domingo, 3 de outubro de 2010

As (ainda) belezas de Belém

Uma das coisas que mais gosto é visitar museus e palácios. E por isso, quando ontem a minha mãe me falou de que durante estes dias o Palácio de Belém ia estar aberto ao público e com uma exposição sobre a República, não hesitei.
Hoje, cedinho e depois de ir fazer o passeio semanal do Belchior, apesar da chuva e do vento, aí fomos até Belém, convencidas que seria uma visita tranquila. Até porque é meu lema visitar alguns locais no domingo de manhã, por ser grátis e por assim evitar os passeios em família das tardes de domingo.
Mas hoje o mesmo pensaram muitos outros portugueses e estrangeiros.
Dezenas de pessoas enfrentavam a chuva forte para esperarem à entrada (livre), mas antes da qual tínhamos de passar por um detector de metais. E como os portugueses não estão habituados a isto em edifícios públicos, foram muitos os risos e as surpresas por verem que uma simples fivela de cinto fazia disparar o alarme.
Felizmente os agentes da autoridade levavam as coisas levemente e lá iam brincando com as situações. É que aquela coisa era mesmo muito sensível.
Depois começava a visita, obrigatoriamente por um corredor de quadros de vários artistas até aos nossos dias, seguindo-se as salas e depois o resto do edifício. Lindo. E com muita simpatia da equipa que ia dando indicações.
A chuva parou um pouco e pudemos dar uma volta pelos jardins com lagos, um deles com dezenas de peixes.
A seguir visitámos a exposição dos 100 anos da República, enquanto cá fora se preparava o cenário para um programa da RTP. Como tivemos de esperar um pouco, lá fomos sabendo por parte de um membro do staff que o local eram as antigas jaulas de jaguares e panteras, por isso exíguas e as portas de ferro ainda lá estão.

Nesta, alguns objectos, simples por si só, contam grandes histórias.
Entre eles uma agenda marca, ao lado de uns óculos e uma caneta, uma data fatídica. São pertença de Sá Carneiro.
Ali ao lado, um rádio de Oliveira de Salazar, um manuscrito de José Saramago do Memorial do Convento e litografias originais de Álvaro Cunhal, bem como uma parte da farda do General Sem Medo (apesar de gostar muito de lâminas, não sei se a designação desta será de punhal).
Um pouco mais adiante o Museu da Presidência, com os quadros de todos os presidentes, as prendas dadas e muita História. Os quadros percorrem os cem anos de República, e também os gostos em termos artísticos, porque temos de tudo, desde os clássicos ao quadro quase fotográfico de Ramalho Eanes, ao de Paula Rego de Jorge Sampaio, e ao que tanta polémica deu de Mário Soares, de Júlio Pomar (na minha opinião, muito giro para a sala de jantar do senhor mas inapropriado para uma galeria como esta, mas são gostos).
Muito interessante e informativo. Infelizmente, com demasiada gente hoje, e com a característica falta de civismo. Mãos nas vitrinas, conversas ao telemóvel em altos gritos frente a vitrinas que outros queriam ver, horas a apreciar uma simples jarra, miúdos a correr escadas abaixo, enfim... Muito triste.
No computo geral, no entanto, o balanço é extremamente positivo.
Apesar dos pesares, foi também interessante ver como as pessoas respondem a estas iniciativas, quando, diga-se de passagem, não estavam a ser vendidas farturas ou coisas a metade do preço. O que prova que as pessoas realmente querem ver e saber mais.
Eu gostei e recomendo.

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