
Há uns anos atrás, foi por iniciativa de um vereador do PS que se ficou a saber que em ano de eleições autárquicas houve jornais aqui do concelho a receber da autarquia chorudas maquias em publicidade, enquanto que “outro” recebia uma mera migalhita…
Aliás, o corte da inserção publicitária por parte das autarquias é a forma mais directa de mostrarem que aquele jornal ou jornalista, está a ser incómodo e por isso, feche-se a porta.
Mas não pense o leitor que esta situação é exclusiva do Seixal. Nem por sonhos.
São raras as autarquias que estão «como Deus e os anjos» com a comunicação social local ou regional.
Para muitos, quarenta anos depois da Revolução de Abril, é ainda difícil digerir que um determinado jornal publique notícias que demonstram o outro lado de uma fachada que se quer imaculada e virginal.
É para eles praticamente impensável que um jornalista se atreva a referir que um determinado serviço, seja um canil ou as obras públicas, não cumprem com as regras que os munícipes esperam delas e para as quais pagam, com os seus impostos.
Os munícipes, esses agradecem saber a verdade por detrás dos bonitos postais ilustrados.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

«Aos ricos, o favor da lei, aos pobres, o rigor da lei»

Num país onde os jornais se vêm confrontados com todo o tipo de obstáculos, a quem são sucessivamente retirados apoios e constantemente criadas novas taxas e impostos, a luta é quase desumana, sobretudo no que respeita aos jornais e rádios regionais.
Como se já não bastasse a «guerra» que por vezes estes têm necessidade de travar entre si, quando se implementam numa mesma área geográfica, quando se trata da conquista de mercado publicitário, na maior parte das vezes o seu único sustentáculo, como se vêm ainda na eminência de lutar contra “jornais” suportados por partidos políticos ou grupos económicos.
Como se também já não bastasse a falta de respeito e de reconhecimento das autarquias locais que entendem que o jornalismo regional deve ser aquele que apenas retrata as cerimónias de «corta-fitas», à boa moda dos velhos tempos, enfrenta agora a comunicação social regional um outro estorvo.
Vem isto a propósito de um jornal editado por uma cadeia de supermercados, que se iniciou como um meio de divulgar as promoções nas respectivas lojas e agora se apresenta praticamente como um jornal regional em vários distritos do país.
Não haveria problema se o mesmíssimo jornal, além dos seus produtos, e das tais notícias regionais, não estivesse também, literalmente, a roubar mercado publicitário aos jornais já ali implementados.
Perante um grande grupo económico, com fundos estrangeiros, que vende espaço publicitário ao «preço da chuva», que hipóteses podem ter os restantes jornais?
Mas a culpa é também dos investidores, que na sua maior parte procuram os jornais regionais para divulgarem as suas iniciativas, mas depois adjudicam a sua publicidade a este tipo de “jornais”, que lhes oferecem um preço baixo e têm meios para realizarem uma tiragem mais elevada e uma distribuição mais alargada.
Sabemos que várias queixas foram apresentadas à Entidade Reguladora da Comunicação Social sobre este tipo de «tubarões» que desta forma parecem pretender acabar com a imprensa local e regional.
No entanto, mais uma vez, parece que os «Grandes», os que dominam tudo e todos, não estão abrangidos por este «braço» da autoridade no campo da comunicação social. Afinal, a ERC parece mais interessada em receber as taxas anuais dos jornais e em exigir que sejam publicados direitos de resposta em casos que, levados a tribunal, este órgão superior considera completamente descabidos de publicação.
Mas é muitíssimo mais fácil punir os pequenos.
Face ao conhecimento que tenho das queixas que aquela entidade recebeu relativamente ao tal pseudo-jornal, espero ainda que a mesma tenha a hombridade de actuar ou de delegar a actuação em quem de direito, não atrasando a sua actuação até que seja já tarde demais para salvar ou proteger os órgãos de comunicação social locais e regionais.
No entanto, perante certos “silêncios” ficamos a pensar se não haverá mesmo segundas intenções.

P.S: Mais uma das minhas crónicas no Diário do Distrito.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

A força das palavras

Esta semana a notícia em Portugal e no mundo fez-se de morte. Da morte de uma doente a quem foi negado tratamento para a hepatite C e de um piloto jordano queimado vivo.
Como cidadã, apetecia-me aplicar a ambas as mortes um único termo: ‘execução’.
Como jornalista, não o posso fazer.
Se no caso do piloto jordano Muath al-Kasaesbeh o termo foi utilizado pela maior parte dos órgãos de comunicação social, no caso de Maria Manuela Ferreira, nenhum jornalista se atreveria a tal.
Infelizmente, esta é a força das palavras.
Se no nosso íntimo todos sentimos que Maria Manuela Ferreira foi vítima de uma execução perpetrada por vários, usar um tal termo iria, no mínimo, levar a responder numa acção em tribunal, e disso ninguém duvide.
Mas se não se pode utilizar a palavra que pretendemos (e sim, pode falar-se o que se quiser de liberdade de expressão, mas existem regras e limites que não podem ser ultrapassados, pelo menos por alguns), podemos usar a força das outras palavras para denunciar.
Infelizmente nem sempre os que deviam sabem, ou querem, utilizar esse poder.
Dou apenas um exemplo: quantas pessoas já passaram horas infinitas num hospital na urgência? Quantas não terão apresentando queixas no local ou até enviado um simples email para um canal televisivo ou um jornal nacional?
No entanto, os canais televisivos e jornais apenas começaram a realmente abrir os seus noticiários e fazerem capas depois de ocorrer mais do que uma morte seguida em alguns desses hospitais.
Mais uma vez, é a morte que vende.
Há quem se pronuncie contra este tipo de jornalismo, mas o que é certo é este atrai os espectadores e os leitores. É o que sai do normal quotidiano que faz a notícia. Daí que as mortes nas urgências dos hospitais só foram notícia e quase viraram histeria em termos mediáticos, depois de morrerem várias pessoas. Incluindo no Hospital Garcia de Orta, sobre o qual há vários anos que autarquias e comissões de utentes têm vindo a alertar para a situação caótica. Quando ocorreram duas mortes seguidas, então alguém a nível nacional tomou nota e fez a “notícia”.
E a “notícia” fez o caso, correndo tinta e quase rolando cabeças. Se algo mudou?
A TVI fez uma reportagem sobre o assunto e detectou que nada ou praticamente nada mudou nas urgências hospitalares portuguesas. Nem sempre o poder das palavras tem a força suficiente para mudar mentalidades e valores monetários dos que nos governam.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Há realmente limites?


Esta semana, um dos «casos» no meio da comunicação social foi o facto de a editora Condé Nast, que publica títulos como Vanity Fair, Vogue, GQ ou The New Yorker, anunciar que os seus jornalistas vão passar a produzir conteúdos para os anunciantes.
E isto parece ter chocado muita gente, a ver pelas reacções que despoletou.
No entanto, e na realidade portuguesa que conheço, o que fazem determinadas revistas de imprensa especializada senão a chamada «publicidade encapuçada»? Ao falar de um hotel, de uma marca de moda, de uma marca de pneus ou até de rebuçados, não estão a fazer publicidade? E as publireportagens? Acham sinceramente que as editoras têm um departamento para fazer unicamente a reportagem para determinado cliente sobre a abertura de um espaço ou lançamento de um produto?
E se não quisermos falar em marcas ou serviços, o que dizer das notícias ou reportagens de entidades estatais como ministérios ou câmaras municipais.
Há realmente uma linha que separa de forma clara a publicidade e o jornalismo? Então vejamos: quando um jornal publica uma noticia que uma entidade governamental ou autarquia lhe envia sobre, por exemplo, a abertura de um concurso para um espaço, não está a fazer também publicidade?
Mas e se essa entidade colocar a mesmíssima informação noutro jornal e pagar por ela ou o outro jornal exigir o pagamento pela sua publicação.
Em que ficamos então?
O que é e o que não é publicidade?
É uma linha ténue que por vezes da qual nem sempre sabemos de que lado estamos.
Por outro lado, depois de a direcção de um jornal ficar a saber que a entidade pagou para publicação de uma informação que este colocou graciosamente, terá legitimidade para daí em diante exigir à tal entidade o pagamento por cada informação que publicar?
Tenho a noção que hoje lhe deixo mais interrogações do que informações. Mas este é também o «pão-nosso-de-cada-dia» dos jornais locais e regionais.
E colocando estas mesmas interrogações a si próprio, poderá compreender melhor determinadas tomadas de posição das direcções de muitos jornais.
É que o Sol quando nasce deve de ser para todos. E todos temos de comer todos os dias, apesar de alguns senhores acharem que só eles é que têm direito à comida no prato e o que os outros andam por cá a viver da luz do Sol.
Esta foi mais uma das minhas crónicas no Diário do Distrito, inspirada na reunião de câmara que teve lugar ontem no Seixal, sempre uma fonte de "inspiração" quinzenal...

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

De Quem e Onde é a notícia?


E eis que entrámos em mais um ano, 2015. As esperanças renovam-se num mundo melhor.

Mas logo nos chegam imagens que "chocaram" o mundo.
Homens encapuzados entram numa revista e matam os seus trabalhadores. De seguida, mais pessoas são mortas num ataque a um supermercado. Tudo isto se passa em França.
A violência gera um movimento em massa, no mundo, nas redes sociais, no país. Milhares manifestam-se nas ruas.
Menos chocado ficou o mundo com a morte de perto de duas mil pessoas, número ainda não contabilizado, em Baza, na Nigéria.
Ficamos a saber da notícia quase e só no final de um noticiário, ou nas páginas de «Lá Fora» dos jornais.
Mesmo que as imagens que nos chegam sejam bem mais chocantes, o nosso coração estará mais perto de «Charlie»

Esta é uma regra do jornalismo: é mais importante e toca-nos mais aquilo que está mais perto de nós, quer fisicamente quer por afinidade.
Quem, ao passar os olhos por um jornal, não se deteve a ler uma notícia que fala da sua terra, da terra dos seus pais ou até numa localidade onde almoçou ou passou férias?
Chama-se a isto o princípio da proximidade.
Quanto mais próximo ocorrer um acontecimento, mais probabilidades tem de se tornar notícia. A proximidade pode ser uma escolha feita pela redacção ou pelos jornalistas, antes de editarem os jornais ou noticiários.
É por esse motivo que é muito mais visível nos meios de comunicação um atentado que ocorre num país da Europa, com alguns mortos, do que um atentado num país remoto de África.
Temos depois outro aspecto estudado nos manuais de jornalismo que também relativiza a notícia.
A proeminência das nações envolvidas nas notícias. Ou seja, quanto mais proeminentes forem as nações envolvidas num acontecimento internacional, mais probabilidades ele tem de se tornar notícia.
A França, país forte da Europa, tem uma relevância muito superior, em termos de noticia, que a Nigéria ou a Síria.
Não quer isto dizer que as notícias não sejam transmitidas. Mas quase de certeza não irão fazer primeiras páginas de jornais ou abrir um noticiário televisivo durante dias.
De seguida, existe outro factor que é ponderado no momento de transmitir a notícia ou de organizar o jornal. Trata-se do factor de proeminência social dos sujeitos envolvidos.
Quanto mais proeminentes forem as pessoas envolvidas num acontecimento, mais hipóteses este tem de se tornar notícia. Cartoonistas e trabalhadores de uma revista têm muito maior relevância social do que trabalhadores rurais.
Podem parecer cruéis estas minhas palavras, no entanto, basta pensar um pouco, olhar com olhos de ver as notícias que lhe chegam e não precisará de nenhum manual de jornalismo para comprovar o que aqui digo.

P.S. Mais uma das minhas crónicas no Diário do Distrito.