sábado, 20 de dezembro de 2014

Afinal é Natal

Aproxima-se a época alta do ano, com as festas de Natal e de Ano Novo, no qual depositamos sempre grandes esperanças.
A par com a época de Verão, esta é quase uma silly season onde quase toda a gente atende os telefones a cantar «Noite Feliz» e os assuntos importantes são convenientemente deixados para «depois do Ano Novo».
Renovam-se os votos de felicidade, lembramo-nos dos amigos e conhecidos e agora até, com isto das redes sociais, é tão fácil espalhar em redor o espírito da época.
E este também se reflecte nas notícias. Seja no fecho do jornal da noite, com a imagem «congelada» em algum pormenor na árvore de Natal, sejam os temas mais solidários das reportagens, seja até a forma como se fazem as filhós tendidas no joelho da Beira Baixa (as minhas favoritas) ou a pinhoada alentejana (também a minha favorita).
Mas há um outro especto desta época. Se quase todas as semanas nos chegam via media relatos de catástrofes, de guerras, de mortes, quando as recebemos (ou transmitimos) nesta altura, parece que tomam um peso diferente.
Já por várias vezes ouvi pessoas a dizer «ah, já se esperava algo assim, afinal é Natal». Um dos exemplos disto foi o tsunami que atingiu a Tailândia em 2004.
Quando falamos em tsunami, decerto que é quase sempre este que nos vem à memória. Motivo? A data em que ocorreu, 26 de Dezembro, época das festas.
Claro que ocorreu outro terrível no Japão, e bem mais recente, em 2011. Mas recorda-se da data certa? Se calhar terá de ir ver à internet…
Mais distante no tempo foi o sismo da Terceira, em 1980. Data? 1 de Janeiro…
Não se trata, como é óbvio, de qualquer teoria de conspiração. É apenas a nossa racionalidade humana. Tal como nos toca mais uma tragédia que tenha ocorrido perto de onde vivemos, de onde nascemos ou de onde trabalhamos, também as notícias na época que se quer de alegria e paz, nos marcam mais profundamente.
E com votos que este ano não tenhamos notícias deste carácter para marcar o final de 2014, despeço-me desejando a todos os leitores do Diário do Distrito, e já agora, do Comércio do Seixal e Sesimbra, um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de esperança num futuro melhor.
Lembremo-nos que já passámos por muito pior e saímos vencedores.
Procuremos essa força dentro de cada um de nós para realmente fazer a diferença.
Feliz 2015!!!
 
P.S: Mais uma das minhas crónicas no Diário do Distrito, a última deste ano. E aproveito ainda para desejar, à minha maneira e do Belchior, umas Festas Felizes a quem visita este meu cantinho.
 
 

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Amargos de boca



Já há algum tempo que não escrevia neste espaço sobre comida. Não que não seja um dos meus temas favoritos, mas com esta história da crise, limitei em muito as saídas gastronómicas.

No entanto, volta e meia, é preciso ir até um restaurante, local perfeito para uma reunião ou conversa. Foi o que aconteceu esta segunda-feira.
Confesso que até fiquei animada com a escolha, porque se tratava de um espaço novo, na Aldeia de Paio Pires, que bem precisa de restaurantes que atraiam pessoas. De fora um aspecto impecável, um menu atraente e com preços que pareciam em conta.
No interior, uma decoração sóbria mas bonita, e muita simpatia. À espera na mesa já estavam algumas entradas (um dia destes algum destes restaurantes vai ter problemas, porque segundo a lei, as mesmas colocadas em cima da mesa sem serem pedidas são consideradas como ofertas...).
Pedimos então o que pensávamos ser uma dose, tendo-nos sido explicado que no cardápio o preço era referente a 1/2 dose apenas. Ok, algo um pouco menos simpático, tendo em conta o tipo de informação prestada no exterior.
Avançámos então para uns «miminhos assados com bacon e migas de broa».
Primeiro que tudo, o nome do prato era maior do que a dose servida. Uns bocaditos de carne, embora bem temperados e grelhados, cobertos por duas fatias de bacon que nem sequer tinham sido apresentadas à chapa quente e que na sua extensão, cobriam completamente os tais «miminhos».
As migas, sem sequer terem levado um bocadito de poejo que lhes dá o gosto característico, eram de tudo menos de broa. Vinham sim muito bem enformadas.
Verduras ou algo semelhante, nem vê-las.
Ao lado, o terceiro comensal deste almoço, pedira umas iscas com batata frita.
Talvez por se tratar de um corte de carne mais barato, as ditas vinham servidas com maior abundância.
Foi muito triste constatar que, numa altura de crise profunda no sector da restauração, ainda há quem brinque com estas coisas. Sim, porque aquilo que ontem me foi servido mais não era do que uma brincadeira.
Sinceramente, fiquei extremamente desiludida. Não voltarei lá nem recomendarei, porque fiquei literalmente com um «amargo de boca»...

sábado, 8 de novembro de 2014

Princípios, meios e fins

A conjectura de crise em que Portugal está mergulhado leva a que a cada dia que passa encerrem empresas de todas as dimensões.
E as que vão resistindo enfrentam um autêntico muro de adversidades levantado por um Estado que devia ser o primeiro a incentivar a iniciativa privada, a verdadeira alavanca do desenvolvimento económico.
A comunicação social não é alheia a esta situação, e neste meio tanto soçobram os pequenos meios ao nível regional e local, como as grandes multinacionais.
Ainda esta semana foi feito o anúncio de que a revista GQ Portugal, editada pela Cofina, iria sair das bancas. Outras já foram descontinuadas e mais serão.
Falta de qualidade? Na maior parte dos casos, não. Apenas uma descida acentuada nas vendas de publicidade, principal meio de subsistência dos meios de comunicação social.
Vem isto a propósito do anúncio que um vereador fez ontem na reunião camarária do Seixal, onde informou que o outro título que é distribuído neste concelho está suspenso por tempo indeterminado.  
Em termos jornalísticos, isso traduz-se por uma perda para a população deste concelho, tendo em conta que por muito que tentemos, raramente um jornal local consegue abarcar todos os eventos locais, sobretudo num concelho com uma actividade cultural e desportiva como o Seixal.
A existência de mais do que um jornal local permite uma maior abrangência, que se traduz num leque muito mais alargado de informação para a população.
Frisei a questão jornalística porque se nesta lamento a suspensão do referido título (também por uma questão de respeito para com os jornalistas), já em termos concorrenciais no que respeita ao mercado publicitário não posso dizer o mesmo.
A concorrência quando é saudável e leal, faz-nos tentar fazer melhor e conseguir chegar mais longe. E, acima de tudo, há algo que nunca se pode desrespeitar: os anunciantes.
Infelizmente neste mercado há quem considere que essa é a única forma de conseguir, não sobreviver porque sendo inteligente saberá que isso é algo que ditará a sua morte a médio ou até a curto prazo, mas aniquilar os outros meios.
Não me vou alongar sobre este assunto, que já foquei aqui, apenas dizer que ninguém pode enganar todos durante todo o tempo.
Da minha parte, só posso olhar com tristeza esta “suspensão”, sobretudo porque sei dar o valor do que é lutar diariamente por trazer a público a melhor informação, dando o melhor de nós em nome de algo que se acredita.
Sobretudo quando dentro de dias o meu jornal irá completar sete anos de existência, de uma longa mas também muito frutuosa luta, de um longo caminho que, queremos acreditar, ainda vai no seu início.

P.S. - Mais uma crónica minha no Diário do Distrito.  

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Os tiranetes


No seguimento da minha crónica da passada semana, sobre o jornalismo e publicidade, vem a propósito o seguinte caso que me relataram.   
Um jornalista meu conhecido aqui no distrito de Setúbal, estando presente num evento, foi abordado por um edil que lhe EXIGIU a realização de uma peça sobre determinado assunto. Um assunto que “metia” questões políticas. 
Perante a recusa de acatar tal “ordem”, eis que das palavras se passaram às ameaças directas. Conhecendo o profissional em questão, tenho a certeza que o “valentão” terá levado que contar.  
No entanto, se este tipo de atitude espanta o leitor, tenho a dizer-lhe que embora não sejam frequentes, este tipo de atitudes é algo perante o qual qualquer jornalista, sobretudo os que trabalham ao nível do jornalismo regional, já se viu confrontado. 
Há quem não tenha o discernimento suficiente para separar algum tipo de familiaridade que se vai criando ao longo dos tempos e no decurso de muitas iniciativas onde se repetem as mesmas caras. Consideram que um cumprimento, um sorriso ou até alguma conversa mais informal durante o tempo que se espera o início de algo ou num intervalo de uma iniciativa, são suficiente incentivo para passarem a pôr e dispor do jornalista e do meio que este representa. 
É óbvio que existe algum tipo de simbiose entre jornalistas e representantes de entidades ou partidos políticos. São as tais «fontes» de que já falei. 
São a elas que recorremos para obter determinada informação, esclarecimento ou até o «furo noticioso». E é claro que muitas das vezes, quem presta essa informação, quer algo em troca.  
Claro que é também perfeitamente natural que os eleitos políticos enviem determinado tipo de informação para um órgão de comunicação social e esperem que o mesmo tenha o tratamento jornalístico apropriado e a respectiva divulgação. 
Ou que numa conversa, se lance um tópico que pode (ou não) vir a ser abordado jornalisticamente.  
O que não se espera nem se pode admitir, são as atitudes de ameaça perante os jornalistas e órgãos de comunicação que se recusam a tratar a notícia da tal forma publicitária como desejariam.  
Infelizmente, se por um lado o jornalista enfrenta na maior parte dos seus dias aqueles que tentam a todo o custo calar quem transmite à população assuntos que preferiram ver fechados a sete chaves, por outro tem de lidar com os tiranetes, que julgando-se acima de qualquer moralidade, se acham no direito de exigir aquilo a que nunca tiveram ou terão direito. 

sábado, 25 de outubro de 2014

Jornalismo ou publicidade


 
George Orwell dizia que «jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade».
Como é óbvio, dificilmente nos dias de hoje, um meio de comunicação social consegue manter as suas páginas ou o seu tempo de emissão, apenas com as tais reportagens que podem realmente vir a «beliscar» alguém.
É muito dispendioso manter equipas de reportagem apenas para o tal jornalismo de investigação, embora isso tenha sido algo que já fez parte das redacções de grandes títulos da imprensa nacional, mas que foi descartado devido à fome mercantilista.
É por isso que cada vez mais os chamados «fait-divers» saltam das últimas páginas para outras mais visíveis ou ocupam um espaço maior nos noticiários.
No entanto, por outro lado, tendo em conta todos os meios ao dispor de um jornalista actualmente, já não é necessário a uma redacção ter um piso inteiro com uma equipa de repórteres, aguardando expectantes junto da máquina de fax ou ao computador, prontos a sair para a rua e/ou a passarem horas atrás de um «furo».
O «jornalismo do cidadão» e a crescente consciência de cidadania e dos meios disponíveis para praticar essa cidadania, são muitas vezes tudo o que é preciso para um verdadeiro jornalista fazer o seu trabalho sem muito esforço.
E muito temos a agradecer ao fenómeno do século XXI, as redes sociais. Creio que já falei por aqui no papel positivo e negativo que estas apresentam na nossa sociedade, mas nunca é demais frisar que podem ser um perigo quando utilizadas por cobardes ou gente malformada. No entanto podem, e são-no na maioria das vezes, o meio mais directo e rápido para ajudar, para resolver situações, para alertar e para denunciar.
Vou dar um exemplo prático, muito recente e do qual se calhar a maioria das pessoas que lê estas linhas hoje, já se deram conta.
O aumento da quantidade de lixo nas ruas que tem vindo a ser sentida um pouco por todo o distrito. Como é óbvio, antes de ser jornalista, sou cidadã e munícipe e por isso também reparo nessa acumulação.
Mas também me chama a atenção os alertas nos grupos a que pertenço, dos amigos da minha área de residência, que denunciam sobretudo com fotografias.
A mim, enquanto jornalista, cabe-me então inquirir quem de direito sobre o assunto, sobretudo se os outros cidadãos não obtêm resposta através dos mesmos meios que usam para denunciar.
Essa é a notícia que alguns podem não querer que se publique, uma vez que não ficam tão bem na fotografia. Mas esse é o papel do jornalista.
O resto, a reportagem da inauguração, da conferência, do aniversário, não passam de publicidade, que embora necessária, é o único tipo de jornalismo com que alguns poderes instituídos conseguem conviver.
O jornalismo que não belisca, que não aprofunda, que apresenta tudo à luz cor-de-rosa de um universo perfeito, é acarinhado por esses poderes instituídos. O outro, o verdadeiro, o que investiva, que interroga, que não deixa cair no esquecimento, é visto com maus olhos, sendo imenso o esforço feito para o denegrir, mais não seja convencendo os fiéis seguidores dos poderes instituídos de que nem para esse meio devem olhar, ler ou ouvir.
Por isso, e por hoje, termino com mais uma frase de George Orwell «Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir».

P.S. - Mais uma das minhas crónicas para o Diário do Distrito.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Amnésias


Não sei se já falei nestas crónicas sobre a falta de memória. É que isto com a idade…
Mas a questão da memória, ou melhor, de certas amnésias, é um tema que tem vindo muito a lume recentemente na comunicação social.
E se há temas que toda a gente da comunicação social adora agarrar, explorar e esmiuçar até ao mais ínfimo pormenor, (por vezes até chamamos a essas notícias um «rebuçadinho»), são estas questões, e melhor ainda se for com alguém que nesse momento está no pico do desagrado do público.
Recordo um dos casos mais recentes, o da alegada falta de memória de Pedro Passos Coelho sobre os seus serviços à Tecnoforma.
Capas, paragonas, litros e litros de tinta sobre o assunto, informações mais ou menos secretas, testemunhos de colegas, e até ameaças por parte dos responsáveis da empresa sobre quem se pronunciasse acerca desta.
Para muita comunicação social isto foi mais do que um «rebuçadinho», foi um autêntico saco de caramelos, daqueles Logroño que antigamente se compravam nas excursões a Badajoz.
A falta de memória parece ser a melhor desculpa para muitas pessoas, sobretudo políticos. Lembram-se de Aníbal Cavaco Silva afirmar que não se recordava de como foi feita a permuta da sua casa no Algarve?
Ou de José Sócrates não se recordar do tema do seu trabalho final na Universidade Independente?
Ou de o antigo ministro da Educação, Roberto Carneiro, não se recordar se, enquanto exerceu funções entre 1987 e 1991, contratou algum grupo de trabalho remunerado com profissionais exteriores à Função Pública, no julgamento de Maria de Lurdes Rodrigues, antiga ministra da Educação?
E são essas recordações que a comunicação social se empenha em trazer à luz do dia. Em apontar e recordar a quem de direito que não estão a salvo das luzes inquisidoras da opinião pública e do rebuscamento de arquivos poeirentos por parte dos jornalistas.
São as recordações que muito agradam aos leitores e, sobretudo, à oposição política do visado.
Este problema de amnésia parece ser mais incisivo numa determinada classe da sociedade, a dos políticos. De presidentes a ministros, de deputados a autarcas, quase estaríamos tentados a falar em pandemia (outro tema agora na moda).
Além disso, é uma amnésia muito selectiva. Se não se recordam nomeações, empregos, remunerações, emails enviados ou promessas eleitorais (se bem que esse seja o esquecimento a que todos já estamos habituados), já se recordam muito bem quando algum assunto é focado publicamente que não seja do seu agrado.
É que se todos os políticos gostam de aparecer numa fotografia ou nuns segundos televisivos, a inaugurar um equipamento, a discursar sobre o bem que vai o país ou vice-versa, a falar mal do Governo que estiver na altura no Parlamento, já não gostam quando o tema lhes relembra o que gostariam de deixar bem arrumado no fundo da gaveta da memória.
E gostariam imenso de que a tal comunicação social se esquecesse, ou melhor, deixasse tudo isso cair no esquecimento…

 

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O medo

Em crianças todos ouvimos falar do «papão», do «bicho-mau», que vinha buscar os meninos que se portavam mal ou não comiam a sopa.
O «papão» era o medo que nos incutiam desde pequenos e que em muitos casos ainda mantemos depois de adultos.
Vivemos com medos no nosso dia-a-dia. Medo da doença, do desemprego, de sermos atropelados, etc. E habituamo-nos a esses medos, por vezes até brincando, ou usando pequenos rituais para que as coisas corram bem, como sair de casa com o pé direito, ou fazer figas.
Mas o medo de que hoje falo é o que encaramos muitas vezes nesta profissão jornalística.
Não se trata do medo que advém de ameaças por, algumas vezes, colocarmos a nu aquilo que muitos gostariam de esconder.
É antes o medo que precisamos de ultrapassar para obter as declarações de uma testemunha ou o de levar uma determinada «fonte» a dar a cara pelo que diz.
São muitas as conversas em que ouvimos o «não ponha lá isso», «estou agora a falar em off» ou ainda o «não ponha na notícia o meu nome».
E até certo ponto, compreendemos esse medo, ou receio, como lhe queiram chamar.
No meu caso, recuso-me a publicar seja o que for se a pessoa que relata algo não der a cara.
Não posso ser eu, enquanto jornalista, a fazer o papel de «vingador» que essa pessoa pretende com as declarações que presta. Entendo que se quer tornar algo público, então deve assumir publicamente o que diz.
Apesar de tudo, até compreendo que muitas pessoas não queiram que a sua identidade se torne pública. Há situações extremas em que, ao falar-se de algo, se coloca demasiado em risco, muitas vezes para beneficiar outros que nem um agradecimento devolvem.
Mas, como jornalista do pós-25 de Abril, o que não consigo compreender, e sobretudo aceitar, é o medo abjecto de quem sabe que algo está mal, de quem pela sua posição na sociedade tem o dever de apontar o dedo e expor, mas que se recusa a fazê-lo porque simplesmente tem medo de perder um cargo, ou em português vernáculo, perder um «tacho».
São esses também os primeiros a criticar aqueles que sabem que vivem num país de liberdade, que querem realmente mudar as mentalidades e os poderes instituídos.
E tudo fazem para que as tais vozes, que para eles e para quem os sustenta são incómodas, se calem, porque normalmente são eles quem estão em cargos de gestão ou de direcção.
É que este tipo de pessoas interessa aos tais poderes, porque os sabem submissos, calados e obedientes. Não levantam ondas, não apontam o dedo, não erguem a voz para exigir aquilo a que eles, ou aqueles que supostamente representam, têm direito.
São semelhantes a toupeiras, mas menos dignos que estes animais, porque esses vivem abaixo do solo por ser esta a sua natureza, ao passo que estes de que falo o fazem porque não querem perder os tais privilégios. Nem que esse seja um simples título atrás do nome.
Quarenta anos depois da Revolução, ainda há quem não compreenda o que é viver em democracia.
O que é positivo, é que por cada uma dessas ‘toupeiras’ há sempre quem não tenha medo, quem aponte o dedo e erga a voz.
Porque afinal a Revolução dos Cravos não serviu apenas para alguns se exibirem em palcos e manifestações ostentando o «grito vermelho» à lapela.

P.S. - Mais uma das minhas crónicas semanais no Diário do Distrito. Quem quiser que enfie o carapuço.

sábado, 27 de setembro de 2014

«Não aceito insinuações»

Esta foi uma frase proferida por Joaquim dos Santos, presidente da Câmara Municipal do Seixal, à intervenção de uma munícipe na última reunião de Câmara.
Completamente de acordo.
Só é pena que este edil não siga aquilo que ele próprio defende.
Já aqui falei no passado nas insinuações que ouvia constantemente nas reuniões camarárias e assembleias municipais, as chamadas «indirectas» à comunicação social, quer nacional, quer local, que demoraram algum tempo a deixar de existir, mercê da sua referência em editoriais assinados por mim, ou nas reportagens que escrevi.
Durante algum tempo, pareceu ter terminado esse tipo de comportamento, que sinceramente não abona a favor de ninguém, mas as acções ficam com quem as pratica.
Com a chegada de um novo presidente da autarquia, quer no cargo quer em idade, pensei que este tipo de situação era coisa do passado, que uma nova forma de actuar e até de lidar com a comunicação social, iria finalmente acontecer.
Engano.
As «bocas» continuam. Desde o «já li coisas as coisas mais disparatadas, verdadeiras pérolas, na comunicação social», ao «tenho de falar com clareza para que a comunicação social não interprete mal o que digo», e até à tentativa de fazer passar por mentira aquilo que foi afirmado por escrito, tenho ouvido de tudo.
E para quem tiver dúvidas sobre estas afirmações do edil, relembro que, como gosta de dizer uma vereadora, tudo isto está gravado. Ou deveria estar.
E apenas afloro a quase total falta de apoio aos meios de comunicação social locais (no caso do meu jornal, sem qualquer inserção publicitária durante vários anos, totalmente direccionada para um certo folheto de campanha mascarado de jornal e já extinto, tal a sua qualidade).
Poder-se-ia afirmar que no caso do Seixal, a sua autarquia considere que não são necessários mais jornais, tendo em conta o dinheiro que a mesma gasta quinzenalmente no seu Boletim Municipal. Poder-se-ia, se esse Boletim realmente transmitisse o que acontece no concelho, o que não é o caso, como vários vereadores da oposição já o disseram, a ultima vez das quais precisamente na reunião que decorreu na quarta-feira, na qual um vereador da oposição fez ver a diferença entre o que o meu jornal reportou e aquilo que o boletim apresentou, sobre a reunião descentralizada anterior, onde foram literalmente omitidas todas as intervenções dos munícipes e dos vereadores da oposição, com destaque unicamente para os eleitos da maioria.
É triste assistir a isto em pleno séc. XXI e quando se celebram quarenta anos sobre o fim da ditadura negra que oprimiu Portugal.
Pior ainda, vindo de pessoas com cargos da máxima responsabilidade e oriundas de um partido que viu morrer e serem torturados tantos dos seus defensores, lutando por essa mesma liberdade de expressão e de imprensa.
Infelizmente na minha longa experiência como jornalista neste meu concelho, de que muito me orgulho, tenho ouvido isto demasiadas vezes. E pelo andar da carruagem, parece que vou continuar a ouvir.
Ou até que a paciência se me esgote.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Parcerias e ‘salsichas’


 Toda a gente já ouviu falar em ‘fontes’, no que ao jornalismo diz respeito. São normalmente pessoas dentro de um determinado meio, que ajudam o jornalista no seu trabalho, quer ao nível da investigação, quer ao nível da informação de que precisa no dia-a-dia.
Existe um filme muito interessante, «Os Homens do Presidente», de 1976, com Dustin Hoffman e Robert Redford, onde este tema das fontes é soberbamente abordado, quando deparam com o «Garganta Funda», a fonte que lhes permitirá investigar o caso Watergate.
Por algum motivo a legislação de muitos países protege o sigilo das fontes do jornalista.
Mas não pense o leitor que essas fontes são sempre homens misteriosos, que se encontram com os jornalistas em parques de estacionamento, e defendem ferozmente a sua identidade.
Por acaso, é precisamente o contrário. As nossas fontes são muitas vezes o vizinho da rua, o comerciante, o amigo ou conhecido, e até os próprios colegas.
Esse é precisamente um dos aspectos que defendo sempre nesta profissão, o respeito e a inter-ajuda que existe entre os verdadeiros jornalistas.
Claro que qualquer um de nós sonha com aquele «furo», aquela reportagem que mais ninguém tem, e se estamos a trabalhar em algo assim, tentamos manter o segredo, porque afinal este é o segredo do negócio.
Onde quero chegar é à interajuda que sempre (ou quase sempre) tenho encontrado neste meio, da troca de uma informação, de uma dica ou até de uma foto necessária num aperto.
E disso nunca tive razão de queixa das pessoas que tenho encontrado.
Ao ponto de até fazer uma parceria entre o «Comércio do Seixal e Sesimbra» e o Diário do Distrito já lá vai cerca de um ano.
Uma parceria discreta, sem as apresentações públicas nem os pavoneamentos, que depois do champanhe bebido e do croquete comido, se revelam ocas e falhas de sentido.
Já a nossa singela e discreta parceria tem resultado em reportagens bastante dinâmicas, informativas e que têm até mudado alguma coisa em certos poderes instituídos e empedernidos.
Não é esse o nosso objectivo, não somos políticos para mudar o mundo, mas quando os políticos que o deviam fazer quer por terem sido eleitos para tal, quer por olharem para o lado nos seus lugares enquanto oposição, então podem crer que a comunicação social estará lá para informar e apontar o dedo.
Que há muitos que não gostam disso? É claro. As ditaduras nunca se deram bem com a comunicação social. Ninguém gosta de ver assuntos que gostariam de saber bem enterrados, a virem à tona, postos preto-no-branco em papel de jornal ou em imagem televisiva.
 Ninguém quer que aquele protocolo ou aquela promessa sejam lembrados vezes sem conta até que seja admitido que tudo não passava de uma falácia ou finalmente se possa fotografar a cerimónia de corte da fita inaugural.
 
Mas existe o reverso da medalha. É que se ao nível dos profissionais nunca tive problemas, já no que aos jornaleiros que por aí pululam, o caso é diferente.
Falo de personagens armados em baronetes do mundo da comunicação social que, não tendo produto comercial à altura dos verdadeiros jornais, procuram por outros meios fazer uma concorrência desleal e até ilegal.
Como, pergunta o leitor?
Criando folhetins como ‘salsichas’, a que chamam jornal, disseminando essas ‘salsichas’ a todo um distrito e usando de técnicas ordinárias para tentar «queimar» o mercado publicitário.
E se a minha área não é a publicidade, é certo que qualquer meio de comunicação social tem de viver desta, pelo menos os que não se dobram à subserviência de donos para terem garantido o subsídiozinho.
Mas quando, mesmo com anúncios grátis oferecidos, não conseguem manter os anunciantes, que depressa compreendem a falta de qualidade da ‘salsicha’, avançam para outra técnica.
Colocam anúncios sem qualquer autorização dos supostos anunciantes, com erros e até com dados incorrectos (indicando novas gerências em negócios que estão há vários anos com a mesma pessoa, abertura de espaços abertos há meses ou determinados serviços que já não são prestados).
E quando confrontados com isso, limitam-se a sacudir a água do capote e a empurrar as culpas para um empregado, um colaborador, quem sabe até o Governo…
Apesar disto tudo, eu sei, e o leitor também, que mesmo o melhor mentiroso do mundo nunca irá conseguir enganar toda a gente, durante o tempo todo.
 
Nota: Mais uma vez, o meu texto desta semana no Diário do Distrito, um tema que tenho a certeza, terá mais desenvolvimentos em breve...

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A verdade da mentira - II


Em Maio deste ano, escrevi para estas linhas virtuais um texto intitulado «A mentira e a ‘perna curta’», onde falava de certos malabaristas que usam a mentira para se manterem à tona e irem enganando algumas pessoas.
Falava também dos outros malabaristas, aqueles que todos os dias vão dizendo que não se aumentam impostos, que o desemprego desce, que não perdemos nenhuns dos direitos alcançados com uma revolução.
Hoje, quatro meses passados, venho falar de outro tipo de mentiras, com as quais nós, os jornalistas, nos deparamos muitas vezes.
E não falo daquelas que são feitas em plena campanha eleitoral, onde se prometem os mundos e os fundos que não se têm e que nunca existirão, mas os quais vão sendo inaugurados como se de obra feita se tratasse.
Falo daqueles que, aos dias de hoje, me obrigam a andar sempre com um aparelhozito de gravação de voz, e a recusar qualquer entrevista, mesmo aquela que à primeira vista parece inócua, sem que o mesmo esteja ligado.
Recordo-me sempre de uma colega de profissão despedida porque aceitou fazer uma entrevista a alguém que naquele dia estava com azia e disse cobras e lagartos dos elementos da instituição que representava, e quando viu as suas palavras ‘preto-no-branco’ no papel de um jornal, deu o dito por não dito. Provas? Nenhumas.
Já me deparei com alguns desses, a quem até tive depois oportunidade de enviar o registo sonoro do que disseram.
Compreende-se que, no calor de uma conversa, por vezes sobre assuntos polémicos e que mudam a vida de pessoas, se digam certas coisas. Mas o entrevistado terá de ter a seriedade de dizer ao jornalista o agora já famoso: «olhe lá que isto é ‘off-the-record’» e cabe-nos a nós profissionais compreender isso e não usar o que ouvimos.
Por muito que nos custe aquele perder esse furo, em Portugal considero que ainda há honradez neste campo.
Longe vão os tempos dos títulos bombásticos de «Independentes», obtidos com conversas ouvidas na mesa ao lado do restaurante, sem que os comensais e conversadores se apercebessem sequer que ao lado estava um “jornalista”…
Da minha parte sempre respeitei todos os entrevistados.
E da mesma forma, exijo respeito para com a minha profissão.
Nunca admitirei que me chamem mentirosa ou ao meio que represento, sobretudo se até em vez de um registo sonoro, tenho um email enviado por quem de direito, apontando para uma determinada data um certo acontecimento.
Todos somos humanos, todos podemos falhar. Quer em recordar algo como um email enviado, quer em cumprir as promessas feitas não apenas em época eleitoral como dirigidas por várias vezes à população.
O que não é digno de um eleito político é tentar fazer passar a comunicação social por mentirosos para ocultar erros e faltas.
Embora a comunicação social até tenha as costas largas, podendo receber por vezes, sem direito a responder, todas e mais algumas acusações (um pouco como o Governo, quando não interessa dar a cara pelas faltas), não é por isso que temos de aceitar todas as acusações, vindas elas de quem venham.
Uma mentira repetida muitas vezes e em público, não se torna verdade nem altera a realidade.
Por muito que se tente.

Nota: mais uma vez, este é o texto da minha crónica no Diário do Distrito.
Nessa não referi o caso específico que me levou a escrever estas linhas, mas faço-o aqui neste meu cantinho.
A origem deste texto tem a ver com a postura do presidente da Câmara Municipal do Seixal, Joaquim dos Santos, na reunião camarária de 11 de Setembro, na qual lançou várias indirectas à comunicação social, dando a entender que tinha de falar muito claramente para evitar que os jornais inventassem mentiras sobre datas de supostas inaugurações ou de obras a realizar.
E no momento mais quente da noite, quando interrogado porque é que as obras do Estádio do Bravo, acordadas no protocolo com o SLBenfica, ainda não tinham arrancado, eis que o máximo representante da autarquia do Seixal responde com um: «Eu nunca disse que as obras arrancavam em Setembro». Ali na hora confrontei-o com o facto de me ter até enviado um email, mas ao seu estilo fez de conta que não me ouvia, continuando o seu discurso.
Ora acontece que em Junho deste ano, ao meu jornal foi enviado um email onde era dito, em nome da Câmara Municipal do Seixal, que as ditas obras começavam em Setembro. Ali, preto no branco.
Realmente ninguém assinou o email, e o mesmo foi enviado pelo Gabinete de Imprensa.
Virá agora o presidente da Câmara Municipal dizer que nada teve a ver com o assunto?
Então quem terá dado o aval para o dito email ter seguido? E se era falso, porque é que a mesma pessoa não solicitou um desmentido ao jornal após a publicação da notícia em Junho?
Demasiadas interrogações num processo com cerca de catorze anos, e muito pouca transparência.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Gregos e troianos

Esta semana, a propósito de um artigo que o Diário do Distrito publicou e partilhou com o Comércio do Seixal e Sesimbra, e das reacções que o mesmo provocou, ocorreu-me escrever estas notas.
Creio que já o disse aqui que, sobretudo desde que trabalho na imprensa regional, que a acusação mais recorrente que ouço é dizerem que este ou aquele jornal está vendido ou ao serviço deste ou daquele partido político ou desta ou daquele interesse empresarial.
E reparem que uso o termo «acusação» e não «critica», isto porque se a segunda pode ser construtiva e servir até para mudarmos determinadas coisas, a primeira não passa de uma atitude cobarde de quem não gosta de ver as suas fés inabaláveis atingidas.
Nos anos que levo de «Comércio» ouvi essa acusação variadíssimas vezes, algumas delas até ditas por quem devia preocupar-se mais com os problemas do concelho, até pelo lugar para o qual foi eleito, do que perder precioso tempo de antena para guerrilhas políticas.
Provas dessas acusações? Viste-las…
É esta uma prática recorrente de quem não gosta do que lê, de quem vê os alicerces nos quais alicerçou as suas atitudes e os seus ideais, serem «abanados» pela verdade dos factos.
Não se gosta do que se leu, não se concorda, e então parte-se para a «acusação» ali mais à mão.  
Todo o trabalho que foi feito ao longo de anos, o esforço das pessoas por detrás deste ou daquele projecto, muitas vezes às suas custas e da sua vida pessoal, não interessa, se o que está preto no branco não bate com a fantasista realidade criada.
O que interessa, o que se quer ver, é a realidade bonitinha, ao bom estilo de um boletim paroquial, sem mexer águas nem remexer lodos.
Repito, qualquer leitor tem o direito de fazer críticas ao trabalho dos jornalistas.
Não somos infalíveis porque ninguém o é, e mente quem disser o contrário. E da minha parte, embora por vezes me custe engolir, aceito e tento aprender com cada crítica que me dirigem.
Agora «acusações» sem quaisquer provas, usadas apenas no mesquinho intento de rebaixar e humilhar, não as admito.
São a arma dos cobardes.
Interessante, mas também uma das características do ser humano, é que a mesma verdade que é importuna para uns, será em qualquer outro lugar elogiada e até partilhada em grupos nas redes sociais.
Já lá dizia o ditado que não podemos agradar a gregos e a troianos ao mesmo tempo.
E cada um puxará sempre a brasa à sua sardinha.
Mas o que não admito nem admitirei nunca é que me usem como assador.

 Uma nota final, que nada tem a ver com esta questão, mas que não queria deixar passar. Partiu uma grande guerreira que teve o enorme condão de por momentos unir Portugal à dor de uns pais que perderam a sua menina.
Por ela, e por todas as crianças que todos os dias lutam pelas suas vidas, queria deixar um enorme abraço de amizade a quem enfrenta uma das dores mais violentas que se possam sentir: a impotência perante a doença de um filho.
Um grande bem-hajam e muita coragem.

P.S - Mais uma crónica minha no Diário do Distrito.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

E se de repente lhe fizerem uma penhora?


Imagine que está na praia, a gozar as suas férias, ou num rotineiro dia de trabalho e vai fazer algo que milhares de portugueses fazem todos os dias: dirigir-se a uma caixa multibanco para levantar dinheiro.
E recebe de volta a mensagem que não pode fazê-lo.
Imagina que se enganou no código, que há algo errado com aquela máquina, ou que o cartão está estragado, não é? Depois de tentar tudo o que se lembra, liga em desespero para o seu banco, se ainda estiver em horário de atendimento, ou passa uma noite de angústia até chegar a hora de abrir novamente.
Aí recebe a informação de que a sua conta está penhorada.
«Penhorada!?!?!?»

Caro leitor que lê neste momento estas linhas aconselho-o a não pensar que isto é uma fantasia ou que apenas acontece aos outros
Pode perfeitamente acontecer-lhe a si. E sem que tenha nunca deixado de pagar uma conta, um imposto ou uma multa. E sem receber qualquer aviso por parte do tribunal.
Como? perguntará incrédulo.
Vou esclarecê-lo, através de três exemplos, e pasme-se, todos eles têm a ver com algo com o qual também não podemos viver nos dias de hoje: as empresas de telecomunicações.
E todos eles reais e passados em Portugal e alguns vividos pessoalmente pela que agora lhe dirige estas palavras.

Exemplo n.º 1
Há uns aninhos atrás, um indíviduo encontrou o seu emprego de sonho: vender os serviços destas empresas de telecomunicações.
Depressa compreendeu que só com as vendas que fazia nunca iria ser rico e, inteligente, percebeu que a ganância em obter clientes por parte das empresas que vendiam tais produtos era de tal ordem, que bastava apresentar documentos com um nome verdadeiro, e falsificar tudo o resto, para conseguir receber as suas comissões. Se bem o pensou, mais depressa o fez, e por portas travessas conseguiu obter uma listagem de milhares de nomes completos verdadeiros.
Depois foi só preencher os papéis usado da imaginação para inventar filiações, moradas e contactos, e entregar tudo direitinho às várias empresas, num curto espaço de tempo.
Na sua ânsia por clientes, as tais empresas nem se davam ao trabalho de verificar com o cliente/vítima a veracidade do contrato ou dos dados.
Resultado, várias centenas de portugueses passaram a ser «clientes» de serviços dos quais nunca tinham ouvido falar. E quando não os pagaram, passaram a ser alvo de avisos de advogados e agentes e execução, coimas e penhoras, para as tais moradas que o espertinho inventou.
Desconhecedores disso, nunca reclamaram até ao momento em que viram as suas contas bancárias penhoradas. Porque para isso, já houve formas de encontrar os verdadeiros dados das vítimas.
E rebentou o escândalo. Policia Judiciária, advogados e outras entidades ao barulho, o espertinho foi descoberto e viu apreendidos os computadores e documentos com, supunham as autoridades, as provas de que necessitavam para manter atrás das grades o espertinho.
Mas como a Justiça tem destas coisas, eis que o espertinho foi sujeito ao agora famoso «termo de identidade e residência, com apresentações periódicas»…
Como devem calcular, o já de si muito cumpridor cidadão cumpriu escrupulosamente esta medida de coação… saindo do país o mais rapidamente possível.
Por cá foram ficando as autoridades, obrigadas a avisar todas as pessoas que constavam nas listas, mas sem a ajuda das tais empresas de telecomunicações, que segundo informação que tenho, se recusaram sempre a apresentar os tais «contratos-fantasma» ou a qualquer outro tipo de colaboração com as autoridades.
As vítimas, essas viram-se e desejaram-se para repor a legalidade das suas situações, com a ajuda das autoridades.
Admirado? Garanto-lhe que ainda está mais para vir.

Exemplo n.º 2
Imagine que há coisa de uns anitos foi cliente de uma dessas empresas de telecomunicações de que falei atrás. Mas por qualquer motivo decidiu, após o período de fidelização a que fica obrigado, terminar esse contrato. Passados também alguns anos, no intuito de se livrar de papelada em casa, deita fora as facturas e demais documentos relativos a esse contrato.
E eis senão quando lhe começam a chover avisos de advogados e de agentes de execução com ameaças de penhora, com multas e coimas e valores astronómicos de custas porque, segundo estes, não pagou as facturas.
E aqui os argumentos dessas empresas são hilariantes, sendo que alguns ainda remetem ao tempo em que a pessoa era cliente, mas outros apresentam facturação supostamente usufruída por serviços prestados anos depois de deixar de ser cliente.
Não acredita? Aconselho uma visita ao site www.queixas.com nas secções Internet Móvel e Fixa e Comunicações Móveis e Fixas. Mas guarde umas horas valentes para ler com atenção os casos que o deixarão literalmente de boca aberta. Sobretudo os que dizem respeito à Optimus Sonaecom, agora NOS.
Cobrança de serviços não subscritos, facturação de serviços que nunca foram prestados ou facturados anos depois, tem de tudo para se entreter. E pode ser que o ajude na próxima vez que receber um telefonema a propor-lhe um serviço de telecomunicações com massagista incluído…
Ah, e saiba que essas penhoras feitas por um certo gabinete jurídico de Ana Buco e Armando Rudolfo Silva, passam pelo tribunal mas não carecem de autorização deste, e por isso, não irá receber absolutamente nenhuma informação sobre o assunto.

Exemplo n.º 3

Agora imagine que depois de ter passado por uma ou algumas destas situações, ter gasto dinheiro em cartas registadas com avisos de recepção e em advogados, ter perdido horas de trabalho e de sono para tentar resolver algo do qual julgava estar protegido, depois de queixas para entidades como a DECO (que apenas auxilia os sócios) ou ANACOM (cuja resposta é sempre que não pode fazer nada), eis senão quando o seu advogado (porque desiluda-se, assim que cair nesta teia, só conseguirá ter alguma esperança de se safar com a ajuda oficiosa), depois de uma luta acesa, consegue levar os representantes legais das tais empresas de telecomunicações, a anular o processo.
Respira fundo, arruma o dossier com mais de dois quilos de papel com as cópias das cartas e emails trocados e recebidos, e confia que tudo está resolvido.
Engano.
Mais de nove meses depois de dar o assunto por arrumado, quando está a gozar as suas férias, vai tentar levantar dinheiro e, Surpresa! Conta penhorada por reabertura do processo no tribunal.
Espantoso, dirá o leitor. Sim, mas real, acredite em mim.
E, claro, isto não fica por aqui. Após ter sido detectado pelo gabinete de advogados da tal empresa de telecomunicações que afinal ocorreu um erro (?!?!?!?!!?!?), e sendo avisada a agente de execução Armanda Magalhães, esta continua a achar que vinte dias depois de ter recebido a ordem para anular a penhora, ainda vai muito a tempo, e avança com a penhora da conta da vítima, deixando-a a zeros.
Claro que de imediato se tenta contactar a dita, e aí mais uma aventura que seria hilariante se não fosse o seu estado de desespero. É que a senhora agente de execução apresenta publicamente a sua sede em várias moradas dividas entre Matosinhos e Viana do Castelo, e tem um número de telefone inactivo.
Valha-nos aqui a delegação da Câmara dos Solicitadores do Norte, que lá conseguiram arranjar o número da senhora.
Confrontada com a situação, a resposta de alguém que responde à chamada é ainda mais risível: «que sim, que houve um erro, mas que só devolverá o dinheiro quando o tiver para devolver…»
Para que não fique em suspense, informo o leitor que a situação foi resolvida em três dias.
Depois de queixas para todas as entidades possíveis.

Ainda se sente confiante de que o que descrevi no início nunca irá acontecer consigo?
Bom regresso de férias.

P.S. - Crónica publicada no Diário do Distrito.

sábado, 9 de agosto de 2014

Uma verdadeira tourada





Esta coisa das férias em dias que não têm Sol suficiente para uma viagem até à praia, dá-nos tempo para muita coisa.
Uma delas é o facebook, no qual confesso que estou viciada. Adoro conversar com amigos, partilhar vídeos e sobretudo apelos para ajudarem os animais.
E há algo que também me dá muito gozo, o participar em fóruns de discussão sobre as touradas.
Sou contra estas, digo-o desde já.
Mas não venho hoje aqui para esgrimir argumentos sobre o assunto, antes fazer uma reflexão sobre isto.
Esqueçam a guerra política entre a esquerda e a direita, os direitos das crianças, os disparates dos sucessivos governos, o caos dos bancos.
A luta pró e anti tourada é a que mais mexe com os portugueses, porque mesmo aqueles que mantêm uma postura «não gosto, mas não critico», aparecem para colocar precisamente esse mesmo comentário.
Em qualquer local da internet, seja uma noticia, um artigo de opinião, um fórum de discussão, reparem qual é o tema que gera maior número de comentários.
A tourada.
Sempre e sempre a tourada.
Por isso, considero este o tema mais fracturante da nossa sociedade.
Basta ver o que aconteceu com a votação da legislação para a criminalização dos maus tratos a animais, e mais não digo. E basta ver também as situações em que praticamente se chega a vias de facto durante protestos anti-tourada, alguns deles até defendidos pelas forças policiais e pela tal Justiça à portuguesa.
Disse que a guerra politica tem menos adeptos, mas neste tema não deixa de ser abordada, com a facção pró a acusar os antis de serem extremistas de esquerda e os antis/animalistas a acusarem a afición de fascistas.
Também não vou falar sobre o tipo de comentários, porque ambos os lados usam muitas vezes os insultos para fazerem valer as suas ideias, bem como ameaças vãs, embora em alguns casos, as mesmas devessem ser alvo de uma investigação policial, porque a internet não deveria ser o meio usado por cobardes para ameaçarem outros impunemente.
Discutir o tema torna-se por vezes exasperante, quer porque os argumentos de ambas as partes estão mais do que estafados, sendo porque é simplesmente algo em que nenhuma das partes cede um ponto que seja.
Um dia, num futuro próximo, creio que este será um tema muito interessante para sociólogos, antropólogos e outros logos, mas por enquanto, vou esgrimindo os meus argumentos pelo mundo do facebook.
E reflectindo sobre o que verdadeiramente faz girar o mundo.

domingo, 27 de julho de 2014

Novas ‘esperanças’

Mais uma vez, publico aqui uma das minhas crónicas do Diário do Distrito.
Não, ainda não desisti de ir usando este espaço para os meus desabafos, mas por vezes o tempo, a vontade, e pronto, admito, o facebook, não deixam espaço para, perdoem-me a redundância, este espaço.
Portanto cá fica mais um dos meus textos, desta feita dedicado aos jovens que se iniciam nesta que para mim é a melhor e a pior das profissões.
 
Tenho falado neste cantinho de algumas pessoas com quem me cruzei nesta vida cigana de jornalista, sobretudo dos profissionais, e mais ainda dos pseudo-profissionais.
Mas há também os «miúdos» como são conhecidos, jovens na sua maioria que terminaram os cursos de jornalismo e procuram um lugar na profissão que tanto desejam (ou que pensam gostar).
Uma das coisas que sempre gostei foi de trabalhar com estagiários, os «miúdos».
Primeiro, porque gosto de ensinar, gosto de passar dicas e algumas (muitas) das minhas histórias. Mas, sobretudo, gosto de ver a evolução e o nascer de um novo jornalista, o interesse crescente por uma área que, muitas vezes, se prova ser totalmente diferente do que esperavam.
Muitas das vezes bastam apenas alguns dias para conseguir detectar se aquele estagiário pode vir ou não a ser um bom jornalista. E também nunca deixei de o dizer a um ou outro que trabalhou comigo, e que procurou esta profissão porque achava que era interessante dizer aos amigos que estava a estudar Jornalismo, ou porque os amigos até lhe diziam que escrevia umas poesias engraçadas.
Jornalismo não é uma profissão de horários nem para fracos, é uma profissão que exige tudo de nós, e raramente nos dá algumas daquelas coisas que muita gente procura: a fama e o sucesso.
Posso mesmo dizer que, antes pelo contrário, a maior parte das vezes apenas nos cria inimigos, nos afasta da família e até leva a que nos apontem como párias.
E também é preciso saber lidar com isso. Como é preciso saber lidar com pessoas nas entrevistas, lidar com situações de stress ou até saber como estar num jantar ou almoço de trabalho.
É isso que tento incutir nos tais «miúdos» que comigo têm trabalhado, acima de tudo porque são raríssimos os cursos universitários que tocam sequer ao de leve todos estes temas.
E por isso não posso deixar de apontar o dedo para alguns cursos que vão abrindo nas Universidades e que atraem esses jovens, e sobretudo o dinheiro dos pais, para cursos que de jornalismo só têm o nome.
Sim, alguns até poderão ter alguns bons professores a dar uma ou duas cadeiras realmente úteis, mas levarem quatro anos a estudar Roland Barthes, Auguste Comte e outros, pode ser muito interessante, mas não se aplica ao dia-a-dia numa redacção, onde o que realmente interessa é o «onde, quando e porquê».
Recentemente trabalhei com um estagiário que estava ainda a tirar o curso e qual não foi o meu espanto quando ele me disse que o trabalho final seria a elaboração de uma entrevista. Claro que quando terminou o curso, já tinha feito comigo e sozinho, várias entrevistas e, após isso, achou também um pouco ridículo o tal trabalho final.
Claro que nem todos os alunos de jornalismo podem aspirar a trabalhar num jornal ou televisão durante o curso e também não se pode esperar que no final de uma licenciatura em jornalismo, um aluno saiba fazer um jornal inteiramente sozinho.
Mas que o trabalho final de quatro anos de estudos se limite a uma entrevista?
Sobre este assunto, toco ainda nos jornalinhos (locais e nacionais), bem como televisões, que adoram trabalhar com esta mão-de-obra barata e por vezes praticamente à borla, apesar das alterações legislativas e dos apoios que os sucessivos Governos gostam de prometer.
Quando digo trabalhar, é enfiar um microfone ou um gravador nas mãos e mandar fazer a notícia ou a reportagem. Que nesses casos raramente sai alguma coisa de jeito, mas o que interessa muitas vezes são as gordas que se colocam nas capas, mesmo que depois o conteúdo nada tenha a ver, ou seja uma tal salganhada que nos leva a desistir de ler.
Antigamente, muitos estagiários entravam para grandes órgãos de comunicação social e ficava largos dias a servir cafés ou a tirar fotocópias, apanhando umas migalhas de informação pelos intervalos, mas agora, esses mesmos órgãos optam por aproveitar essa mão-de-obra barata para realizar o trabalho dos jornalistas profissionais, mesmo que mal saibam compor uma notícia. E por isso temos muita informação que, ‘espremida’ não vale o papel em que foi impressa. Não por culpa de quem a escreveu, mas por culpa de quem acha que para um jornal qualquer junção de palavras basta. E se for feita gratuitamente, melhor ainda.

sábado, 28 de junho de 2014

Quando o jornalismo é notícia


Uma das regras que aprendemos no jornalismo é que a notícia não é cão que mordeu o homem, mas o homem que mordeu o cão (se bem que, infelizmente, e nos últimos tempos, esta regra já não se aplica tanto).
Isto porque o vulgar não vende jornais. O insólito, o fora do comum e até o horror é que atraem público.
Mas insólito mesmo é quando os jornalistas ou jornais passam a ser eles a fonte da notícia.
Já temos visto isso, como aconteceu com o «News of the World», o jornal dominical mais vendido da Grã-Bretanha, que acabou por encerrar, devido ao escândalo das escutas telefónicas e fez as paragonas de jornais e telejornais em todo o mundo.
Por cá há também vão ocorrendo alguns «casos» em que os jornalistas passam a notícia. Relembro aqui aquela famosa história do deputado Ricardo Rodrigues, que durante uma entrevista, “subtraiu” os gravadores dos jornalistas, fazendo o caso a capa de vários jornais.
Temos também o ministro José Relvas e as suas ameaças telefónicas a uma jornalista de um diário alegadamente (e tomem notem do termo, um dos mais utilizados nestas lides, para evitar a quem escreve ou lê notícias, ter de ir responder a tribunal por determinadas afirmações) para evitar que certa notícia visse a luz do dia.
Tal acto foi classificado como «inaceitável» pela direcção do jornal «Público», deu azo a um comunicado do Conselho de Redacção do jornal, onde esta pressão foi tornada pública e, claro, fez mais capas de jornais.
A nível local, não são poucas as vezes que os jornais fazem notícia de outros ou até de si próprios, sobretudo quando alguns tentam fazer passar por notícias as mentiras que iam inventando, histórias que se calhar um dia trarei a esta crónica.
Também eu, e devido a algumas acusações feitas publicamente por quem devia preocupar-se mais com questões concelhias do que com quem pensavam ser proprietário do meu jornal, tive de não poucas vezes, passar de mera jornalista observadora a ter de intervir da forma que podia, ou seja, tornando em notícia essa situação.
Noutras até me diverti bastante, como por exemplo fazer a reportagem de quando uma simples gralha do meu jornal foi discutida numa Assembleia Municipal.
Também já me deparei com quem dedicasse o seu tempo a analisar o espaço que fulano ou sicrano, deste ou daquele partido, ocupava num jornal, a ponto de até indicar o número de linhas onde era referido.
Este facto passou-se durante as eleições autárquicas de 2009, por uma anónima personagem blogosférica, de quem Alfredo Monteiro, anterior presidente da Câmara Municipal do Seixal, muito acertadamente disse: «quem não dá a cara pelo que diz, só pode ser julgado como cobarde».
E eis que chegamos ao cerne deste meu texto, de como ainda hoje me espanto com algumas coisas a que assisto, a merecerem as «gordas» em qualquer jornal ou serviço noticioso.
É que ver quem tem responsabilidades políticas, mesmo como independente, usar do seu precioso tempo e o dos outros, para publicamente e em local onde devia sobretudo ser discutido o concelho, fazer referência ao espaço ocupado por este ou por aquele interveniente numa determinada reportagem publicada num diário regional, é no mínimo ridículo.
Pior do que isso, é a falta de educação com os termos utilizados, entre eles falta de isenção e tendenciosismo, se calhar só pela gracinha de que os mesmos fiquem em acta, mas sobejamente repugnantes por si mesmos e por serem dirigidos a quem até se encontrava em serviço no local e não podia intervir.
Não foi uma referência ao meu jornal, até porque este «interveniente» já no passado tentou fazer algo semelhante, questionando o edil camarário sobre o motivo pelo qual o meu jornal apresentava na capa um determinado vereador. Também na ocasião, Alfredo Monteiro respondeu que nada tinha que ver ele ou o executivo com um jornal independente, do qual a directora se encontrava na sala, e por isso podia ser interrogada directamente.
Foi uma «brincadeira» que lhe saiu muito cara, da qual se arrependeu amargamente.
E que deu também azo a uma notícia.
Existe algo que, apesar das guerras que possam existir ao nível das empresas editoras dos jornais, se chama lealdade entre colegas.
É algo que alguns fingem desconhecer, mas que me orgulho, bem como a maioria dos profissionais que conheço, de fazer questão em honrar.
Daí o meu repúdio por intervenções deste género, precisamente num ano em que se comemoram os quarenta anos do 25 de Abril, e sobretudo o direito à liberdade de imprensa.
Verdade é que nem sempre podemos agradar a gregos e a troianos, mas o respeito é muito bonito e é algo que cada profissional tem o direito de exigir a um munícipe, um vereador ou até a um presidente.

Nota de rodapé: Esta foi mais uma das minhas crónicas no Diário do Distrito. Lamento é que tenha sido sobre este tema, a intervenção de um vereador, Luís Cordeiro, eleito independente pelo Bloco Esquerda, na reunião camarária. E refiro o nome porque quem o disse, fê-lo publicamente, e sabe também que tais declarações ficam (ou deviam ficar) em acta.

domingo, 22 de junho de 2014

Um breve regresso ao passado


Dos meus lemas de vida, tenho um que se tem mantido durante estes quarenta anos. «Não esqueço, nem perdoo».
E gosto particularmente deste, porque todos os dias lido com muitas pessoas e algumas acham que o passar do tempo é semelhante a uma esponja que se pode passar sobre o passado e sobre coisas que foram ditas ou escritas.
Não no meu caso. Garanto que se por vezes mostro os dentes num sorriso, os que mais sobressaem são os caninos…
E vem isto a propósito de uma viagem que tenho andado a fazer ao passado, mais propriamente ao passado blogosférico cá do burgo.
E o que me tenho rido!!!!
Desde os ataques mais ou menos velados vindo de “ilustres anónimos” à minha pessoa e ao meu jornal, até verdadeiras guerras ideológicas onde, pasme-se, a minha pessoa e o meu jornal são chamados à liça.
Realmente, foram bons velhos tempos, aqueles em que tanta gente andava em brasas só de ouvir o nome «Comércio».
Não significa isto que hoje também não continuem a estremecer uns coraçõezinhos quando se aproxima a sexta-feira. Claro que não. Mas se calhar, também por uma questão de crescimento pessoal, as coisas já não são exactamente iguais.
Por outro lado, o nosso sucesso e a queda dos ‘protegidos’, teve também como consequência que muitos desses valentões (ao abrigo do anonimato e de um computador) não tivessem outro remédio senão meterem as respectivas violas no saco e desaparecerem no imenso mundo internáutico.
Confesso que por vezes fico nostálgica e com algumas saudades de responder à letra a crises histéricas ou a comentários tão, mas tão estúpidos, que até mereciam uma entrada directa no Guiness.
É verdade, sinto alguma nostalgia de cada vez que toca o telemóvel não ser alguém a dizer: «olhe que estão outra vez sob ataque em tal blogue» ou «Vê lá que agora já dizem que o teu jornal tem um novo dono, só porque viram o padre David sair da vossa redacção».
Tinham piada esses dias. As gargalhadas que soltávamos ao ler os tais comentariozinhos, na maior parte das vezes num português arrazoado, de uma escrita espumante de raiva, de quem não tem mais forma nenhuma de tentar calar o que não pode ser calado.
E os argumentos usados, a roçar o Pidesco, em que só ficávamos espantadas por não dizerem a cor das roupas que usávamos em determinada ocasião.
Aqui fica apenas um pequeno exemplo do prurido comichoso que causávamos:
http://a-sul.blogspot.pt/2009/03/sucedanios-2-gestacao-de-um-comentador.html



E havia ainda uma certa ave pernalta, que durante uns valentes meses, bem nutrida de dinheiros públicos e informações privadas, andou por aí, até ser assassinada por aqueles que alegava defender (risos) numa fatídica reunião camarária de 13 de Janeiro de 2011.
Essa coisita usava os recursos disponíveis para fazer montagens com os candidatos às autárquicas de 2009, bem como de todos os que os patrões lhe indicavam para tentar também calar, com calúnia reles e recorrendo à mentira quando não conseguia factos verdadeiros.
Também foi muito engraçado tempo que esta personagem durou, pela diversão que me proporcionou até em conversas particulares e mensagens para o meu blogue.
Claro que como tudo o que é falso, não durou muito tempo… e nunca, mas mesmo nunca, chegou a responder ao meu repto para se encontrar comigo, mesmo quando me exigia que lhe pedisses desculpas (AHAHHAHHAHAHAH) por algo que o tinha ofendido na sua honra.

Infelizmente, não posso aqui partilhar algumas dessas montagens flamingas porque, como cobardes que eram, ao chegarem as eleições autárquicas de 2013, apagaram o tal blogue que mantinham, tentando renascer quais virgens imaculadas.
Há cerca de um anito, tentaram voltar a pôr a cabecita de fora novamente, desta feita no Facebook, mas não sobreviveram durante muito tempo…
É que aqui é difícil manter o tal anonimato que tanto jeito faz aos cobardes.
Mas considerações à parte, é verdade que sinto um pouco falta destes divertimentos.
No entanto, e graças aos céus, verdadeiras lutas é algo que não me falta no dia-a-dia, com as quais alcançamos as verdadeiras conquistas.
E se também não me faltam motivos para rir, é verdade que sabe sempre bem uma volta pelos clássicos.

 

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Jornalistas e jornaleiros

No outro dia encontrei uma pessoa que não via vai fazer dezasseis anos. Foi a primeira jornalista com quem trabalhei, logo que iniciei esta vida de cigana (em termos laborais) do jornalismo.
Isto fez-me reflectir sobre os quase dezasseis anos em que já ando nisto e de tudo o que tenho encontrado.
Infelizmente, o mundo do jornalismo está dominado por pessoas que não percebem o mínimo do que quer dizer isenção e ética jornalística.

Durante esta década e meia de trabalho, deparei-me com um pouco de tudo, mas um género prevaleceu: o do endinheirado (ou nem por isso) que quer fundar um jornal ou revista, mesmo que nunca na vida tenha escrito sequer uma carta comercial.
Em Portugal, nada mais fácil.
Arranja-se um ou dois jornalistas, a recibos verdes, contrata-se um ou dois comerciais com o isco de ganhar boas comissões, escolhe-se um tema para a revista ou uma zona específica para abrir um jornal e, zás, eis uma empresa jornalística.
O problema é que esta vive da publicidade, e nem sempre a mesma existe ou aceita realizar inserções em revistas/jornais que ninguém conhece.
Aí, nada mais simples: despedem-se os jornalistas, independentemente dos anos que ali estejam, arranjam-se mais uns estagiários em urgente necessidade de iniciarem o seu percurso profissional, e contratam-se mais uns quantos comerciais com o mesmo engodo.
A veracidade e qualidade do conteúdo publicado não vem ao caso, interessa é que o suposto administrador possa dizer aos amigos que até dirige uma empresa jornalística.

Mas este é apenas um lado da questão.
Depois há os pseudo-jornalistas, muitos deles até com carteira profissional.
Isto acontece muito ao nível regional. Mas de certo modo até o considero meritório em certos locais onde a população tem apenas nestes órgãos locais o meio de conhecer o que acontece nas suas terras. Muitos desses jornalistas são pessoas sem formação específica na área, mas que o gosto pela escrita leva a fundarem os seus pequenos jornais. E na maior parte das vezes arrumam a um canto muitos licenciados em comunicação social.
O problema é quando de jornalistas passam também a políticos e regem estes órgãos como um meio para ganhar visibilidade política ou conseguirem favores especiais.

E como esse tipo de atitude agrada sobremaneira aos partidos políticos, quer estejam no poder ou na oposição, sempre vão caindo umas migalhitas de subsídios, publicidade institucional ou até, pasme-se, em ajustes directos autárquicos, desde que se vá escrevendo sempre aquilo para o quê se recebe.
E como a vergonha na cara de certos senhores é nenhuma, ei-los que, mesmo depois de perderem a tal carteira profissional (mercê das sucessivas queixas de que foram alvo) e verem o título jornalístico que dirigiam anulado por não cumprirem com as mais básicas regras legislativas da comunicação social, não deixam mesmo assim de assomar as feias cabeças.
Para tanto, basta fingirem que o tal jornal ainda é editado, criar uma falsa capa com supostas reportagens e voilá, usar as redes sociais ao seu dispor para fazer um brilharete com nada, até chegando a enganar quem ainda nele acredita.
Quem lê estas minhas linhas pode achar que estou a falar de forma despeitada, mas não. Garanto que até admiro pessoas assim, que tendo sempre vivido à margem da lei, conseguem continuar a fazer de conta que são muito honestos, continuam a viver calma e regaladamente as suas vidas, e ainda gozam com quem não dorme à noite porque tem uma conta para pagar e luta todos os dias para apresentar-se aos outros de cara limpa.
É que em terra de cegos, quem tem um olho é rei.

 P.S. - Crónica desta semana no Diário do Distrito

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Hoje faço anos




É verdade, é uma realidade que calha a todos e todos os anos.
O que vai mudando é a nossa vontade e capacidade de festejar.
Quando tinha menos de dez anos este dia era sempre especialíssimo, com os lacinhos folhados comprados na pastelaria Signos, onde mais tarde viria a trabalhar também, com o jantar de frango assado no forno, que enchia a casa de um cheiro saborosíssimo e o inevitável bolo de aniversário, sempre de doce de ovos porque nunca gostei de chocolate, e com a família em redor da mesa e a tarde passada com os amiguinhos da escola.
Foi também na escola primária, mais propriamente no primeiro dia de aulas com a Professora Amélia Lopes, a quem estimo imenso e que nas voltas da vida voltei a encontrar há uns tempos atrás, que fiquei a saber que este dia «era muito feio».
Criança ainda, não fazia ideia das implicações políticas que o «meu» dia de anos tinha para o país. Mais tarde, e porque sempre gostei de saber um pouco de tudo, investiguei e fiquei a saber o significado do 28 de Maio para Portugal.
Os anos foram passando e as celebrações sucederam-se. Umas mais alegres que outras, a maior parte sempre com colegas de trabalho, porque nunca tirei dia de férias pelo aniversário.
O primeiro que recordo a trabalhar foi precisamente na pastelaria Signos de que já falei, ao completar 17 anos. A timidez natural aliada à da idade, quase nem conseguia encarar as minhas colegas quando me ofereceram um conjunto de chávenas de café, que ainda hoje guardo religiosamente na minha casa.
Depois outros, que se apagaram na memória, outros que ficaram, como quando trabalhava numa revista de ambiente e detestava de tal forma as minhas colegas que nem disse nada. O pior foi à hora de almoço, quando o telefone não parava de tocar e eu tentava disfarçar o assunto.
Outro que me recordo foi quando comprei a minha casa, e os colegas e patrões da Comunicar me ofereceram um serviço completo de jantar.
Mais um do baú das recordações: um ano em que tinham-me roubado o carro, que era da minha colega Lena, mas que eu levava para casa. Os nervos que passei durante dez dias em que andei em busca do carro, até que o encontrei na Quinta da Princesa. Durante esse tempo, o meu aniversário, celebrado com festa mas com muita amargura. Ainda hoje, quando chega esta altura do ano, não deixo de sentir um frio do estomago ao lembrar o que passei.
Nunca gostei de festejar em discotecas ou afins. Jantares sim, em casa ou com amigos quando havia dinheiro para isso ou nos tempos mais apertados, uma ida até à praia à noite para «partir» o bolo.
Agora sinceramente quase que deixo passar em branco a data. Não fossem os votos de felicitações dos meus amigos no Facebook e o Google e, à semelhança do que já me aconteceu algumas vezes, esquecia-me por completo que era dia de aniversário.
O que importa mesmo é como nos sentimos por dentro e não a idade que o BI, neste caso o cartão de cidadão, diz que temos. E essa, tenho a certeza, ainda não passou dos vinte anos.