Se o valor de um artista se mede pelo preço das suas obras, então José Saramago está em alta em Espanha.
Um amigo meu passou por lá e numa livraria ficou pasmo pelos preços que os livros deste autor atingem.
Pasmo porque ali ao lado havia outras obras bem conhecidas por cinco ou dez euros, ao passo que os livros de Saramago chegavam a ultrapassar os trinta euros.
E também porque dias antes tínhamos visto ambos os preços dos mesmos livros numa livraria num espaço comercial aqui no Seixal, e não chegavam aos 15 euros.
E o interesse desse amigo em Saramago devia-se ao facto de eu lhe ter recomendado vivamente o livro «Caim».
Emprestaram-me este livro um destes fins-de-semana, e não consegui parar de ler, quer à noite, quer até na praia, deixando para segundo plano os meus muito apreciados banhos de mar.
Não tão profundo como outros, mas de uma enorme sabedoria popular.
“Uma mistura entre a série «Quantum Leap» e um alentejano” foi a forma que encontrei para o descrever a esse amigo.
Quem não se lembra da série com Scott Bakula, do Passageiro no Tempo? Pois tenho a certeza que Saramago se baseou um pouco nessa personagem para o seu Caim. O resto, bem, este Caim é um autêntico alentejano.
Passo a explicar, e como tenho uma costela (ou costeleta, como alguns diriam logo) alentejana, conheço a forma de pensar destas gentes.
Uma fé profunda na natureza e num deus que acreditam não ser benigno, e por isso mesmo repudiam, mas do qual não se conseguem afastar. É uma fé sem fé, de gente sofrida que viu muito e que não aceita nem se verga a injustiças nem deixa de agir quando acha que tem razão.
Assim é este Caim de Saramago.
Devo dizer que ri muito.
Em especial no fim do livro. Acho mesmo que é o mais cómico livro de Saramago, porque é assim que deve ser encarado, como uma alegoria, onde se mistura muita da sabedoria popular do povo português.
E se me tinha rido com a conversa entre Jesus, Deus e o Diabo no «Evangelho Segundo Jesus Cristo», quase chorei de riso com a cena final deste livro, que inclui o fim do mundo e a arca de Noé (e não, não é por causa do dilúvio...).
Vale a pena ler, em especial por pessoas que se levam demasiado a sério.
Post Sriptum: Só para dizer que as obras de José Saramago para mim não têm preço, pela sua profundidade explicada de forma popular, pelas suas histórias, enfim, até por não nos cansar com pontos, virgulas e afins.
«A Caverna», «Ensaio sobre a Cegueira», «O evangelho» e a «Bagagem do Viajante» sempre foram os meus favoritos. Agora acrescento «Caim». Obrigado, Saramago.
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